Portal do Governo Brasileiro
Ir direto para menu de acessibilidade.
Início do conteúdo da página
  • O projeto de divulgação científica da UFSCar transforma temas científicos, explicados por fenômenos químicos, em encenações teatrais itinerantes pelo Brasil (foto: Núcleo Ouroboros/UFSCar)“Odeio química, química, química!” Talvez, se os professores de Renato Russo tivessem usado a criatividade do teatro para ensinar química no palco, a letra da música fosse outra. Desde 2004, uma iniciativa do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) tem despertado paixões por essa área do conhecimento. O projeto Ouroboros de Divulgação Científica transforma temas científicos, explicados por fenômenos químicos, em encenações teatrais itinerantes pelo Brasil.

     

    “Química é difícil mesmo, mas é possível aproximá-la dos alunos, quebrando essa má impressão e essa visão de disciplina vilã”, garante a diretora do Núcleo Ouroboros da UFSCar, Karina Omuro Lupetti. Pátios de escolas, salões de igrejas, praças públicas e até mesmo salas de aula viram palco para os alunos-atores. Mais de 150 estudantes de graduação em química já foram formados pelo projeto de divulgação científica, que tem mais de 15 montagens teatrais com textos adaptados a públicos diferentes, da educação infantil à graduação.

     

    O objetivo do projeto é aproximar a população em geral dos conhecimentos e do meio cultural vivido dentro das universidades. O próprio nome do projeto desperta curiosidade. Ouroboros é a representação de uma serpente ou dragão que morde a própria cauda. O nome vem do grego antigo e significa “aquele que devora a própria cauda”. É um símbolo relacionado com a alquimia e contém as ideias de autofecundação, de eterno retorno. Uma das peças encenadas pelos estudantes faz referência aos alquimistas que buscam o elixir da vida eterna, o Santo Graal, que salvaria o lendário Rei Arthur.


    Encontro — De 7 a 10 de agosto, será realizada na cidade serrana de Pacoti, a 95 quilômetros de Fortaleza, a sétima edição do Encontro Ciência em Cena de Teatro Científico. A organização do evento é do grupo Tubo de Ensaio, da Faculdade de Educação de Itapipoca da Universidade Estadual do Ceará (Facedi-Uece). Além dos estudantes da UFSCar, participarão grupos de teatro de universidades do Ceará (UFCE), de São Paulo (USP) e de Portugal. As encenações serão gratuitas. A peça apresentada pelo Núcleo Ouroboros tratará do tema pecuária sustentável.

     

    “Será um teatro de sombras, e os personagens viajarão pelos biomas, onde enfrentarão problemas como queimadas e desmatamentos”, explica a professora Karina, doutora e pós-doutora em química. Mas o que tem a química a ver com essas questões ambientais? “Costumo dizer que a ciência contextualizada muda a visão de mundo, cria uma mentalidade crítica. É uma alfabetização científica.”

     

    A química estará, por exemplo, nas falas dos personagens aos explicarem as reações dos gases do efeito estufa, a química que produz a eructação bovina (o popular arroto do boi) e o impacto disso na emissão de gás metano na atmosfera e, por consequência, no aquecimento global. Além das apresentações teatrais, os alunos-atores participarão de oficinas com temas variados envolvendo a química.

     

    A empolgação pelo projeto de teatro é tanta que alguns ex-alunos continuam participando das peças como voluntários. É o caso de João Henrique Nunes, 24 anos, apaixonado pelas artes cênicas e também por ciências. “É uma oportunidade de juntar essas duas paixões em uma atividade que rompe os muros da universidade e leva conhecimento a diferentes públicos”, avalia. “Cada apresentação, cada intervenção, cada bate-papo com os diferentes tipos de público gera crescimento e amadurecimento. Continuo no projeto porque, mesmo sendo eu quem supostamente deveria ensinar, ainda aprendo.”

     

    Desde 2006 no grupo de teatro, o estudante Tiago Martins Pereira, 30 anos, do quinto semestre de licenciatura em química pela Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), pretende ensinar química nas salas de aulas do ensino fundamental e médio. “O teatro de química nas escolas abre possibilidade de absorver o conhecimento científico de forma lúdica”, diz o estudante. Ele se apaixonou pela matéria ainda criança, assistindo ao Mundo de Beakman, programa exibido pela TV Cultura entre 1994 e 2002, com abordagem divertida de conceitos científicos. “Gostava de misturar os produtos de limpeza em casa e, no ensino médio, uma professora me fez gostar ainda mais de química.”


    Efeitos — Em algumas das peças, os estudantes aprendem reações químicas para produzir fumaça e luminosidade. São efeitos visuais que aparecem no palco e despertam dúvidas e curiosidades na plateia. “Esses questionamentos podem ser trabalhados depois pelos professores em sala de aula”, sugere João Henrique. Ele diz que o teatro como método de divulgação científica está inserido no que é chamado de ensino não formal, que tem por objetivo corroborar o método formal. “O teatro traduz aquele conteúdo científico, tido como denso e desinteressante, em uma linguagem lúdica, que gera a curiosidade e a vontade de aprender mais sobre determinado conteúdo.”

     

    A professora Karina concorda. Segundo ela, a linguagem artística do teatro deixa a química mais próxima do dia a dia dos alunos. “A contextualização ajuda a descomplicar a química. Os alunos precisam enxergar que a ciência, de modo geral, está inserida no cotidiano e tem inúmeras aplicações, que muitas vezes eles nem imaginam”, acrescenta João Henrique, professor em cursinho pré-vestibular comunitário de São Carlos (SP).


    Rovênia Amorim

     

    Saiba mais no Jornal do Professor

  • Professora de química há 12 anos, Eliana Moraes de Santana logo percebeu que as atividades lúdicas poderiam ser uma alternativa importante no processo de ensino-aprendizagem da disciplina. Ela passou a se identificar com a temática lúdica quando ainda era aluna de licenciatura em química. Logo começou a ler, pesquisar e adotar métodos próprios em suas aulas. Até hoje, mantém pesquisa sobre o uso de jogos e atividades divertidas no ensino de ciências, química e educação ambiental.

    “No modelo tradicional, o aluno é sujeito passivo, reprodutor e repetidor do processo de aprendizagem”, diz. “Com as atividades lúdicas, ele se torna sujeito ativo, construtor de seu conhecimento.”

    Professora de ensino fundamental e médio, Eliana trabalha no Colégio Estadual General Osório e na Escola Pio XII, em Itabuna, sul da Bahia, e no câmpus de Ilhéus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA). Neste, ela leciona a alunos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).

    Uma atividade criada pela professora — O Uso do Jogo Autódromo Alquímico como Mediador da Aprendizagem no Ensino de Química —, aplicada em turmas do nono ano do ensino fundamental da Escola Pio XII, serviu de tema para a dissertação de mestrado em ensino de ciências, modalidade química, na Universidade de São Paulo. No trabalho, segundo ela, a importância dos jogos e atividades lúdicas no processo de ensino e aprendizagem em química é apresentada e discutida em sua extensão para afirmar a relação íntima entre essas metodologias e as emoções existentes em cada aluno. Na visão de Eliana, a aprendizagem é facilitada quando os estudantes estão envolvidos emocionalmente no processo.

    Em 2012, com o projeto Os Defensores do Meio Ambiente, a professora baiana conquistou o primeiro lugar em concurso promovido pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ), na modalidade de atividades desenvolvidas com estudantes matriculados em turmas do terceiro ao nono ano do ensino fundamental. Hoje, com alunos do primeiro ao quinto ano da Escola Pio XII, ela executa o projeto Clube da Ciência: Levando Divertimento aos Experimentos. A proposta do trabalho é facilitar a alfabetização científica dos estudantes com o uso de experimentos, jogos, brincadeiras, dramatizações, filmes e outros tipos de atividades.

    Superação— A vocação para a área de ensino de química surgiu como uma superação pessoal, quando Eliana ainda era aluna do ensino fundamental. “Não gostava da disciplina, achava que só servia para decorar fórmulas e fazer contas e não conseguia visualizar como a tabela periódica poderia fazer parte da minha vida prática”, afirma. Ela atribui o desinteresse de então à maneira de o professor ministrar as aulas. “Foi inevitável criar uma antipatia pela química e, consequentemente, fiz recuperação da matéria, considerada maçante naquele momento.”

    A necessidade de estudar para passar de ano fez a então estudante passar a gostar do assunto. “Para superar as dificuldades, comecei a pesquisar e a perceber como era interessante e lógica aquela ciência”, revela. “Acabei me apaixonando pela química.”

    Com a participação em eventos acadêmicos sobre o ensino de química, Eliane começou a observar as inovações e metodologias que tornavam mais agradável o ensino da matéria. “Não queria reproduzir em sala de aula o que me traumatizou no passado”, destaca. Interessada em contribuir para a atualização dos colegas, ela criou, no ano passado, o blogue Química Lúdica, que contabiliza mais de 22 mil acessos. “Sempre tento postar coisas novas, que contextualizem o ensino e tornem a química mais divertida para todos nós.”

    Fátima Schenini

    Saiba mais no Jornal do Professor
  • Professora de química em Goiânia há 15 anos, Thaiza Montine Gomes dos Santos Cruz mantém o blogue Quimilokos, que funciona como extensão da sala de aula. “O professor não está o tempo todo com os alunos, nem todos os dias na mesma escola”, diz. “O blogue faz essa ponte com os alunos.”

     

    No blogue, criado há oito anos, ela publica material relacionado ao conteúdo abordado em aula e compartilha vídeos e outros temas complementares. Licenciada em química, com especialização em ensino de química, Thaiza é aluna de mestrado no Programa de Ensino de Ciências e Matemática (MECM) da Universidade Federal de Goiás (UFG). “O uso do blogue como ferramenta didática no ensino de química e ciências é, em princípio, meu projeto do mestrado”, esclarece.

     

    A convite da professora Cristiana Passinato, do Rio de Janeiro, Thaiza também participa do blogue Pesquisas de Química. O projeto de parceria inclui a professora Andrea Barreto, de biologia. “O interessante é que nunca nos encontramos pessoalmente”, afirma Thaiza. “Nós nos conhecemos pela blogosfera e é por ali que mantemos contato e tiramos dúvidas de nossos alunos e de quem quer que passe pelo blogue.”

     

    Professora no Colégio Estadual Jardim América, no Externato São José, no Colégio da Polícia Militar de Goiás, Unidade Ayrton Senna, e no Centro Universitário de Goiás, Thaiza percebe, em suas turmas de ensino fundamental e médio e de educação superior, dificuldades relacionadas a conteúdo abstrato, como modelos atômicos e distribuição eletrônica, por exemplo. Outros problemas detectados referem-se a cálculos matemáticos e raciocínio lógico, leitura e interpretação de textos de enunciados. Para tentar minimizar as dificuldades dos estudantes, ela desenvolve projetos que facilitem a proximidade com os alunos e deles com a química.

     

    “Isso colabora para um maior rendimento em termos de nota e, o que para mim é o mais importante, em conteúdo e na vida pessoal e social”, destaca. De acordo com Thaiza, o aluno compreende o conteúdo, consegue associá-lo ao dia a dia e sabe quando e como usá-lo. Também aprende valores e diferenças, a respeitar o outro e a conhecer limites.

     

    Entre os projetos desenvolvidos está o Química e Cinema; Elaboração de Curtas-Metragens no Ensino Médio: Usando o Cinema para Abordar Temas sobre Radioatividade em Sala de Aula. Em outro trabalho, H’ Química, a professora usa histórias em quadrinhos para ensinar radioatividade e outros conteúdos de química desenvolvidos no Colégio Jardim América. Os dois projetos foram convertidos na disciplina eletiva Química e Mídias e em um grupo denominado Clube dos Nerds e Otakus, que se reúne quinzenalmente.

     

    “Não incentivo diretamente os alunos, mas eles percebem, nas aulas, um certo encantamento pela disciplina e acabam optando pelo curso”, revela Thaiza. Alguns de seus antigos alunos são hoje engenheiros químicos; outros, licenciados em química. “No Centro Universitário, cheguei a lecionar, no bacharelado, para ex-alunas minhas do ensino médio”, salienta. “Foi uma experiência gratificante.”

     

    Alguns alunos do Colégio Jardim América farão vestibular para química no fim do ano.


    Fátima Schenini

     

    Saiba mais no Jornal do Professor e nos blogues Quimilokos e Pesquisas de Química

  • No Instituto Federal do Sul de Minas, cursos de tecnólogo em cafeicultura e de pós-graduação lato sensu em cafeicultura empresarial estão entre as opções oferecidas aos estudantes (foto: ifsuldeminas.edu.br)O café foi um dos destaques do estande do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas durante a realização da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília. No câmpus de Machado, o produto é referência nos cursos de tecnólogo em cafeicultura e de pós-graduação lato sensu em cafeicultura empresarial.

    O público que participou da exposição pôde conhecer o laboratório móvel de ensino a distância nas áreas de produção de café, usado para ensinar aos cafeicultores como obter mais qualidade no produto. Esse laboratório integra a rede e-Tec, iniciativa do Ministério da Educação para a oferta de cursos técnicos a distância e para a formação inicial e continuada de trabalhadores egressos do ensino médio ou da educação de jovens e adultos.

     

    “O laboratório móvel permite ao produtor ver diferentes etapas da produção do café, como a torra, a moagem e o preparo da bebida”, explica o professor Leandro Carlos Paiva, coordenador do curso de tecnólogo em cafeicultura. O produtor assiste a vídeos e palestras, vê fotos que mostram os principais problemas enfrentados na cafeicultura e recebe orientação sobre as formas de evitá-los ou saná-los.

     

    Os cafeicultores também têm a oportunidade de fazer a degustação do produto para observar os efeitos ocasionados por eventuais problemas ocorridos durante o cultivo. “O propósito é obter mais qualidade e mais retorno no preço, gerando sustentabilidade para os produtores”, revela Leandro. Os produtores aprendem ainda a diferenciar as diversas qualidades e defeitos apresentados pelo café de diferentes amostras, por meio de metodologias nacionais e internacionais de classificação. “Trabalhamos desde a adubação, e os cafeicultores realmente são capacitados”, diz Leandro, que é agrônomo, com especialização em cafeicultura, mestrado e doutorado em agronomia e licenciatura plena em agricultura.

     

    No decorrer do processo, os produtores tiram dúvidas com o professor ou com estudantes como Vonilson Almeida Alves, dos cursos de engenharia agronômica e de tecnólogo em cafeicultura. Filho de um pequeno cafeicultor da região, Vonilson sentiu aumentar o interesse pelo produto durante as aulas. Sua meta para o futuro inclui mestrado na área e atividades de consultoria, ensino e pesquisa. “Quero seguir os caminhos do professor Leandro”, salienta.

     

    No câmpus de Machado, localizado em uma fazenda, os estudantes têm à disposição as diversas etapas do agronegócio relativas ao café, como mudas, maquinário, cooperativa e até uma cafeteria. Além dos cursos regulares, o instituto oferece aulas voltadas para atividades de interesse da comunidade, que não exigem pré-requisitos. Assim, é possível participar de cursos de barista (especialista no preparo do café) e que ensinam a torrar e a preparar o café de diferentes maneiras.

     

    Equoterapia — O trabalho desenvolvido pelo Centro de Equoterapia do câmpus de Machado foi outro destaque da exposição do instituto na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Inaugurado em agosto deste ano, o centro oferece atendimento gratuito a pessoas com deficiência. Uma equipe básica do centro, formada por um profissional de equitação, uma psicóloga e um fisioterapeuta, conforme as normas da Associação Nacional de Equoterapia (Ande), atende dez pessoas atualmente, às sextas-feiras.

     

    De acordo com a Ande, a equoterapia é um método terapêutico que usa o cavalo em uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação para o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência. As atividades do centro são acompanhadas por um grupo de 24 estudantes dos cursos de técnico em agropecuária e de engenharia agronômica, liderados pela professora Daiane Moreira. Para esse trabalho, eles recebem treinamento especial. “Os alunos aprendem a lidar com pessoas que apresentam dificuldades especiais, e isso tem gerado uma diminuição de preconceitos”, destaca Daiane.

     

    De acordo com a professora, a participação dos estudantes faz parte da disciplina do curso técnico em agropecuária – atividades de pesquisa, extensão e cultura (Apec), na qual os alunos escolhem uma atividade. Os alunos do curso superior participam por livre escolha, pois a atividade não está ligada a nenhuma disciplina. Com graduação em zootecnia e mestrado em ciências veterinárias, Daiane faz doutorado em zootecnia, com linha de pesquisa em equinocultura. (Fátima Schenini)

     

    Saiba mais no Jornal do Professor, na rede e-Tec e na página do Instituto Federal do Sul de Minas na internet

     

     

     

  • A disciplina é uma das mais temidas pelos alunos do ensino médio. Já serviu até de inspiração para Renato Russo e a Legião Urbana. Mas na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, em Ji-Paraná, município de 120 mil habitantes em Rondônia, um projeto pedagógico fez a diferença na rotina das aulas, ao estimular a pesquisa e a curiosidade dos alunos do ensino médio. Eles deixaram de ter motivos para repetir o refrão da música Química, que fala do ódio de um estudante à matéria.

    O projeto, Qualidade da Água: Sinônimo de Vida Saudável, elaborado pelo professor Geremias Dourado da Cunha, 26 anos, foi distinguido na sexta edição do Prêmio Professores do Brasil, promovido pelo Ministério da Educação. Os alunos do primeiro e do segundo anos do ensino médio foram instigados a pesquisar a qualidade da água nos poços artesianos da comunidade rural de Nova Londrina, com dois mil habitantes, a 20 quilômetros de Ji-Paraná.

     

    O resultado inédito da análise surpreendeu professor e estudantes. Antes de a turma iniciar os testes químicos, havia a suspeita de que a qualidade da água dos poços seria superior à da rede de abastecimento. “Antes da pesquisa, acreditava-se que a água fornecida pela unidade distribuidora era ruim e responsável por problemas de saúde, como disenteria”, explica o professor. “Mas, por conta do cloro, é a mais apropriada para beber.”

     

    Para chegar ao resultado final, os alunos coletaram dados dos 87 poços, usados por 122 casas da comunidade. De acordo com a análise básica, feita pelos estudantes com material fornecido pela Universidade Federal de Rondônia, verificou-se a acidez da água e a quantidade de ferro. Paralelamente, outra pesquisa da universidade avaliou o índice de coliformes, considerado alto na água dos poços.

     

    Composição — “Os alunos do ensino médio estudaram a composição química da água e aprenderam que o pH deve estar entre 6 e 8 para não prejudicar a saúde”, esclarece o professor. “A água dos poços indicou 9, inapropriado, que pode causar disenteria.” Em química, pH é o símbolo para a grandeza físico-química potencial hidrogeniônico, que indica a acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma solução aquosa.

     

    “Esse resultado surpreendeu, pois achávamos que a água dos poços fosse mais satisfatória que a da unidade abastecedora”, revela Cunha.

     

    O problema de saúde só não é maior porque em alguns poços é alta a concentração de ferro, que resulta, porém, em sabor ruim. “A água dos poços com alta concentração de ferro não é usada para beber, mas para irrigação e lavagem de roupa”, ressalta.

     

    Cunha é formado em ciências biológicas, com especialidade em educação e gestão ambiental. Ele cursa o quinto semestre de química no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia.

     

    O grande mérito do projeto, para Cunha, é mostrar a química no dia a dia. Os alunos se entusiasmam e aprendem mais facilmente. “Essa parte da matéria — para o que serve o pH e como ele pode ser identificado —, passou a ter interesse maior porque os estudantes puderam relacionar a teoria à prática”, destaca. “A química ficou menos chata porque perdeu a abstração de quando a gente está na sala de aula.”

     

    Empolgado com o projeto, que conquistou o primeiro lugar também no Prêmio Construindo a Nação 2011-2012, em Rondônia, o professor já deu início ao próximo, na área de química e biologia para o ano letivo de 2013.  “Vamos catalogar as plantas medicinais que a população de Nova Londrina usa, pesquisar as propriedades químicas e contrapor a crença com a ciência”, explica.

     

    Uma dessas plantas é a noni (Morinda citrifolia), de origem asiática, que tem fama de propriedades anticancerígenas e de combater vários tipos de doenças. Além de fazer chá, os moradores de Nova Londrina usam a planta no preparo das chamadas garrafadas.

     

    “Trabalhamos muito com projetos na escola, e todos os alunos se dedicam”, afirma a diretora da instituição, Nair Fraga Pontes.

     

    Rovênia Amorim

     

     

     

     

     

     

     

  • O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano participou da exposição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, de 21 a 27 de outubro último, em Brasília, com experiências na área de química e de produtos elaborados pelos estudantes, como vinhos. Também apresentou obras publicadas por professores nas áreas de tecnologia, sociologia e ciências humanas.

     

    Aluno da licenciatura em química no câmpus de Petrolina, Edson Reis contribuiu, com demonstrações de experiências científicas, para despertar a curiosidade dos visitantes. Estudante do último ano, ele pretende fazer mestrado e dedicar-se ao magistério. “Considero a química uma das ciências mais aplicáveis ao cotidiano, pois engloba elaboração e ingestão de alimentos e rotinas de higiene e limpeza, por exemplo”, explica.

     

    Para o professor Ednaldo Gomes, que leciona biologia, microbiologia e meio ambiente e desenvolvimento, a participação em um evento como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia é importante para fechar o processo de ensino, pesquisa e extensão realizado pela instituição. “Aqui, não apenas mostramos nossa produção, mas nos aproximamos do público e fazemos essa ponte, tão necessária, entre a ciência, a tecnologia e a sociedade, papel primordial das instituições federais de ensino”, destaca.

     

    Com cinco câmpus — Petrolina, Petrolina Zona Rural, Floresta, Ouricuri e Salgueiro —, a instituição oferece cursos variados, como tecnologia em viticultura e enologia, tecnologia em alimentos, tecnologia em horticultura, licenciatura em química, licenciatura em música, bacharelado em agronomia, técnico em agroindústria, técnico em agricultura e técnico em agropecuária.

     

    “Para divulgar a cultura regional, levamos ao evento uma banda de forró, integrada pelos próprios alunos do instituto”, diz Ednaldo. Graduado em ciências biológicas, com mestrado em genética e doutorado em engenharia ambiental, ele está há 12 anos no magistério, três dos quais no instituto.


    Fátima Schenini

     

    Saiba mais no Jornal do Professor e na página do Instituto Federal do Sertão Pernambucano na internet

  • Professores e alunos da educação básica têm um espaço à disposição na Universidade de Brasília (UnB) para participar de atividades de experimentação nas áreas de química e ciências em geral. É o Laboratório de Pesquisas em Ensino de Química (LPEQ), criado pelo professor Roberto Ribeiro da Silva, em 1993, com o objetivo de desenvolver estudos e pesquisas no ensino da disciplina.

     

    O interesse pela química surgiu para Roberto quando ele cursava o ensino médio. “Tive professores que ainda estudavam no curso de química e souberam dar aulas que motivaram os alunos”, destaca. Bacharel em química, com mestrado e doutorado na área, ele é professor universitário desde 1969, com passagem também pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

     

    O LPEQ recebe em torno de 1,5 mil visitantes por ano — aproximadamente 1.350 alunos e 150 professores —, provenientes de escolas públicas e particulares do Distrito Federal e de municípios vizinhos. No local, que funciona no próprio Instituto de Química, no câmpus Darcy Ribeiro, no Plano Piloto de Brasília, professores e alunos da educação básica têm oportunidade de participar de minicursos e oficinas e recebem assessoria para o desenvolvimento de atividades como a realização de exposições de ciências nas escolas. “Nossa função é, em parceria com esses professores, diagnosticar situações-problema e propor soluções possíveis e viáveis para as questões identificadas”, analisa Roberto.

     

    Uma das contribuições do LPEQ tem sido a de incentivar a criação de salas-ambiente nas escolas, em lugar de laboratórios. “Em uma sala-ambiente de química ou de ciências os professores podem usar modalidades didáticas diferenciadas, tais como experimentos, aula teórica normal, projeção de vídeos e filmes, discussões em pequenos grupos, seminários, exposição de painéis etc.”, explica o professor. Ele destaca, além disso, o custo de montagem e manutenção de uma sala ambiente, bem inferior ao de laboratórios tradicionais.

     

    “Na perspectiva de ensino em sala-ambiente, temos desenvolvido dezenas de experimentos simples e de baixo custo que podem ser usados também nas salas tradicionais das escolas”, esclarece. Esses experimentos incluem temas interdisciplinares e contextualizados, como atmosfera, água, alimentos, metais, energia e polímeros. No LPEQ ocorrem ainda experimentos voltados para temas disciplinares, como ligações químicas e interações intermoleculares, equilíbrio químico, cinética química, métodos de separação e estrutura da matéria, entre outros.


    Visitas — O laboratório também é responsável pela promoção de palestras de divulgação científica para professores e alunos da educação básica, por meio do Projeto UnB Tour. As visitas semanais podem ser agendadas pelo telefone (61) 3107-6307.

     

    Depois de 20 anos, o professor Roberto passou a coordenação do laboratório para as professoras Renata Cardoso de Sá Ribeiro Razuck e Patrícia Fernandes Lootens Machado, também do Instituto de Química da UnB. Os professores do DF e Entorno podem marcar atendimento pelos telefones (61) 3107-3814 (LPEQ), 3107-3903 (professora Renata) e 3107-3811 (professora Patrícia).


    Fátima Schenini

  • Projeto desenvolvido nas aulas de química contribuiu para mudar os hábitos alimentares dos estudantes do ensino médio do Instituto Estadual de Educação Aimone Soares Carriconde, em Arroio Grande (RS). “Os alunos tornaram-se mais críticos a respeito dos produtos vendidos na cantina e apresentaram sugestões de cardápio para a merenda escolar”, diz o professor Ivan Nunes Gonçalves, autor do projeto Alimentos, Eis a Questão!

    De acordo com Ivan, ao estudarem conteúdos relacionados a termoquímica, os alunos tiveram a oportunidade de aprender sobre as calorias dos alimentos. Então, após discussões e debates sobre o cardápio da merenda da escola, sugeriram alterações. Dentre elas, a inclusão de frutas variadas. O professor explica que os estudantes organizaram diferentes cardápios, sempre atendendo às necessidades de calorias diárias recomendadas.

    Além da conscientização dos alunos sobre a importância de uma alimentação saudável, o projeto acrescentou conhecimento sobre os processos de armazenamento e conservação de alimentos. Ivan destaca a realização de oficinas de rotulagem para ensinar pais e alunos a verificar, nos rótulos, os aditivos contidos nos produtos e se eles são necessários ou não. “Muitos alunos mudaram radicalmente hábitos alimentares e, além disso, passaram a realizar atividades físicas”, revela.

    Integrante do grupo de vencedores da sexta edição do Prêmio Professores do Brasil, em 2012, o projeto foi proposto a partir da observação de diversos casos de obesidade infantil, hipertensão e diabetes na escola. Também motivaram a iniciativa os questionamentos dos alunos nas aulas de química — quais os alimentos mais saudáveis? Deve-se evitar os industrializados? Como entender os rótulos?

    As atividades incluíram palestras com nutricionistas e bioquímicos; produção de impressos informativos sobre diferentes tipos de gorduras e hipertensão; produção de vídeos e programas de rádio sobre alimentos e alimentação; cálculos estequiométricos (cálculo das proporções dos elementos que se combinam ou reagem) das calorias dos alimentos e realização de pesquisas na internet sobre tipos de gorduras e alimentos, entre outras atividades. Professor de química e de matemática, há 28 anos no magistério, Ivan leciona na Escola Estadual Ministro Francisco Brochado da Rocha.

    Na visão do diretor do Instituto Aimone Carriconde, Carlos Alberto Pereira da Silva, o projeto é importante por orientar a oferta constante de alimentação saudável, compatível com as faixas etárias dos estudantes. Ele cita como exemplo o fato de a cantina da escola ter interrompido a venda de refrigerantes a partir da realização do projeto.

    “Ao falarmos dos benefícios surgidos com o projeto, questões como a escolha e o modo do preparo dos alimentos, classes, tipos e necessidade deste ou daquele alimento ficam evidenciadas, bem como a associação da atividade física à alimentação”, ressalta Carlos Alberto. Professor de educação física, com 25 anos de magistério, ele atua há seis na direção da escola.

    Fátima Schenini

    Saiba mais no Jornal do Professor e no blogue do IEE Aimone Soares Carriconde.

  • Experiências com a culinária são usadas por professores para explicar mais facilmente conceitos de microbiologia, bioquímica e até conteúdos de física (foto: arquivo UFMG)A receita do nosso pão de todo dia pode fazer milagres na sala de aula. Ao amassar os ingredientes com as mãos, estudantes compreendem que reações químicas e biológicas ocorrem no nosso cotidiano e podem ser apaixonantes. Juntar o microscópio e o fogão para oficinas de ciências na culinária é uma ideia da bióloga e professora de genética Adlane Vilas-Boas, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB–UFMG).

    “Como eu gosto de fazer comidas simples e saborosas, e a cozinha aproxima as pessoas ao redor da mesa, quis popularizar a ciência pela culinária”, explica Adlane, que tem mestrado em genética e biologia molecular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutorado em genética pela University of British Columbia. Ao fazer o pão na cozinha da escola, segundo ela, o professor pode explicar mais facilmente conceitos de microbiologia, bioquímica e até conteúdos de física.

    “É preciso aproveitar a curiosidade dos alunos ao redor de algo que todos gostam”, ensina. Da mistura dos ingredientes ao pão assado, o aluno vê diante dele várias etapas de conhecimento científico — pode visualizar no microscópio as proteínas da farinha de trigo, que no movimento de sovar a massa passam por reações necessárias à formação do glúten.

    E que substância é essa? É uma proteína responsável pela elasticidade da massa produzida com farinha de trigo. A professora Adlane dá a dica de lavar vagarosamente a massa do pão em água corrente. “O amido vai embora e sobra o glúten, que é uma substância emborrachada”, conta.

    Na biologia, o professor pode explorar o sistema nervoso, como funciona a química dos receptores para o gosto e o olfato. Sabe o cheirinho bom de bolo assado ou bife acebolado? Pois então, é um exemplo de química que os alunos desconhecem. “Em altas temperaturas, a mistura de proteínas e carboidratos resulta em moléculas voláteis, que vão para o ar e instigam o nosso olfato”, explica Adlane.

    Esse é o conceito da reação química de Maillard [Louis Camille Maillard, médico e químico francês (1878-1936)]. “Muitas pesquisas vêm sendo feitas atualmente tentando produzir sinteticamente a substância, que é produzida em altíssimas temperaturas e dá o gostinho bom do alimento”, ressalta a bióloga. Pela reação de Maillard, obtêm-se moléculas voláteis, que dão sabor, odor e cor aos alimentos, como, o dourado dos alimentos assados ou do bife frito.

    Experimentação — Professor de química do Colégio Técnico da UFMG, Alfredo Luís Martins Lameirão Mateus diz que a culinária pode ser usada como atividade prática para experimentação e explorações. Se bem usada, segundo ele, pode levar o aluno a entender melhor como funciona a ciência, e ver a química como algo ao seu alcance, que acontece o tempo todo ao seu redor.

    Como em química estudam-se os materiais e sua transformação, Mateus explica que para cozinhar é preciso conhecer as propriedades dos alimentos e controlar sua transformação até o ponto certo. “As coisas que acontecem no dia a dia são mais familiares, os materiais são em geral baratos e fáceis de conseguir, os experimentos são mais seguros — alguns são até comestíveis — e as pessoas em geral têm curiosidade sobre o assunto”, comenta.

    Quais, por exemplo, os fatores que afetam a velocidade de uma reação? O professor explica que é possível listar os fatores e pedir aos alunos que os memorizem ou criar situações em que eles mesmos explorem as reações e cheguem a conclusões. “Então, pode-se comparar o tempo de cozimento em diferentes temperaturas, com o alimento em pedaços grandes ou pequenos, fazer experimentos que lidem com a conservação dos alimentos e saber por que usamos a geladeira”, exemplifica Mateus, que tem mestrado em química pela Universidade de São Paulo (USP-SP) e doutorado pela Universidade da Flórida.

    “O mundo da cozinha é um universo muito rico para a ciência”, comenta a professora Adlane. A culinária está nas salas de aula também das universidades, em laboratórios onde se trabalham as ciências e as relações culturais. No microscópio, é possível ver o que ocorre no processo de levedura, a multiplicação celular. “É interessante observar o grão de amido, no início em grande quantidade, ir sumindo do microscópio à medida que o pão cresce porque o amido é transformado em açúcar, álcool e gás carbônico, que são aquelas pequenas bolhas.”

    O ciclo de aprendizagem na cozinha pode incluir ainda o sistema digestório e as reações químicas dos alimentos no organismo. “Boa parte dos alunos tem muita curiosidade pela ciência”, afirma o professor Mateus. “Em uma situação mais informal, sem ter de memorizar fórmulas e realizar cálculos repetitivos, eles demonstram bastante interesse pelo assunto.”

    De acordo com o professor, basta ver o sucesso dos inúmeros vídeos sobre experimentos no YouTube. “A questão envolve tornar as aulas mais contextualizadas e tornar o aluno responsável pelo seu aprendizado, mais engajado na aula”, salienta. Segundo ele, as aulas em que os alunos ficam passivos, só ouvindo o professor falar, têm tudo para dar errado.

    No Portal do Professor do Ministério da Educação há conteúdos de ciência na culinária que podem ser aplicados em sala de aula. “A culinária é algo que permite trabalhar os conceitos a partir dos fenômenos, usar experimentos de forma mais investigativa e que engajem os alunos”, acrescenta Mateus.

    Rovênia Amorim

    Saiba mais no Jornal do Professor e nas páginas do ICB–UFMG e do Colégio Técnico da UFMG
Fim do conteúdo da página