Escolas da rede federal formam trabalhadores para arranjos produtivos locais
O Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Profis-sional e Tecnológica (Setec), tem investido na formação de mão-de-obra qualificada para o mundo do trabalho. Exemplos disso têm sido mostrados na 2ª Conferência Brasileira sobre Arranjos Produtivos Locais, que termina nesta quarta, 14, no Rio de Janeiro.
O evento, realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social (BNDES), tem como proposta aprimorar as políticas públicas e estimular o desenvolvimento local, promovendo a troca de experiências em desenvolvimento em arranjos produtivos locais (APLs). O foco da con-ferência é a temática de financiamento, o acesso e a gestão de receitas orçamentárias nos APLs.
A destinação de recursos públicos para a reforma, ampliação e com-pra de equipamentos para a unidade de ensino descentralizada de Cacho-eiro do Itapemirim, do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) do Espírito Santo é uma das maneiras de fortalecimento dos APLs. A cidade é reconhecida como centro de exportação de mármore e granito. Lá serão qualificados técnicos para todo o processo produtivo de rochas ornamen-tais, desde a extração ao design da pedra, focando o mercado europeu e asiático.
A criação e a estruturação dos cursos técnicos em rochas ornamen-tais e em eletromecânica de manutenção serão financiadas pelo Programa de Expansão da Educação Profissional (Proep), mantido pela Setec e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ao todo, o Pro-ep investirá R$ 2,3 milhões na aquisição de equipamentos, obras de infra-estrutura, instalação e montagem de laboratórios. O projeto prevê tam-bém a construção de um galpão industrial, onde a planta de uma pequena indústria será simulada, com etapas para tratamento e beneficiamento das rochas.
“Os cursos abrem perspectivas para que possamos atender à cres-cente produção, desenvolver a área tecnológica e promover o crescimento local e regional”, explica o diretor do Cefet-ES, professor Jadir José Péla.
Cachoeiro do Itapemirim tem uma população estimada em 170 mil habitantes, mas a região a ser contemplada pelos cursos tem cerca de 400 mil pessoas. A previsão é que sejam atendidos 500 alunos por ano, incialmente.
Outras ações estão sendo desenhadas pela Setec para apoiar os A-PLs: o atendimento à cadeia produtiva da cachaça e do vinho e a implan-tação do Projeto Sintonia, uma ferramenta de financiamento de laborató-rios e capacitação de professores da rede federal de educação profissional e tecnológica. A idéia é criar ou readequar os cursos das 144 escolas da rede federal para sintonizá-los com as demandas de mercado regionais, em especial com os 142 arranjos priorizados pelo governo federal.
Cachaça – A Escola Agrotécnica Federal de Salinas, em Minas Gerais, criou o curso superior de produção de cachaça de alambique, atendendo à demanda de um arranjo produtivo local antigo, que data da época da es-cravidão no Brasil, no norte de Minas Gerais.
Na região, existem 30 fábricas, que produzem anualmente 2,8 mi-lhões de litros de cachaça. O setor gera 700 empregos diretos e indiretos e tem receita bruta de R$ 7 milhões.
Outro exemplo vem do Cefet–Petrolina, em Pernambuco, que por meio de pesquisas e formação profissional, identificou na localidade a pos-sibilidade de produzir uvas de qualidade com reduzido período de entres-safra. O fato provocou a criação de um APL de enologia e levou vinícolas de renome a se fixarem no local.
“Esses exemplos comprovam que o desenvolvimento econômico e so-cial de uma região depende diretamente da formação do trabalhador e o MEC, atento às necessidades de cada uma delas, tem sido um importante agente condutor da política pública de desenvolvimento dos arranjos pro-dutivos locais do país”, declarou o titular da Setec, Antonio Ibañez Ruiz.
Governo define política para APLs – A partir da identificação de 932 Arranjos Produtivos Locais (APLs) no país, 32 instituições governa-mentais e não-governamentais estão definindo uma política nacional de apoio e financiamento para estimular o desenvolvimento de micros, pe-quenas e médias empresas brasileiras.
Os APLs são estruturas que aprimoram a demanda cultural e socioe-conômica de uma região. Dos casos de sucessos de APLs, as confecções em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, e no Distrito Federal, o setor calça-dista em Franca, em São Paulo, o de madeira e móveis de Macapá, no Amapá, Paragominas, no Pará, e o de Ubá, em Minas Gerãos, são os mais conhecidos.
Na 2ª Conferência Brasileira sobre Arranjos Produtivos Locais, João Araújo, da Associação Brasileira das Indústrias Mobiliárias, destacou a im-portância de centros tecnológicos para a formação e o desenvolvimento dos APLs.
Em parceria com o MEC, ele foi o responsável pela implantação do Centro Tecnológico de Formação Profissional da Madeira e do Mobiliário de Votuporanga, em São Paulo, que hoje atende a 65 municípios da micror-região de São José do Rio Preto e forma cerca de 470 técnicos por ano em cursos direcionados ao segmento.
“Não há como imaginar o alcance de uma proposta de formação pro-fissional. Estamos capacitando trabalhadores que irão atuar em todo o pa-ís”, diz.
O valor dos recursos repassados pelo Proep/MEC para o projeto foi de R$ 1,5 milhão, utilizado para a reforma de um antigo pavilhão na cidade e a adequação de laboratórios de manipulação da madeira e design.
Repórteres: Rodrigo Farhat e Sandra Branchine