Escola valoriza trabalho de agricultores
Ademir? Presente. Adriano? Presente. Alison? Presente. A lista de chamada do curso de formação de trabalhadores adultos na Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul (SC) tem 14 nomes. Todos agricultores do Alto Vale do Itajaí.
A cidade, que foi colonizada por alemães e italianos, tem 52 mil habitantes. A economia local é movimentada pelos setores primário e secundário. No primeiro, os destaques ficam por conta da produção leiteira, suinocultura e avicultura. O segundo é marcado pelas indústrias do setor metal-mecânico, do eletrônico e também do vestuário.
Assim como Ademir, Adriano e Alison, o casal Luiz Gonçalves, 63 anos, e Luzia Cuzik, 48, também se matricularam na escola do Rio do Sul para terminar os estudos e se capacitar para o mundo do trabalho. Eles são pequenos agricultores familiares. Quando se conheceram, em 1988, em Joinville, ele era comerciário e ela, cabeleireira. Na cidade de Presidente Nereu, onde vivem desde 2002, 95% dos trabalhadores produzem fumo, mas o casal queria ficar longe dos agrotóxicos e desejava produzir hortaliças e legumes orgânicos de forma consorciada com cabras e galinhas, na terra de 28 hectares.
Recomeço – Luiz é presidente da Associação de Microbacias do Rio Barrinho em Presidente Nereu e conheceu o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos (Proeja) numa palestra de professores da escola, em 2006. Ele tentou divulgar o programa junto à comunidade de agricultores sem muito sucesso.
Acabou se inscrevendo, em conjunto com a esposa, no curso técnico de Agropecuária concomitante com o ensino médio e ficou surpreso quando foram convocados. “Já tínhamos o ensino médio, mas como o tempo no banco de escola era pouco, decidimos recomeçar”, diz Luiz. “Queríamos, também, informações técnicas sobre produção agroecológica”, relembra Luzia.
Hoje, 80% das técnicas que utilizam aprenderam com os professores da escola. O mais importante, no entanto, como revela Luiz, é o fato de terem se tornado um espelho para os vizinhos, tanto no cultivo, na adubação e no manejo das culturas, quanto no uso da água e no tratamento dos dejetos. “Já não somos mais chamados de loucos pela vizinhança”, ri Luzia. “Sabemos que um agricultor é um empresário e tem que se valorizar. Nossa meta é mudar a cabeça das pessoas da comunidade. E a escola fez uma reviravolta total na nossa vida”, completa a agricultora.
A diferença de idade entre os alunos do curso assustou o casal de agricultores, no início. Para a saúde mental de ambos este é um fator importante. Como vivem no alojamento da escola durante o período de aulas, eles são tratados carinhosamente pelos colegas mais novos, e o repasse de experiências vale a atenção.
O curso termina em meados de 2009. Até lá, Luzia pretende se tornar uma especialista em caprinos, para produzir queijos e derivados de carne. Luiz, por sua vez, deseja aumentar a produtividade de sua criação de frangos caipiras. O aperfeiçoamento e a certificação como produtores orgânicos são duas das metas do casal.
“Esse programa é uma das mais importantes ações de governo, pois abrange cursos que, à formação profissional, aliam a escolarização para trabalhadores maiores de 18 anos”, diz Eliezer Pacheco, secretário de educação profissional do MEC.
Rodrigo Farhat
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