Mesa-redonda relembra Gramsci
Educação como sinônimo de transformação. A política e a cultura como parte de um mesmo mundo. O poder do povo. Estes são alguns temas para reflexão deixados por Antonio Gramsci (1891-1937), filósofo e cientista político italiano. Ele é tema de mesa-redonda na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) nesta quarta-feira, 5. Promovido pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas e pela editora da universidade, o evento lembra os 70 anos da morte do pensador.
Para Rafael Rodrigues, formado em comunicação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), que se baseou em Gramsci para elaborar a tese de mestrado , é importante que as pessoas voltem a debater sobre os pensamentos do filósofo italiano. “As reflexões propostas por ele ainda são muito atuais”, afirma. Rafael acredita que Gramsci consegue ainda hoje influenciar o pensamento intelectual por suas teorias sobre movimentos sociais, o funcionamento do Estado, no qual a sociedade civil também tem poder, a cultura popular e o fortalecimento da educação.
Fundador do Partido Comunista Italiano, Antonio Gramsci nasceu em Ales, na Sardenha. Características marcantes do pensador foram a crítica ao elitismo dos intelectuais e a profunda influência sobre o marxismo. Em 1914, filiou-se ao Partido Socialista. Na União Soviética, conheceu a mulher, Júlia, com quem teve dois filhos. Por ser antifascista, foi preso e condenado a mais de 20 anos de prisão. Na época, sua produção intelectual foi intensificada. As Cartas do Cárcere, divididas em 32 cadernos, são suas obras mais divulgadas. Gramsci morreu quatro dias depois de alcançar a liberdade, vítima de tuberculose.
Nas Cartas do Cárcere, o autor revela preocupações familiares e discute problemas filosóficos e estéticos e de cunho educacional. O interesse pedagógico de Gramsci decorreu de sua preocupação com a educação dos filhos e de uma sobrinha. A escola, para ele, tinha caráter amplo e seria a principal agência de formação de intelectuais.
Gramsci atribuía valor ao trabalho industrial para a educação. Esse tipo de trabalho, segundo ele, levava o homem a mudar a visão de mundo e combater as ideologias difundidas pela burguesia no seu cotidiano. O filósofo considerava o processo de educação das massas fundamental para que elas pudessem se inserir de modo ativo e consciente na vida política. A atividade de educação das massas seria realizada, sobretudo, pela mediação dos intelectuais. Ele também se preocupava com a preparação de intelectuais de um novo tipo, ligados às classes subalternas, para que pudessem influir no processo da hegemonia civil, educando e formando os mais simples para, assim, constituir um novo bloco cultural e social. Dentro dessa linha de raciocínio, Gramsci discutia a organização da escola.
Letícia Tancredi