Teresina tem uma das 33 escolas classificadas no Aprova Brasil
Teresina — A Escola Municipal Casa Meio-Norte, em Teresina, é um exemplo de boa prática pedagógica apontado pelo estudo Aprova Brasil, realizado em 2006 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Além da gestão escolar eficiente e do foco na aprendizagem, a instituição inspira-se em uma visão espiritualista, que faz da escola um modelo na rede pública.
As boas práticas surgiram da elaboração de uma proposta pedagógica diferente, resultado de estudo feito pela direção da escola com base na psicopedagogia. Didáticas Alternativas é o nome do projeto, que sistematiza as aulas e que parte de uma visão espiritual da criança. “Acreditamos que ela já tenha o conhecimento; só vamos despertá-lo”, explicou a coordenadora, Ruthnéa Vieira.
Nas segundas-feiras, quatro alunos de cada turma são escolhidos para atuar como ajudantes durante a semana. Só participam aqueles que tiverem bom comportamento. Cada um recebe um crachá e uma função. Coordenador é o aluno que auxilia a professora na distribuição do material e na organização dos outros alunos; o secretário auxilia o coordenador; o leitor lê uma história no início de cada aula e o relator é responsável por recapitular a aula do dia anterior.
Na Casa Meio-Norte não há notas, nem provas, nem recuperação. A avaliação é feita diariamente, a partir das atividades em sala. A correção das tarefas de casa é feita pelos próprios alunos, que marcam em seus cadernos símbolos de igual e diferente, em vez de certo e errado, de acordo com o gabarito que a professora coloca no quadro. Todos eles sabem em qual matéria estão indo bem e em qual precisam melhorar. A professora conversa com o aluno e o estimula a refletir sobre o aprendizado.
Em vez da tradicional recuperação, há o que a escola chama de reconstrução de habilidades, com providências imediatas. A principal é a mudança da metodologia, de modo a explorar as potencialidades naturais do aluno que não estiver indo bem. O acompanhamento é feito individualmente. “O aluno precisa ter consciência da qualidade do aprendizado”, disse Ruthnéa.
No intervalo das aulas, depois de lanchar, as crianças participam do recreio cultural. Cantam com as professoras, apresentam trabalhos realizados em sala, encenam peças de teatro, interpretam músicas e produzem coreografias, tudo relacionado com o que estão aprendendo nas aulas. Além disso, em cada turma é eleito um aluno para representar um líder pacifista da história, como Jesus Cristo, Mahatma Gandhi, Madre Tereza de Calcutá. É ali, no recreio, que o estudante incorpora o personagem e pronuncia uma frase marcante da biografia do mesmo.
Resultados — No ano 2000, quando a Casa Meio-Norte foi fundada, a distorção idade-série era de 54%. Em seis anos, por meio de turmas especiais de aceleração da aprendizagem, a escola conseguiu zerar esse índice. “Nossas crianças têm o melhor que uma escola pública pode oferecer. Não nos falta nada em termos de ferramentas e materiais, pois conseguimos administrar bem as verbas”, disse a diretora da escola, Osana Morais. Com repasses do governo federal, a escola adquiriu a primeira máquina de xerox, computadores, televisão, DVD e aparelho de som.
Situada na Vila Cidade Leste, na periferia de Teresina, a Casa Meio-Norte também recebe recursos da prefeitura e do grupo de comunicação Meio-Norte, um dos maiores do Piauí — administra um jornal, rádios, emissora de televisão e um portal na internet. A escola tem, matriculadas, 460 crianças, da alfabetização à quarta série, divididas em 18 turmas, nos turnos matutino e vespertino. No próximo ano, vai atender todas as séries do ensino fundamental.
Hoje, a escola tem 14 professoras. Seis são graduadas e oito estão na universidade. Elas ganham, em média, R$ 600,00 por 40 horas semanais. “Quando recebemos uma certificação como essa, do Aprova Brasil, trabalhamos ainda mais. Temos amor pelo que fazemos”, disse Ruthnéa, com orgulho.
Leticia Tancredi