Alfabetização infantil no RN é avaliada
Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) avaliou a alfabetização de 24,5 mil alunos potiguares, em 2.160 escolas públicas das redes municipais e estadual. Alunos de todos os 167 municípios do Rio Grande do Norte participaram de atividades para identificar o estágio de leitura e escrita dos estudantes após dois anos de alfabetização. Foram avaliados somente alunos de oito e nove anos matriculados no 3º ano do ensino fundamental.
A pesquisa mostra que a maioria dos alunos avaliados não consegue ler ou escrever, os professores recebem salários baixos e 60% das escolas não têm bibliotecas. O diagnóstico foi apresentado nesta quinta-feira, 8, pela professora Denise Lopes, da UFRN, durante o 6º Grupo de Trabalho das Capitais e Grandes Cidades, que ocorre até dia 9, em Brasília.
Ainda em fase de análise dos dados, a pesquisa resulta de parceria entre o Ministério da Educação, a UFRN, a União dos Dirigentes Municipais do Rio Grande do Norte (Undime/RN) e a Secretaria Municipal de Educação de Natal. O objetivo do diagnóstico da alfabetização das crianças é oferecer subsídios para melhorar a qualidade do ensino no estado, que teve o pior desempenho entre as unidades da Federação, medido pelo último Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Leitura – Nas atividades de leitura, os pesquisadores apresentaram aos alunos listas de palavras relacionadas com o cotidiano dos estudantes e textos curtos da literatura oral. Das 24,5 mil crianças avaliadas, 9.998 leram e compreenderam palavras como batata, feijão e bode; outras 3.690, apenas algumas palavras; 4.912 reconheceram letras; as demais identificaram apenas algumas sílabas, não quiseram ou não conseguiram ler. Em relação à leitura de textos, das 24,5 crianças, 6.306 leram com hesitação e não compreenderam a leitura e mais 6.012 meninos e meninas leram com fluência.
Escrita – Os pesquisadores observaram que a maior parte das crianças copiam letras e palavras, escrevem palavras não identificáveis ou desenham – estágio da alfabetização considerado inicial. De acordo com as atividades de avaliação, as crianças tinham de escrever palavras ditadas a elas e reproduzir um pequeno texto lido de acordo com suas percepções. Dez mil alunos conseguiram escrever palavras dentro das convenções, mesmo com erros ortográficos, mas poucos reproduziram o texto com os mesmos personagens e seqüência de ações.
Escola – A pesquisa também avaliou aspectos diretamente ligados ao desempenho dos alunos, como as condições de infra-estrutura da escola e o salário do professor. Cerca de 2,8 mil professores participaram do diagnóstico. Deles, 49% recebem entre R$ 380 e R$ 750, abaixo do valor do piso para o magistério (R$ 950), cuja proposta tramita no Congresso Nacional. Em 60% das escolas visitadas, não há bibliotecas ou salas de leitura. O problema se reflete na forma de ensinar e aprender: 47% dos alunos só lêem o que o professor escreve no quadro, 31% lêem também os deveres do caderno e 25%, os livros didáticos.
A intenção é que os dados indicados pela pesquisa, iniciada em 2006, sirvam de subsídio para traçar políticas públicas e medidas capazes de melhorar a qualidade do ensino das crianças ainda em fase de alfabetização. A expectativa é que, ao melhorar as condições de ensino/aprendizado desde cedo, os índices educacionais medidos por avaliações como a Prova Brasil – aplicados a alunos de 4ª e 8ª séries – também sofram melhorias.
Maria Clara Machado
*Republicado com alterações