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  • Por que 40 milhões de pessoas, em todo o mundo, ainda hoje vivem como escravos? Essa pergunta é a provocação da série Por que escravidão? (na versão original, Why Slavery?), que a TV Escola leva ao ar no próximo dia 18, às 22h. Trata-se de um lançamento mundial a ser exibido simultaneamente em canais de televisão de 191 países. No Brasil, além da TV Escola, o Canal Futura faz parte dessa parceria.

    Maior campanha de mídia global sobre o tema escravidão moderna, a série é produzida pela The Why Foundation, organização responsável pela distribuição de audiovisuais independentes para emissoras públicas de todo o mundo. Por que escravidão? será exibida por meio de seis documentários mostrando a vida de homens, mulheres e crianças que vivem como escravos em todos os cantos do mundo.

    Usando o poder da narrativa forte como base do projeto, a série é focada em questionar por que a escravidão, em pleno século 21, permanece tão endêmica. O primeiro episódio, Empregada no inferno, é aberto com traz uma pergunta chave: um sistema de empregos é capaz de esconder uma realidade de tortura e humilhação?

    Inferno real – A reportagem mostra o cotidiano de 2,8 milhões de mulheres imigrantes que trabalham como domésticas, presas e constantemente assediadas por seus empregadores, por meio do Sistema Kafala, legalizado no Catar e disseminado em outros países do Oriente Médio. Em árabe, a palavra kafala (também pronunciada kefala) equivale a tutela – mas, na prática, tem significado mais próximo a tortura.

    Personagem central desse primeiro episódio da série, Mary Kibwana, de 35 anos, é apenas uma entre milhares de mulheres que viveram um pesadelo trabalhando como empregadas domésticas na Jordânia. Com quatro filhos, teve a sorte de poder voltar para sua casa, no Quênia, onde chegou em uma cadeira de rodas e com 70% do corpo queimado. Dois meses depois, ela morreu.

    Assédio, abuso e estupro, além de uma rotina de 18 horas de trabalho são cenários comuns da realidade de domésticas que viajaram ao Oriente Médio em busca de emprego. Ao caírem no conto do Sistema Kafala, elas, logo de cara, têm seus passaportes confiscados e ficam presas a seus empregadores – dos quais, se tentarem escapar, estarão arriscando a própria vida.

    Empregada no inferno acompanha agentes de emprego que descrevem de forma clara o comércio e empregadas que lutam para encontrar uma forma de retornar à casa após experiências angustiantes. Ao conceder um acesso sem precedentes a uma das formais mais brutais e assustadoras de trabalho forçado no mundo moderno, o episódio expõe os sigilosos mecanismos internos do sistema Kafala.

    A cada semana, sempre às quintas-feiras, sempre às 22h, a TV Escola exibirá um novo episódio da série, com reapresentações aos sábados, às 23h.

    Assessoria de Comunicação Social

     


  • A tradução e o estudo da autobiografia de um ex-escravo que viveu no Brasil no século 19 podem disseminar um novo ponto de vista histórico sobre o período da escravidão no país. Escrito em 1854, originalmente em inglês, o livro Uma narrativa interessante. Biografia de Mahommah Gardo Baquaqua narra, a partir de uma perspectiva pessoal, a história da opressão e da violência que o personagem central da história –  Baquaqua – viveu desde a captura no continente africano até o desembarque na costa brasileira, quando foi negociado como escravo.

    Mahommah Gardo Baquaqua, um ex-escravo que viveu no Brasil no século 19. (foto: Utica, NY, 1850)

    No Brasil, ele primeiramente trabalhou para um padeiro em Pernambuco, em condições tão degradantes que chegou a tentar o suicídio. Após esse episódio, foi vendido para um capitão de navio no Rio de Janeiro. Em 1847, durante uma viagem a Nova York, Baquaqua fugiu. Com o apoio de um grupo de missionários protestantes, estudou numa escola americana e viajou para Haiti, Canadá e Inglaterra – onde as pistas sobre o seu paradeiro acabaram. Baquaqua tinha esperanças de voltar à sua terra natal, um vilarejo localizado na República do Benin, na África ocidental.

    Essa história despertou o interesse do pernambucano Bruno Véras, doutorando em história pela York University, em Toronto, no Canadá. Ele começou a pesquisar a vida dos escravos no Brasil ainda na graduação do curso de história, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).  A pesquisa prosseguiu no mestrado, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), e até hoje Bruno segue as pistas deixadas por Baquaqua, com o objetivo de ampliar seus conhecimentos sobre a escravidão no país.

    Parceria –  “Apenas no mestrado, na UFBA, eu pude me aprofundar mais, entender um pouco mais essa trajetória e o contexto entorno do personagem em si”, relata Bruno. A partir da experiência na universidade baiana, o autor desenvolveu um projeto que, fruto de parceria entre a UFPE e York University, pretende mostrar a trajetória pessoal de Baquaqua e debater a escravidão e o abolicionismo no Brasil e na América do Norte.

    Batizado com o nome do ex-escravo e coordenado por Veras, o trabalho consiste na tradução da autobiografia e de outras anotações encontradas no Canadá e nos Estados Unidos. Ele vem publicando todo esse material em um website, com versões em português, inglês, espanhol, francês e em hauçá, língua dos povos da região onde Baquaqua nasceu.

    A estratégia de construção desse trabalho, explica Bruno, inclui teatro, pela dança, por documentários, curso de formação de professores, tanto no Brasil quanto em outros países. “O projeto Baquaqua não é só do Brasil”, destaca. “A ideia é que esse material que a gente está produzindo em francês seja usado no Benin e no Haiti. Em inglês, da mesma forma, ele vai ser usado nos Estados Unidos e no Canadá, e assim por diante.”

    Bruno Véras, a partir do estudo da autobiografia do ex-escravo, avalia que a escravidão, no Brasil, é praticamente “uma história familiar “ (Foto: Divulgação)

    História familiar – O projeto Baquaqua oferece um caminho para imaginar, compreender e construir empatias e identificação. “Acho que o estudo de biografias é interessante para a gente entender, inclusive, a escravidão”, resume Bruno. ”Posso me identificar com essa história, construir uma empatia, porque a história da escravidão no Brasil não é uma história distante. É importante a gente lembrar que, até 1850, a cada um europeu que entrou no Brasil, foram trazidos oito africanos – esses são números pesquisados por Luís Felipe Alencastro. O Brasil realmente foi colonizado por africanos. O meu trisavô, a sua trisavó foi africana, foi escravizada, então essa história da escravidão no Brasil é extremamente familiar. “

    A tradução da autobiografia de Baquaqua não é inédita no Brasil, mas o projeto que Bruno Veras coordena prevê o lançamento, em breve, de um livro com esse material e uma explanação histórica no contexto da escravidão no país. O trabalho conta com a participação do pesquisador Nielson Bezerra, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e é baseado em um estudo de pesquisadores britânicos.

    No site organizado por Bruno podem ser vistas mais informações sobre o Projeto Baquaqua.

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