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  • Wemerson era uma criança hiperativa na escola. Prestava atenção nas aulas, tirava notas boas, mas o jeito agitado acabava atrapalhando um pouco. Sem querer desestimular o bom aluno, a professora encontrou uma solução que agradou a todos: Wemerson passou a ajudá-la como monitor, orientando os coleguinhas com mais dificuldade de aprendizagem. Pode-se dizer que foi daí que começou a tomar gosto pelo magistério. Mais do que isso, foi quando ficou clara a vocação que seguiria por toda a vida.

    Apesar da pouca idade, apenas 26 anos, e de uma trajetória profissional ainda curta, iniciada em 2012, depois de se formar em ciências biológicas – hoje, dá aulas de ciências no ensino fundamental e de química no ensino médio –, Wemerson Nogueira já tem muita história para contar, mas não qualquer história. Ele é autor de inúmeros projetos que lhe renderam o reconhecimento nacional, como o título de Educador Nota 10 de 2016, concedido pela Fundação Roberto Civita a professores de destaque em práticas inovadoras – e também no exterior.

    Professor da rede pública capixaba, da pequena Nova Venécia, Wemerson é o único brasileiro entre os dez finalistas do Global Teacher Prize de 2017, considerado o Nobel da Educação. A lista foi divulgada esta semana. O prêmio inclui, além do reconhecimento mundial, um cheque de US$ 1 milhão, pago pela Varkey Foundation, da Inglaterra. Ganhará o melhor conjunto da obra, ou seja, tudo o que aconteceu durante os anos de dedicação ao magistério.

    O professor Wemerson, de 26 anos, já conta com reconhecimento nacional como educador, e agora sua disposição para levar qualidade de vida a populações carentes lhe deu fama no exterior (Foto: Arquivo pessoal)Wemerson é conhecido no meio pela criatividade das aulas e pelos projetos que melhoraram não só a qualidade do ensino em sua cidade, mas também a vida das comunidades locais. “A primeira escola em que trabalhei foi na periferia, em um lugar com alto índice de violência, uso de drogas e baixíssima perspectiva de um futuro promissor entre crianças e jovens”, conta. “Procurei a diretora e ofereci ajuda para a formação dos professores, e participação mais ativa das famílias na educação dos filhos. Em dois anos reduzimos em 90% a criminalidade, em 70% a evasão escolar e em 50% a reprovação.” 

    A partir de então, Wemerson passou a trabalhar sempre com projetos próprios, mas enriquecidos por sugestões dos alunos. No início de cada ano letivo ele costuma apresentar o plano de ensino à classe, um esboço do conteúdo que pretende ensinar nos meses seguintes. Mas são os estudantes que indicam a forma mais interessante de tudo acontecer. “No começo eles se assustam, só que logo passam a criar a partir do que é proposto. Eles são uma caixinha de surpresa, que deixa escapar ideias geniais quando é aberta.”

    Grande parte dos projetos de Wemerson vem desse diálogo com os alunos e tudo acaba sempre muito adaptado à realidade e necessidades deles. “Houve turmas, por exemplo, que aprenderam química cantando. Outras, usando um aplicativo que criei no celular. E, em um projeto recente, criamos um filtro de descontaminação da água do Rio Doce, poluído pelo desastre ecológico de Mariana”, informa. 

    O projeto Filtrando as Lágrimas do Rio Doce, por sinal, tem resultados práticos não apenas para os alunos – que ajudaram a construir o filtro e, de quebra, aprenderam a tabela periódica analisando pessoalmente os elementos químicos nas águas turvas do rio –, mas igualmente à população ribeirinha. “Começamos com 55 filtros. Hoje são mais de 500. Nossa meta é ajudar 3 milhões de pessoas afetadas pela poluição”, afirma.

    Quanto ao prêmio de U$ 1 milhão, caso venha a vencer no Global Teacher Prize de 2017, que terá o resultado divulgado em 19 de março, durante evento em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, Wemerson sabe muito bem no que vai aplicar. Vai criar a Fundação Nogueira de bolsa de estudos para licenciatura em educação e de orientação a professores no ensino pedagógico contemporâneo, fora o instituto de ciência e tecnologia, de apoio a escolas públicas na região de Nova Venécia.

    “Também quero investir na minha formação. Vou viajar, conhecer outras experiências em educação – dos ambientes escolares totalmente adaptados às novas tecnologias em países como a Finlândia, por exemplo, às salas de aula onde os alunos sentam no chão no interior de algumas nações africanas.”

    Assessoria de Comunicação Social


  • O professor Diego Mahfouz Faria Lima, da rede municipal de ensino do município de São José Rio Preto (SP), finalista do Global Teacher Prize, mudou a realidade da Escola Municipal Darcy Ribeiro, no estado de São Paulo. Como diretor da instituição de ensino, ele realizou um trabalho de aproximação entre escola, alunos e comunidade, dando voz às partes e revertendo um quadro de indisciplina, bagunça e violência.

     O projeto que levou Diego à indicação foi o Minha escola: Reconstrução coletiva, que reduziu os altos índices de criminalidade e evasão que a escola registrava. Ele recorda que as diretoras que o antecederam não aguentaram os atos de indisciplina e selvageria dos estudantes e foram se afastando. Com isso, buscando resgatar a identidade da escola, ele foi promovido de professor a diretor, em janeiro de 2015.

    Antes de ser agraciado como um dos melhores educadores do mundo, o professor de 30 anos vivenciou momentos de terror na Darcy Ribeiro. “Quando assumi a escola, peguei o microfone e disse: ‘Pessoal, pra começar eu não vou embora, vim pra ficar e quero ouvir vocês’. Aí passei o microfone a eles e falaram o que achavam da escola, que tudo era punição, suspensão, que ela era feia, que eles não eram ouvidos. Assim consegui ganhar os alunos”, contou.

    Diego e sua equipe começaram, então, a promover atividades culturais, esportivas e de lazer para toda a comunidade, inclusive nos finais de semana. Mas, o mais importante para o sucesso, segundo o professor, foi dar a voz aos alunos. “Toda a mudança que realizamos fez com que a comunidade abraçasse a escola e a ajudasse a tomar conta desse espaço, que não é somente dos alunos”, destacou.

    Como exemplo da experiência, ele explicou que atrás da escola havia duas áreas nas quais foram detectados pontos de tráfico intenso de drogas. A parede, revelou, parecia um queijo de tanto buraco para esconder os entorpecentes. O local foi revitalizado e, com ajuda da comunidade, surgiu uma praça de leitura coletiva.

    Outra conquista foi a implantação de uma caixa de sugestões em que as contribuições são lidas uma vez por mês e a solução é buscada em conjunto. A união deu certo e a transformação fez com que, além da grande redução de violência entre os alunos, a evasão escolar na escola Darcy Ribeiro despencasse de 202 estudantes para apenas dois em 2017.

    Diego diz ter iniciado no magistério “por acaso” e, 12 anos depois da primeira aula, já havia concluído três pós-graduações. Sobre o ingresso no quadro de servidores públicos de São José do Rio Preto, ele explicou que a atração por uma bolsa com o valor de um salário mínimo para quem passasse no concurso foi o que despertou seu interesse em fazer a prova do magistério.

    “Eu não tinha pretensão nenhuma de ser professor. Uma amiga minha falou que ia fazer a inscrição para um concurso e me perguntou se eu queira acompanhá-la até o local. Chegando lá, eu ouvi ela falando que quem passasse ganharia uma bolsa de um salário mínimo. Achei interessante, me inscrevi e acabei passando”, lembrou.

    A premiação, realizada em Dubai (Emirados Árabes Unidos) no último dia 18, consagrou a britânica Andria Zafirakou como a grande vencedora. Mesmo sem ter trazido para o Brasil o título de melhor educador do mundo, Diego Mahfouz se destacou por ter apresentado o êxito da experiência em uma premiação de nível mundial.

    Vencedora - A britânica Andria Zafirakou, que além do título de melhor educadora do mundo levou para casa US$ 1 milhão, é formada em arte de design pela University College of London. Ela leciona em uma escola secundária no distrito de Brent, nos arredores de Londres, região com um elevado índice de imigração e com a segunda maior população de negros, asiáticos e outros grupos étnicos da Inglaterra.

    Prêmio – O Global Teacher Prize é um prêmio internacional, considerado o Nobel da Educação, e concedido pela Varkey Foundation, uma organização sem fins lucrativos criada para promover a educação. Na edição 2018, o Brasil foi representado por dois participantes entre os 50 indicados, com Diego sendo selecionado entre os dez finalistas. Ao todo, a competição contou com mais de 30 mil inscritos de 173 países.

    Assessoria de Comunicação Social

  • Aos 30 anos de idade, Diego Mahfouz Faria Lima é um dos finalistas do Global Teacher Prize 2018 (Foto: Ivan Feitosa/SMCS - São José do Rio Preto)

    A Escola Municipal Darcy Ribeiro, em São José do Rio Preto (SP), seguia por um caminho que parecia difícil de mudar. Estudantes e profissionais desmotivados, ambiente pouco acolhedor e uma lista interminável de problemas. Mas a chegada de um novo diretor fez mudar não apenas a realidade dos estudantes, como de toda a comunidade escolar. Por isso, Diego Mahfouz Faria Lima é um dos 10 professores finalistas do Global Teacher Prize 2018, considerado o Nobel da educação. A premiação e o vencedor serão conhecidos no dia 18 de março, em Dubai, e o Ministério da Educação estará presente.

    Com apenas 30 anos, Diego já tem 12 anos de experiência como professor. Ele é de Paranaíba (MS), que fica aproximadamente a 300 quilômetros de São José do Rio Preto. Entrou no magistério quase por acaso, quando ainda morava em sua cidade natal e acompanhava a mãe todas as semanas à cidade paulista, onde ela fazia tratamento contra um câncer. O convite para se inscrever no curso de magistério partiu de uma amiga, que ressaltou que os aprovados ganhariam uma bolsa de um salário mínimo. O dinheiro seria muito bem-vindo para ajudar nas despesas da família.

    Entre muitos percalços, o pior deles a perda da mãe, concluiu o curso, trabalhou na alfabetização como voluntário em uma escola e acabou se apaixonando pela profissão. O curso de pedagogia acabou se tornando o caminho natural a seguir. Poucos anos depois passou em um concurso da prefeitura da cidade e, em meados de 2014, assumiu como vice-diretor da Escola Municipal Darcy Ribeiro.

    Pouco depois a diretora, que seguiu com ele para a escola, pediu remoção. Não aguentava mais a realidade da escola. “Ninguém mais queria ir para lá. Nas reportagens a escola sempre aparecia com o pior Ideb, aluno portando arma de fogo, tráfico de drogas na porta da escola”, conta o professor. No primeiro dia como diretor resolveu se reunir com os alunos. Ao chegar ao pátio tudo o que havia era vazio e silêncio. De repente, os estudantes saíram dos banheiros gritando palavras de ordem, arremessando lixo, água e maçãs – que haviam sido servidas no lanche do dia – contra Diego.

    Ao invés de fugir, ele pegou o microfone, afirmou que não arredaria o pé da escola e passou a palavra aos estudantes. A cena chocou os jovens, que cessaram as agressões, se sentaram e passaram a elencar os problemas que eles viviam. “Diziam que a escola era feia, que eles não eram ouvidos, que havia muita suspensão”, lembra. A primeira providência de Diego foi buscar materiais em outras escolas para mudar a aparência da Darcy Ribeiro. “Quando eu vi, a notícia começou a se espalhar e alguns pais começaram a vir ajudar na pintura. Nós conseguimos fazer isso em menos de um mês.”

    A época da pintura coincidiu com o período de matrículas e Diego aproveitou para passar um questionário para os responsáveis responderem. O resultado foi bem parecido com os depoimentos que ele havia recebido dos estudantes. Muitos sequer renovaram a matrícula. Diego foi atrás para saber o motivo. Pais preferiam enfrentar distâncias maiores do que deixar os filhos na Darcy Ribeiro. Os professores também não se sentiam seguros na escola. Os relatos de agressões eram comuns. Como resposta, davam suspensões. Em média, 60 por semana.

    Por isso, outra medida foi o projeto de tutoria, em que cada professor ficou responsável por uma sala. Alunos faltosos ou indisciplinados deveriam ser vistos com atenção redobrada. A medida aproximou alunos e professores. Também foi implantada uma caixa de sugestões em que as contribuições são lidas uma vez por mês e a solução buscada em conjunto.

    Além disso, se o estudante falta, Diego vai atrás para saber o motivo. Vai em casa, conversa tanto com estudantes como com responsáveis. O resultado das medidas é que as evasões caíram de 200 para duas, de um ano para o outro.

    Livre – As sextas-feiras eram dias comumente vazios na escola. Havia uma cultura de não ir às aulas. Para reverter, Diego criou o Prata da Casa, show de talentos em que estudantes e seus familiares fazem apresentações diversas ao final da aula. O sucesso foi tamanho que as aulas fluem normalmente e os dias de apresentação passaram a ser alternados.

    “São várias ações ao longo deste ano que fizeram a escola se transformar. Isso é uma gestão democrática e os alunos são os protagonistas. É gratificante ver que a escola hoje é uma referência”, comemora o professor.

    Prêmio – O Global Teacher Prize é um prêmio de 1 milhão de dólares concedido pela Varkey Foundation a um professor excepcional que tenha feito uma contribuição extraordinária para a profissão. O prêmio destaca a importância da profissão de educador e simboliza o fato de que professores em todo o mundo merecem ser reconhecidos e celebrados.

    “É um prêmio internacional de grande relevância e o Brasil teve a felicidade de ter dois participantes entre os 50 indicados e, agora, entre os 10 finalistas o Diego foi selecionado” conta o secretário-executivo adjunto do MEC, Felipe Sartori Sigollo. “É importante que valorizemos as boas práticas pedagógicas, os professores, a formação de professores. Iniciativas como essa o MEC valoriza e aplaude”, ressalta. “O Brasil tem boas práticas e deve disseminá-las, além de valorizar a carreira e esses servidores públicos tão dedicados.”

    Assessoria de Comunicação Social

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