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  • Alessandro considera a educação um processo dinâmico, com ativa interação entre professor e aluno: “Na medida do possível, respeitando as normas e seguindo o currículo vigente, minhas aulas são divertidas e participativas” (foto: arquivo do professor Alessandro Reis)Há 20 anos no magistério, com atuação em duas escolas do Distrito Federal, o professor Alessandro Santana Reis diz que trabalhar com educação é sua vocação e sua vida. “Não há nada que eu faça melhor e com mais satisfação do que ensinar. É o poder de transformar, de construir, de modificar positivamente as pessoas e a sociedade”, afirma.

    Professor de biologia e de ciências naturais, ele explica que o gosto pela profissão começou cedo. Com muita facilidade para ensinar, costumava dar aulas aos primos e aos colegas de escola. O interesse pela biologia surgiu no primeiro ano do ensino médio, quando precisou estudar as matérias sozinho, por não ter bom professor. A paixão pela biologia aliou-se, então, à paixão pela docência. Teve, então, a certeza da escolha: “Seria um professor, com grande orgulho do papel que teria de desempenhar”, destaca.

    Para ele, a educação é um processo dinâmico, no qual o professor e o aluno precisam interagir ativamente. “Devem ser momentos agradáveis, prazerosos, para os alunos e para mim”, diz. “Na medida do possível, respeitando as normas e seguindo o currículo vigente, minhas aulas são divertidas e participativas.”

    Segundo Alessandro, a empolgação renova-se a cada aula, pois um assunto que não interessa a alguns pode ser extremamente atraente para outros. “Ao longo de uma manhã ou mesmo da semana, são feitos os vários ajustes necessários para compatibilizar disciplina, aprendizagem, conteúdo e satisfação”, analisa. “O desejo de aprender dos alunos é um propulsor superpotente.”

    O professor costuma trabalhar com projetos nas duas instituições. “Na escola pública, o espaço curricular, denominado Parte Diversificada, permite que a escola selecione bons projetos e os execute”, salienta. Atualmente, ele trabalha com um projeto de educação sexual, que abrange todo o ano letivo e tem o objetivo de reduzir o número de jovens contaminados com doenças sexualmente transmissíveis (DST) e de adolescentes grávidas.

    Realidades — Com graduação em ciências biológicas e especialização em educação, Alessandro trabalha nos três turnos. De manhã, leciona biologia no Centro Educacional Sigma, unidades Sul e Norte do Plano Piloto de Brasília. Nessa instituição também é coordenador de cadeira. Ele trabalha com alunos do terceiro ano do ensino médio que se preparam para o Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB), para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e para os vestibulares tradicionais. À tarde, dá aulas de ciências naturais a alunos da sétima série (oitavo ano) no Centro Educacional 4, do Guará, escola da rede pública do Distrito Federal, da qual é professor concursado. Nessa mesma escola, à noite, ocupa o cargo de supervisor pedagógico da educação de jovens e adultos (EJA).

    Embora vivencie realidades distintas nas duas instituições, Alessandro considera o professor como o elemento mais importante no processo de ensino-aprendizagem. “A ausência de alguns recursos não impede o trabalho do professor, mas, exige muito mais dele”, avalia. O segredo para ser um bom professor, ressalta, é acreditar no poder transformador da educação e no potencial dos alunos, estudar, dedicar-se à profissão e trabalhar com amor. “Esses fatores, somados, são os eixos fundamentais para que um professor possa ser considerado um bom profissional.”

    Fátima Schenini

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  • A professora Ruth promove sessões de leitura com os alunos, na biblioteca da escola: “Cada criança deve ser conquistada, com carinho e paciência” (foto: arquivo da professora Ruth Santos)Há 23 anos no magistério, Ruth Julio dos Santos sempre desejou ser professora. Quando criança, brincava de dar aulas. Graduada em pedagogia, desenvolve atividades na biblioteca da Escola Municipal Santa Catarina, no município de Imbé, litoral gaúcho, com turmas que abrangem desde a educação infantil até o quinto ano do ensino fundamental.

    O carinho com os alunos é considerado por Ruth um fator importante para a aprendizagem. “A professora tem de conquistar cada criança, com carinho e paciência”, ressalta. Na biblioteca, ela promove A Hora do Conto, com fantoches ou livros, de acordo com a faixa etária dos estudantes.

    Nesse período de mais de 20 anos no magistério, Ruth tem acompanhado a trajetória de muitos estudantes. Muitos a convidam para participar de festas de aniversários, batizados, formaturas e casamentos. “Os alunos cresceram e hoje têm filhos. Já dei aulas também para filhos de ex-alunos”, destaca.

    Carinho é fator importante também para Rosana Severo Spreckelsen da Cunha, professora de educação física em turmas da pré-escola até nono ano do ensino fundamental na Escola Municipal Antonio Gonçalves do Amaral, no município de Santa Maria, também no Rio Grande do Sul. “As crianças geralmente são carentes, pois ficam pouco tempo com os pais e costumam ser carinhosas com as professoras. Às vezes, me chamam de mãe”, revela. Ela observa que os adolescentes costumam ser mais reservados.

    A educação física sempre fez parte da vida de Rosana. Filha de professores e casada com um professor da disciplina, ela acredita que o segredo para ser um bom profissional é fazer o que gosta. “É fundamental passar entusiasmo aos estudantes porque eles percebem quando o professor está realmente fazendo aquilo que gosta e em que acredita”, observa. Rosana está no magistério há 25 anos.

    Interação — Para a pedagoga Maria Ivone Alves Serpa, de Porto Alegre, o vínculo que o professor estabelece com o aluno é importante para o processo ensino-aprendizagem. “Se o aluno tem uma dificuldade, procuro entendê-lo”, diz.

    Há 39 anos no magistério, com experiência como professora em todos os níveis, como orientadora educacional e como supervisora escolar, Maria Ivone não esquece uma turma de segundo ano do ensino fundamental para a qual que deu aulas anos atrás. “Eram alunos considerados difíceis, mas eu sempre dizia a eles que eram muito inteligentes”, explica. Embora tenham mudado de escola, aqueles estudantes fizeram questão de convidar a antiga professora para a formatura.

    De acordo com Maria Ivone, hoje na Secretaria de Educação do estado, as aulas eram tranquilas. “Eu sempre dava um tempo para eles conversarem. Isso é entender a fase em que estão”, avalia. “Nunca facilitei nada. Sou exigente, mas sem maltratar e sem humilhar.”

    Fátima Schenini

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  • A escola gaúcha destaca-se pelo processo de construção, resgate e valorização da identidade cultural da comunidade (foto: informaticamontenegro.blogspot.com)Prestes a completar 30 anos de magistério, a professora Ruti Kniest defendia, no início da carreira, que as escolas rurais, multisseriadas, sem infraestrutura física e humana, deveriam ser fechadas, com a transferência dos estudantes para escolas maiores, próximas à cidade. Após três décadas e diferentes experiências profissionais, a professora pensa de forma diferente. “Ao contrário, considero necessário que os órgãos públicos fortaleçam as escolas e as comunidades com uma política séria de recursos físicos e humanos”, enfatiza.

    Desde 2013, Ruti leciona na Escola Municipal de Ensino Fundamental Etelvino de Araújo Cruz, na área rural, a 30 quilômetros da sede do município gaúcho de Montenegro. A opção da professora pela escola deve-se ao destaque obtido pela unidade de ensino no processo de construção, resgate e valorização da identidade cultural da comunidade na qual está inserida.

    A instituição tem 280 alunos, matriculados em turmas que vão da educação infantil ao nono ano do ensino fundamental. Eles são atendidos por 25 professores e quatro funcionários. “Meus colegas e eu temos formação superior; quase todos são especialistas em alguma área educacional”, diz. “Alguns têm mestrado em educação.” De acordo com a professora, é uma realidade diferente daquela vivenciada no início da carreira.

    Com graduação em pedagogia, pós–graduação em gestão educacional (supervisão e orientação) e vários cursos na área de alfabetização, Ruti trabalha com turmas do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental. Para ela, a tarefa da professora que atua com alunos dessas turmas é aproximar o conhecimento escolar das vivências do mundo infantil. “É estimular a criatividade, a curiosidade, a alegria de conhecer coisas novas, mas também a possibilidade de valorizar os conhecimentos e as vivências da comunidade”, diz. Ela enfatiza a necessidade de estimular as crianças a conhecer e apreciar suas raízes. Quando forem adultas, elas poderão olhar com orgulho para sua origem e sua história. “A cor e o sabor das aulas dependem da nossa curiosidade em buscar”, afirma. “Em olhar para o mundo que está a nossa volta, em nunca deixar de ter curiosidade e buscar conhecimento.”

    Ruti mostra satisfação ao trabalhar com duas colegas que foram suas alunas. “São meninas do interior, que levaram os sonhos adiante, buscaram aperfeiçoamento profissional em especializações e mestrado”, diz. “Hoje, voltam para a sua localidade para continuar o ciclo de construir caminhos para aqueles que vêm. Neste sentido é que tenho esperança no futuro.”

    As crianças da área rural, hoje, segundo a professora, têm mais possibilidades de avançar e escolher o local de atuação, na cidade ou no campo, com respeito à própria história de vida. “É esse movimento que faz as gerações evoluírem.”

    Fátima Schenini

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  • Para a professora Jailde, o magistério, além de vocação, é missão: “Ensinar aos filhos dessa terra é um compromisso com meu povo”Moradora do Quilombo Jiboia, no município baiano de Antonio Gonçalves (11 mil habitantes), a professora Jailde Lima da Silva tem a oportunidade de lecionar na Escola Municipal Araguacy Gonçalves, na própria comunidade. “Sou filha desse quilombo”, diz. “Sinto estar realizada como professora de uma comunidade que retrata minha identidade.”

    Para Jailde, ser professora, além de vocação, é missão. “Ensinar aos filhos dessa terra é um compromisso com meu povo, que teve seus direitos negados ao longo de sua vida”, diz. “Sinto na pele o que é ser filha de pais analfabetos, que não tiveram a oportunidade de frequentar uma escola, não por escolha, mas por ter esse direito negado durante muitos anos.”

    Além da escola Araguacy Gonçalves, que tem 85 alunos matriculados no ensino fundamental e na educação de jovens e adultos, além de outros 32 no Projovem Campo – Saberes da Terra, o quilombo conta com uma escolinha de educação infantil e uma extensão do Centro Territorial Piemonte Norte do Itapicuru (Cetep), que oferece cursos profissionalizantes. O Projovem Campo é um programa nacional de fortalecimento e ampliação do acesso e da permanência de estudantes no sistema formal de ensino. São atendidos, basicamente, jovens agricultores familiares na faixa etária de 18 a 29 anos.

    De acordo com a professora, a escola quilombola inclui em sua proposta político-pedagógica a valorização da cultura local, o que a torna diferente. “Ela trabalha de fato com a identidade do povo quilombola, respeita a cultura, a religiosidade, os saberes e fazeres da comunidade, e trata as relações étnicas e raciais como folclore apenas nas datas comemorativas”, analisa.

    Oportunidades — Segundo Jailde, é possível perceber um avanço significativo na comunidade. “A educação abriu vários caminhos e oportunidades; eu sou prova real dessa mudança”, afirma a professora, que tem graduação em pedagogia e especialização em gestão escolar. “Quatro filhos da comunidade conseguiram cursar uma faculdade, passar em um concurso público e ser efetivados”, diz. “Ainda é muito pouco, mas são conquistas que minha mãe não teve.”

    As oportunidades de acesso à escola, abertas atualmente a crianças e jovens, são destacadas pela professora baiana. Ela cita itens como o transporte escolar e o livro didático, oferecidos gratuitamente pelo Ministério da Educação. “Na minha infância, não havia escola; eu frequentava uma casa de família, onde eram reunidas crianças com idade acima de oito anos para serem alfabetizadas.”

    Como a professora era a madrinha de Jailde, ela pôde participar desses encontros a partir dos dois anos, acompanhando os irmãos. “Meus pais trabalhavam na roça, e não tinha quem cuidasse de mim”, revela. O resultado é que Jailde conseguiu se alfabetizar aos cinco anos. Há 15 anos no magistério, ela leciona as disciplinas de história, geografia, sociologia e filosofia para estudantes do Projovem Campo.

    Fátima Schenini

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  • Arte: Mário Chesini/MECTrabalhar na instituição onde estudou dos 6 aos 14 anos tem sido gratificante para a professora Simone Lessa, diretora da Escola Municipal Narciso Macedo, no município fluminense de Iguaba Grande. “Tenho um sentimento de gratidão por essa escola. Sinto que posso contribuir com a comunidade e com a história da instituição que fez e faz parte da minha vida”, destaca.

    Professora de língua portuguesa e de língua inglesa, há 14 anos no magistério, Simone diz que ser educadora é uma missão, da qual sente muito orgulho. “Lecionar é participar da formação do indivíduo como um todo”, diz. Professora na instituição durante 13 anos, há dois na direção, ela explica que sempre teve vontade de voltar às raízes a fim de retribuir por tudo o que recebeu.

    Nesse período de atuação como diretora, Simone retomou projetos socioculturais e pedagógicos, como a banda marcial, a realização de gincanas e de outros eventos, com a participação da comunidade. Também promoveu melhorias na estrutura física da unidade de ensino e implantou o sistema de exame simulado a fim de preparar e capacitar os estudantes para as provas e para a vida profissional.

    Segundo a educadora, a escola, que completou 80 anos em agosto, passou por várias situações difíceis, a ponto de ser cogitado seu fechamento, em razão do baixo número de alunos. Graças a um grupo de profissionais, que assim como Simone, têm carinho e respeito pela instituição, a escola pôde renascer. “Estou feliz por contribuir para o bom desempenho da instituição”, ressalta.

    Apesar dos problemas, a escola sempre se destacou pelas excelentes realizações durante todos esses anos. “Podemos perceber que sua história aqui na comunidade é muito importante e sua influência, muito forte; praticamente, quase todo o bairro teve a formação básica aqui”, diz Simone. “Por isso, há um sentimento de respeito e gratidão, comum entre alunos, funcionários, ex-alunos, ex-funcionários e comunidade.”

    A escola tem, atualmente, 122 alunos matriculados em turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental, nos turnos da manhã e da tarde.

    Fátima Schenini

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  • Um “chamado da sociedade” fez o engenheiro José Thiago da Silva Muniz, 46 anos, tornar-se professor de física e matemática. Há 11 anos, a Secretaria de Educação de Pernambuco convocou profissionais com bacharelado em cursos da área de exatas para suprir a carência de professores. “Os alunos estavam sem aula. Senti a responsabilidade de repassar algum aprendizado para aquelas pessoas tão carentes, que tinham todo o direito ao conhecimento, como eu tive um dia”, lembra Muniz.


    Assim como ele, milhares de professores atuam na área por talento e vontade de fazer a diferença. Entretanto, uma parcela não tem formação adequada. Para tornar-se professor, é necessário ter diploma de licenciatura nas áreas específicas ou em pedagogia, para as séries iniciais.


    Doutora em educação e pesquisadora na área de formação de professores, Kátia Augusta Cordeiro da Silva, da Universidade de Brasília, diz que não apenas dom e técnica formam um professor. “Um professor precisa ter um conhecimento específico da sua área e saber como repassá-lo. Sua formação é a de um profissional capaz de mediar o saber”, afirma.


    De acordo com Kátia, os cursos de licenciatura consistem em um conhecimento teórico e prático relacionado à construção do profissional no processo de ensino e aprendizagem. Entre as disciplinas básicas do curso estão a ética, a estética e as políticas para a educação. “É estudar a formação do sujeito, compreender as técnicas do processo pedagógico, adquirir competência técnica do seu campo de formação e proporcionar um prazer pelo conhecimento”, explica.


    O engenheiro José Thiago, que leciona em uma escola pública de Recife, sabe dessa diferença e pretende ingressar em um curso de licenciatura. “Sempre gostei de dar aulas. Reunia os colegas para ensinar no colégio e na universidade. Sei que tenho o dom, mas minha preocupação é apenas levar conhecimento e cidadania a essas crianças e adolescentes.”


    José Thiago só precisa de tempo para se dedicar a um curso de licenciatura, pois ainda se divide entre a sala de aula e o escritório de engenharia.


    Visão — Coordenadora de pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ângela Soligo diz que não basta conhecimento específico de matemática, física ou língua portuguesa para se tornar um professor, como nos cursos de bacharelado. “Para se tornar um professor, é preciso ter conhecimento da história da educação, das políticas da área, como elas interferem na vida de cada um”, destaca. “É preciso saber psicologia, sociologia, filosofia para entender como o conhecimento específico se relacionada com a sociedade com a organização do sistema educativo. Essa é uma formação que o bacharelado não dá.”


    No passado, o bacharelado era considerado um curso de formação de pesquisadores e a licenciatura, de professores. Ângela entende que a história mudou. “Hoje, o professor também é um pesquisador da educação. A diferença é que ele também é um formador”, avalia.


    Segundo Ângela, o professor com formação adequada tem uma visão mais ampla da escola e da sociedade. “Ele conhece a relação entre professor e aluno, entre o aluno e a vida da comunidade. Compreender tudo isso torna o profissional mais sensível às necessidades do aluno e mais engajado nas políticas educacionais.”

    Rafania Almeida

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  • Para Úrsula, o professor deve, além de ensinar, atuar com base na realidade da sociedade em que vive: “Temos de saber entender o mundo da criança de hoje, o que ensinar e como ensinar” (Foto: Divulgação)De etnia caiouá, Úrsula Velasques sempre morou na aldeia Taquaperi, a 15 quilômetros do município de Coronel Sapucaia, em Mato Grosso do Sul. Desde pequena, ela manifestava a vocação para o magistério, pois gostava de brincar de professora com os irmãos. Quando completou 18 anos, foi convidada a lecionar a alunos do primeiro ano do ensino fundamental. “Fiquei muito feliz e, desde então, nunca mais deixei de trabalhar”, diz Úrsula, há nove anos no magistério.

    Com licenciatura em ciências sociais, Úrsula trabalha na coordenação pedagógica da Escola Municipal Indígena Ñande Reko Arandu, no atendimento a estudantes do primeiro ao nono ano do ensino fundamental. A escola, dentro da aldeia, tem 768 alunos, 34 professores indígenas e seis não indígenas, residentes em fazendas próximas. A instituição conta com computador, acesso à internet e outros equipamentos audiovisuais.

    A escola oferece, além das disciplinas obrigatórias do currículo, aulas sobre a cultura e o modo de vida indígena (ava reko), com encontros semanais fora da sala de aula. “Nosso objetivo é fundamentar o ava reko e complementar a educação familiar, incentivando os alunos a estarem bem, além de fortalecer nossa cultura e, principalmente, nossa língua”, explica Úrsula.

    Para ela, o principal papel do professor é ensinar. Faz a ressalva, porém, de que o profissional deve também saber atuar com base na realidade da sociedade em que vive. “Cada lugar é diferente”, observa. “Temos de saber entender o mundo da criança de hoje, o que ensinar e como ensinar.”

    Úrsula acredita que o educador precisa estar sempre atualizado, estudar e se aprofundar para ter firmeza em sala de aula. “Nada é mais prazeroso quando gostamos daquilo que estamos fazendo”, ressalta. Ela diz gostar da vida na aldeia, pela liberdade, pelos espaços e pelo canto dos pássaros. “É um lugar melhor do que qualquer outro”, avalia.

    Fátima Schenini

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  • A passagem do Dia do Professor, em 15 de outubro, leva a algumas reflexões sobre a profissão, que ocupa 1,8 milhão de brasileiros apenas na educação básica, de acordo com dados do Censo Escolar de 2009. O número é ainda insuficiente para atender mais de 52 milhões de alunos, desde a educação infantil até o último ano do ensino médio.


    Quais as principais características de um bom professor? Como se descobre a vocação para o magistério? O que os futuros professores esperam da carreira? Segundo especialistas, o fundamental para seguir a carreira é gostar de estudar e de ensinar.


    Para a psicóloga Lílian Rose Margotto, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), duas características fundamentais podem ser encontradas nos bons professores: gostar de aprender e ter vontade de ensinar. “Quando falo em gostar de aprender, quero dizer que é preciso estar sempre pronto para encontrar com o inesperado, para os resultados imprevistos, para os efeitos que nos surpreendem, para as mais diversas atitudes diante dos fatos”, afirma Lílian Rose, doutora em educação. “Por mais que a aula esteja preparada, o resultado que ela produz é da ordem do inesperado.”


    Quanto a gostar de ensinar, explica: “É investir no outro, justamente para que ele possa superá-lo, para cultivar no outro uma autonomia progressiva que o leve, justamente, a prescindir de você.”


    Ela conta que descobriu a vocação para o magistério quando começou a dar aulas e foi “virando professora” aos poucos. “Exercer o ofício de ensinar me ensina. Aprendo, de verdade, a cada dia. Aprendi a ser professora com aqueles que foram meus professores e aprendo continuamente com os meus alunos”, salienta.


    Inventividade — Na visão do professor Marcelo Ricardo Pereira, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a profissão de professor é construída gradativamente a partir das impressões que a vida confere a cada um. “Prefiro pensar que não descobrimos em nós uma vocação para o magistério, bem à maneira essencialista; mas que construímos nossa vocação, a aprendemos e a experimentamos.”


    De acordo com Pereira, que é formado em psicologia, com formação em psicanálise e doutor em psicologia e educação, há um caráter bastante circunstancial e contingente na profissão de professor, pois quem a exerce sabe que tem de lidar cotidianamente com incertezas, descontinuidades e subversões e, ao mesmo tempo, inventar saídas rápidas para isso. “É um exercício marcado por impasses, mas também por descobertas. A inventividade deveria ser o outro nome dessa profissão”, acredita.


    Com atuação no magistério há mais de 30 anos, a secretária de educação básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar Lacerda, acredita que os professores devem ser profissionais que gostem de estudar, sempre e muito, além de serem pessoas curiosas e que respeitem a curiosidade de seus alunos. “Os professores devem gostar de conviver com as inquietudes das novas gerações”, diz.


    A carreira do magistério, segundo Maria do Pilar, tem sofrido mudanças, como todas as outras profissões, mas ela destaca como transformação positiva, que está ocorrendo, a maior preocupação da sociedade em discutir temas como educação, condições de trabalho, papel da escola e do professor. Ela defende uma política mais focada e dedicada ao professor para que ele tenha uma carreira atraente, com boas condições de trabalho e uma remuneração compatível com a formação e com a importância estratégica do trabalho que desenvolve.


    Diferença – Mas quais são as expectativas dos jovens que ainda se preparam para ingressar na carreira de professor? “Minha maior expectativa é a de que meus alunos sejam pessoas melhores e lutem por aquilo que almejam”, afirma a normalista Juliane Módena, do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, de Caxias do Sul (RS). Sua colega Karen Pereira quer contribuir, como educadora, no processo de mudança comportamental das pessoas. Karen resolveu ser professora por volta dos dez anos, quando ouviu uma professora dizer: ‘Faça o que fizer, faça a diferença’. “Desde então, decidi meu futuro profissional, percebendo que o melhor modo de fazer a diferença é atuar na formação dos cidadãos, ou seja, na educação.”

    Fátima Schenini


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