Em passeios com alunos, professor transforma as ruas da cidade em aulas vivas de história
Alguém já parou para pensar que a história, para além das páginas dos livros, é parte importante de sua vida e compõe sua trajetória pessoal? Os alunos de Severino Vicente da Silva, professor de história da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), certamente sim. Com 68 anos de idade e 50 de prática docente, ele é conhecido por tornar as ruas do Recife, capital pernambucana, em uma sala de aula viva.
“A história que nos é contada normalmente é como se fosse algo que não tivesse nada a ver com a vida da gente”, analisa o professor, personagem da série Trilhas da Educação, produzida e transmitida pela Rádio MEC nesta sexta, 27. “Em uma passagem, uma viagem que eu que faço com os alunos, eles descobrem que a história é deles.” É com essa vivência, adquirida desde cedo, quando caminhava pelas ruas de sua cidade observando tudo que o cercava, que ele transforma suas aulas em uma experiência rica.
“Durante a minha adolescência, eu pegava ônibus todos os dias, voltando para casa da escola, na frente de um edifício muito bonito”, conta Severino. “Tinha um portão de ferro belíssimo. E aí, depois, quando me formei como professor de história, a primeira coisa que eu fiz, com uma coragem muito grande, foi realizar meu sonho – visitar essa casa, que era a casa de um antigo senhor, o barão de Beberibe, e que é hoje o Museu do Estado de Pernambuco. Estava lá aberto para mim, mas eu nunca tinha tido coragem, nunca nenhum professor me levou para conhecer aquele espaço.”
Experiência – A consciência de pertencimento, de fazer parte daquele lugar que ele tanto sonhava em conhecer, posteriormente, fez o professor apostar nessa didática. As primeiras práticas vieram quando ele ainda atuava como professor da rede municipal do Recife. Agora, no curso de história da UFPE, o desafio dado a jovens e adultos é explorar a cidade e resgatar essa mesma sensação.
A maioria dos estudantes que participam dessa experiência passa a ter uma visão diferenciada dos livros. “Eles começam a ver os livros, a história, os documentos históricos com maior vivacidade, com outro olhar”, explica. Normalmente, são grupos de dez alunos atentos para as ruas, praças, pontes, monumentos e edificações – como os grandes mercados, os ambientes sacros e tradicionais construídos desde o século 17. Depois de muita anotação, estudo e debate, o professor acompanha o resultado do trabalho.
“Peço que eles escrevam um artigo em torno da disciplina, envolvendo aquilo que viram. Por exemplo, tem um lugar hoje que é um mercado de produtos estrangeiros, mas que no passado foi um cinema. Para entender o passado, é preciso ver a partir do presente. É isso que a gente trabalha com eles, porque, como professores e bacharéis, cada um deles tem que aprender escrever em cima do que vê e produzir o seu próprio documento. “
Multiplicadores – Os resultados são animadores. Segundo o professor, há relatos de estudantes que levam essa descoberta adiante. “Um dos alunos ficou muito impressionado com essa experiência e criou uma empresa para ensinar as pessoas a verem o Recife”, ilustra. “Ele me conta essa história e fica muito feliz de dizer que começou a empresa. Assim, os alunos vão se tornando multiplicadores de diversas maneiras.”
Tornar-se um bom professor e pesquisador, um profissional que acredita no que faz e dá asas aos mais diferentes sonhos são conquistas que passam pelo conhecimento e pela paixão da história, defende Severino. “A história tem que ser vista como uma coisa viva, não um documento parado; é uma coisa que continua acontecendo. Quando você entra em determinados ambientes, vê que ali está o passado e que ali está também acontecendo o presente. E tem que ver isso com a paixão, porque a história da humanidade é a história da paixão de todos nós, de buscar viver o melhor possível o nosso tempo, nosso período. ”
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Assessoria de Comunicação Social