Ensino de Libras é recurso que garante a educação inclusiva
Tendo o português como primeira língua oficial, o Brasil também reconhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como língua das comunidades surdas brasileiras desde 2002. Mesmo antes da oficialização, a Libras já era falada no Brasil, desde o século 19. Este ano, ao ter como tema Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil, a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) levou a sociedade a refletir sobre a realidade das pessoas com surdez.
Detentora de características próprias e reconhecida em todos os aspectos linguísticos, como morfologia, sintaxe e pragmática, a Libras se diferencia do português na medida em que se apresenta na modalidade visuoespacial, ou seja, composta por um conjunto de movimentos e expressões captados pela visão.
“Os surdos falam a língua de sinais, que é uma língua espaço-visual ou visuoespacial e, paralelamente, aprendem a escrita do português”, explica a coordenadora-geral de Articulação da Política de Inclusão dos Sistemas de Ensino do MEC, Linair Moura Barros Martins. Ela cita Sueli Fernandes, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) especializada em educação bilíngue para surdos e autora de vários artigos sobre o tema: “Para os surdos, o português é aquilo que eles podem ver, uma vez que não têm acesso às propriedades sonoras.”
A língua de sinais não é universal, já que cada comunidade tem seu idioma. No caso do Brasil, a Libras deriva da Língua de Sinais Francesa (LSF), trazida ao país por um professor francês que, em 1857, participou da fundação da primeira escola brasileira para surdos do país. Com o tempo, houve a adaptação e fusão da língua francesa com sinais já utilizados informalmente pelos brasileiros.
“É importante que a sociedade discuta esse tema, para que seja cada vez mais inclusiva e possa compreender e construir espaços sociais para os surdos ocuparem”, pontua Linair Martins. “As pessoas com deficiência têm um canal diferente de ver o mundo, mas tão importante e singular que só contribui para a valorização da diversidade humana.”
Linair defende que os surdos tenham mais espaço: “O fato de a maioria da população brasileira não falar a língua de sinais é um desafio, mas é um desafio permanente que irá ocorrer com todas as minorias. Essa é uma língua que tem uma comunidade de falantes minoritária, mas é nessa língua que os surdos se comunicam com o mundo e constroem conhecimento sobre ele. Então, deve ser muito respeitada e priorizada na educação”.
Atualidade – Números do Censo Escolar de 2016 registram que o Brasil possui, na educação básica, 21.987 estudantes surdos, 32.121 com deficiência auditiva e 328 alunos com surdocegueira. Dentro do princípio da inclusão como preceito do sistema educacional brasileiro, o MEC trabalha para garantir uma série de recursos que contemplem essa parcela da população.
“O aluno tem seu direito garantido à matrícula e o apoio vem com o intérprete educacional, a sala de recursos, o ensino de Libras e o ensino de português como segunda língua para os surdos”, explica a coordenadora. “Todo esse conjunto de apoio é fornecido pela educação especial.”
Uma das mudanças implementadas na edição deste ano do Enem foi a aplicação de videoprovas, ou seja, a prova em Libras, um recurso de acessibilidade para realização do exame por surdos e pessoas com deficiência auditiva. A novidade contempla os falantes de língua de sinais, contemplando o direito de fazer a prova em sua primeira língua. A videoprova foi solicitada por 1.897 candidatos, tendo sido a ferramenta mais selecionada entre os participantes deste grupo.
Assessoria de Comunicação Social