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  • Além do ensino bilíngue, todas as turmas da rede de ensino de Pomerode têm aulas de língua alemã na grade curricular normal (foto: arquivo da EBM Olavo Bilac)Conhecida como a cidade mais alemã do Brasil, a pequena Pomerode, em Santa Catarina, a 150 quilômetros de Florianópolis, preserva as tradições culturais herdadas dos colonizadores, vindos, em grande parte, da Pomerânia, região no norte da Alemanha. A herança germânica pode ser vista por toda a parte no município, desde as construções e jardins até os grupos folclóricos e pratos típicos. Nesse ambiente, nada mais natural do que o interesse pelo idioma alemão, oferecido na Escola Básica Municipal Olavo Bilac, desde 2008, e na Escola Básica Municipal Dr. Amadeu da Luz, desde 2009.

    Segundo a professora Ana Cristina Kamchen Buettgen, diretora da escola Olavo Bilac, a ideia de oferecer o ensino bilíngue surgiu em 2007, inspirada em experiência de escola bilíngue em Berlim, Alemanha. Embora a intenção inicial fosse transformar a escola Olavo Bilac em uma unidade de ensino bilíngue, observou-se que nem todos os alunos tinham interesse em aprender o alemão. “Outra dificuldade era a diferença de grade curricular entre as escolas do município, que inviabilizava transferências e matrículas de novos alunos”, lembra a professora. Assim, foi necessário rever o formato do projeto.

    Em 2011, o ensino bilíngue passou a ser oferecido de forma optativa, a partir do segundo ano do ensino fundamental, duas vezes por semana, no período de contraturno. “Hoje, são 19 turmas na escola Olavo Bilac; a primeira turma está no oitavo ano”, afirma a diretora. Ela destaca que o processo ainda é de construção. “Fazendo ajustes, pesquisando metodologias e estratégias que atendam amplamente os objetivos e expectativas do ensino bilíngue.”

    A grade curricular nacional é seguida normalmente no horário regular de aula, e os professores que trabalham com essa grade não precisam dominar a língua alemã. “Além das aulas do ensino bilíngue, todas as turmas da rede municipal de ensino têm na grade curricular normal uma aula de língua alemã do primeiro ao quinto ano e duas aulas do sexto ao nono ano”, ressalta.

    Há 24 anos no magistério e há dois anos e meio na direção, Ana Cristina tem graduação em pedagogia e especialização em ludopedagogia e alfabetização e em mídias na educação.

    Valorização — Todas as escolas da rede municipal também têm em sua grade curricular a disciplina de língua inglesa, a partir do primeiro ano do ensino fundamental. “Ao ter acesso ao aprendizado formal de uma segunda língua, novas janelas se abrem. Você não só conhece uma língua, mas novas culturas, tradições, formas de viver”, diz Ana Cristina. “É abrir as janelas do mundo.” Ela enfatiza ainda a expectativa de uma valorização profissional no futuro. “Em Pomerode, há empresas alemãs que valorizam funcionários que dominam o idioma.”

    A opinião é compartilhada pelo professor de língua alemã Endrigo de Oliveira Knetsch, que atende turmas do quarto ao oitavo ano do ensino fundamental. “A comunidade percebe que o ensino bilíngue contribui para a formação e preparação do aluno para a vida e para o futuro mercado de trabalho, visto que a proficiência de idiomas é cada vez mais desejável por parte das grandes empresas instaladas no município e região”, esclarece.

    Com graduação em letras e há 11 anos no magistério, ele participa regularmente de seminários para professores promovidos pela Fachberatung, órgão do governo alemão que orienta as escolas do exterior que oferecem o idioma na grade curricular e aplicam provas de certificação e diplomação.

    Benefícios — Professora regente de turma do terceiro ano do ensino fundamental, Dorotéa Brandt Hornburg acredita que o ensino bilíngue traz benefícios. “As aulas em alemão complementam o que está sendo trabalhado no turno regular, e os alunos desenvolvem a aprendizagem e ampliam os conhecimentos”, avalia a pedagoga, com especialização em alfabetização. Ela está no magistério há 25 anos.

    A escola Olavo Bilac tem 748 alunos matriculados na educação infantil e no ensino fundamental, no período diurno. Desse total, 347 frequentam o ensino bilíngue. No período noturno, o espaço físico da instituição é cedido para o atendimento de estudantes do ensino médio da rede estadual de ensino.

    Fátima Schenini

    Saiba mais no Jornal do Professor e na página da EBM Olavo Bilac na internet

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  • Brasil e Espanha assinaram, nesta quinta-feira, 8, um memorando de entendimento para aprofundar a cooperação acadêmica e educacional e melhorar a capacitação de servidores e gestores da área da educação nos dois países. O acordo foi firmado pelo ministro da Educação, Rossieli Soares, e o embaixador do Reino da Espanha no Brasil, Fernando García Casas, em Brasília.

    As ações têm o apoio da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI). O secretário-geral da instituição, Mariano Jabonero, também participou da cerimônia. O memorando permitirá uma intensificação do Programa Ibero-americano de Difusão da Língua Portuguesa da OEI, que viabiliza acordos bilaterais com países vizinhos ao Brasil para ensino de português e espanhol em regiões fronteiriças, por meio, principalmente, da formação de professores.

    Após a cerimônia, o ministro Rossieli Soares comentou que, uma vez assinado o memorando, o país deve começar a firmar esses acordos. Alguns países, como a Colômbia, já mostraram interesse. “Estamos em negociação bilateral com apoio da OEI com todos os países vizinhos. Vamos espelhar as escolas, para que sejam escolas irmãs e aprendamos dos dois lados. Nosso objetivo é atingir de 30 a 40 escolas nas regiões de fronteira e depois ampliar para outras regiões, já que o Brasil tem muitos imigrantes morando dentro do país”, ressaltou Rossieli.

    O ministro também destacou a importância dessa parceria com a Espanha. “Nossas raízes linguísticas são muito próximas e temos muito a compartilhar”, disse. “A língua não pode ser uma barreira, temos muito conhecimento científico em ambos os países e essa aproximação é fundamental. Difundir o aprendizado dessas línguas entre países irmãos permite conhecer mais da cultura dos países ibero-americanos”, acrescentou. 

    O ministro Rossieli Soares (centro) assina, com o secretário-geral da OEI, Mariano Jabonero, e o embaixador da Espanha, García Casas, acordo que aprofundará a cooperação econômica (Foto: André Nery/MEC) De maneira semelhante, o embaixador espanhol destacou a possibilidade que esse projeto abre de aproximar povos que, apesar de vizinhos, às vezes esbarram em diferenças idiomáticas. “Vamos ter mais estudantes, mais professores, mais pesquisadores na Espanha e no Brasil se comunicando entre si”, afirmou García Casas. “Isso é um motor de desenvolvimento para a geração de conhecimento científico e nas ciências sociais, no âmbito do turismo e, também, no âmbito do compartilhamento de conhecimentos, para que eles sejam compartilhados não apenas em inglês, mas em português e espanhol”, enfatizou García Casas.

    Espanhol e português estão entre as cinco línguas mais faladas do mundo, com mais de 800 milhões de habitantes integrando os países ibero-americanos. Esses idiomas também são tidos como oficiais em muitas organizações internacionais, o que reforça a necessidade de difusão do aprendizado. Todas as ações de cooperação dentro dos projetos propostos pelo memorando serão desenvolvidas com recursos da OEI. Entre essas ações, além da capacitação de professores para o ensino bilíngue estão, por exemplo, a confecção de materiais didáticos e documentos bilíngues, a realização de congressos binacionais e a criação de uma nova certificação em língua portuguesa.

    Assessoria de Comunicação Social

  • A escola do Distrito Federal é a única unidade de ensino pública do país a criar metodologia adequada para crianças e adolescentes surdos que têm como língua materna a libras (foto: João Neto /MEC)A inovação e a criatividade estão em toda a escola. Por salas de aula e corredores silenciosos flui o conhecimento que poucos ouvintes conseguem entender e apreender. Com gestos rápidos e uma infinidade de sinais, que traduzem palavras, frases e conceitos, professores e alunos interagem e avançam nos conteúdos obrigatórios da educação básica. A Escola Bilíngue Libras e Português Escrito, em Taguatinga, uma das regiões administrativas mais populosas do Distrito Federal, é a única da rede pública do Brasil a criar metodologia adequada para crianças e adolescentes surdos que têm como língua materna a libras (língua brasileira de sinais).

    Criada em 2013, por lei local, a escola nasce, portanto, sob um projeto político inovador e se revela inclusiva também no sentido reverso. “O que é bom para o aluno surdo é bom para o aluno ouvinte”, explica a diretora, Maristela Batista de Oliveira Bento, pedagoga com 20 anos de experiência na educação de alunos surdos. Por isso, por escolha das famílias, nas salas de aulas há alunos ouvintes, que aprendem a língua de sinais para se comunicar com parentes e amigos surdos. O bilinguismo na língua de sinais e no português escrito configura-se, portanto, numa espécie de chave para aproximar pessoas de dois mundos que não se integram por não dominarem os códigos da comunicação.

    “As pessoas ouvintes geralmente não sabem, mas para os alunos surdos, o português é a segunda língua, e isso implica uma metodologia apropriada para que possam ter maior fluência no entendimento da escrita”, explica Gisele Morisson Feltrini, supervisora pedagógica da escola. Thalya da Silva, 18 anos, aluna do segundo ano do ensino médio, conta que a escola tem permitido a ela se aprofundar nos conhecimentos cobrados nas provas de seleção para ingresso nas universidades. Com talento para desenhar, Thalya pensa em seguir uma profissão nessa área. Porém, entender o conteúdo das provas é ainda um problema e, por isso, os alunos surdos precisam de intérprete na realização dos exames.

    “O português é muito pesado e seria importante ter uma prova adequada, com tradução na íntegra para libras por meio de vídeos”, sugere a aluna, que ficou surda antes dos dois anos em decorrência de uma meningite. A dificuldade com a língua portuguesa ocorre também no contexto social e familiar, uma vez que são poucas as pessoas que dominam a língua de sinais. Em casa, por exemplo, Thalya não consegue se comunicar com o irmão, apenas com a mãe. Ela não é exceção. Outros alunos da escola relataram a mesma dificuldade.

    Acesso — Luana de Jesus, 17 anos, aluna do primeiro ano do ensino médio, diz que pretende estudar direito para lutar pelos direitos dos surdos. “Existe uma pressão da sociedade ouvinte sobre os surdos porque não sabem das suas habilidades e potencial. É preciso dar acesso aos ouvintes à cultura surda”, observa.

    Em razão de todas essas dificuldades, Hudson Gonçalves, 20 anos, aluno do segundo ano do ensino médio, fala da importância da escola bilíngue de Taguatinga. “Eu consigo não apenas aprender, como tirar dúvidas e me aprofundar no conhecimento de biologia, química, física, português e matemática para ingressar num curso superior”, explica. “As traduções feitas pelos intérpretes em libras nas escolas onde estudei são rápidas demais. Não dá para absorver tudo.”

    Nas escolas regulares em que há inclusão, de acordo com a diretora, o aluno surdo muitas vezes sente-se isolado por estar numa turma de ouvintes. “Ele se sente intimidado em expressar dúvidas e acaba acumulando defasagem de aprendizagem.”

    A professora de biologia Thatiane do Prado, que prepara os alunos surdos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB), salienta que a metodologia adotada pela escola possibilita um aprendizado mais ativo. “Os alunos são sujeitos ativos no processo do conhecimento, opinam o tempo todo e não ficam apáticos”, afirma.

    A escola bilíngue atende alunos da educação infantil ao ensino médio, com limite de dez alunos por turma, em razão da especificidade do ensino. O sistema bilíngue adotado pela escola atrai estudantes de outras regiões do Distrito Federal e Entorno. “A primeira língua da escola é a libras, mas o português escrito não é ensinado da mesma forma que os alunos ouvintes aprendem”, diz a diretora. “Usamos muito o visual para que eles possam adquirir vocabulário. Os surdos precisam muito do visual para interiorizar o conteúdo.”

    Chamada — A Escola Bilíngue Libras e Português Escrito foi uma das 178 instituições de ensino selecionadas pela chamada pública aberta pelo Ministério da Educação, em 2015, para divulgar experiências de inovação e criatividade nas escolas de educação básica no Brasil.

    Para participar da chamada, a direção decidiu enviar o projeto político-pedagógico da própria escola, que já nasceu dentro de uma proposta de inovação na gestão e na metodologia de ensino. O objetivo é divulgar e mostrar os resultados positivos e emocionantes que os 53 professores surdos e ouvintes, com proficiência em libras, têm alcançado. “Se não fosse essa escola, muitos alunos surdos já teriam se evadido e desistido de avançar nos estudos, simplesmente porque não conseguem ser entendidos”, ressalta Maristela.

    Com a metodologia empregada pela escola, as crianças matriculadas adquirem fluência em libras e português escrito e, assim, podem ser entendidas dentro e fora dos limites do contexto escolar.

    Filha de pais surdos, a professora da educação infantil Andréa Beatriz Messias Belém Moreira conta que conviveu em meio a ouvintes e surdos, habitantes de dois mundos que têm dificuldades em se comunicar e se compreender. “Numa sociedade em que a maioria das pessoas é de ouvintes, os surdos têm muito a nos ensinar”, afirma. “Eles são sempre considerados inferiores, mas não têm dificuldade para aprender, só não encontram facilidades para desenvolver suas habilidades.”

    A professora relata que desde cedo teve de aprender a superar o sofrimento pessoal por sentir a rejeição e o preconceito de professores que não chamavam seus pais na escola para saber do seu desempenho em sala de aula. “Ouvia-os dizer que meus pais eram aqueles mudinhos, mas eu não aceitava isso, e dizia que eles falavam, sim, e que eu os entendia muito bem porque sabia a língua deles.”

    Libras — A língua brasileira de sinais foi instituída pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, e reconhecida como sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, para a transmissão de ideias e fatos. É a língua natural usada pelas comunidades surdas brasileiras. Estudos sobre a libras foram iniciados no Brasil em 1981.

    Libras e português carregam estruturas diferenciadas. Documento publicado pelo Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos do Ministério da Educação, em 2004, sobre a língua brasileira de sinais e a língua portuguesa, evidencia que, como em qualquer língua falada, “a fonologia é organizada baseada em um número restringido de sons que podem ser combinados em sucessões para formar uma unidade maior, ou seja, a palavra. Nas línguas de sinais, as configurações de mãos, juntamente com as localizações em que os sinais são produzidos, os movimentos e as direções, são as unidades menores que formam as palavras”.

    Exemplos — O Ministério da Educação selecionou 178 instituições entre as 683 que participaram, de setembro a novembro de 2015, de chamada pública destinada a identificar, reconhecer e mapear iniciativas educacionais inovadoras na educação básica desenvolvidas em escolas públicas e particulares e em organizações não governamentais de todo o país. A seleção abrangeu instituições escolares e não escolares, escolas indígenas, quilombolas, do campo e urbanas, da educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e da educação de jovens e adultos.

    As informações relacionadas ao trabalho desenvolvido pelas 178 instituições selecionadas estão disponíveis no Mapa da Inovação e Criatividade na Educação Básica. Mais informações na página do Programa de Estímulo à Criatividade na Educação Básica na internet.

    Rovênia Amorim

    Saiba mais no Jornal do Professor

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