Oficina oferece capacitação profissional a pessoas com deficiência
A maior barreira enfrentada pelas pessoas com deficiência na busca pelo emprego não é ausência de vagas, mas falta de qualificação. A regulamentação da Lei Federal nº 8.213/89, por meio do Decreto nº 3.298, determina que empresas privadas e serviço público reservem cotas de colocação profissional às pessoas com necessidades especiais. Mas a demanda criada legalmente encontra dificuldades de aplicação prática por falta de capacitação profissional.
Para ampliar a participação da universidade pública no ensino profissionalizante de pessoas com deficiência, a Universidade de Brasília (UnB) inaugurou, em 10 de outubro, parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) do Distrito Federal. Na Biblioteca da UnB, 13 alunos com deficiência mental leve e três com síndrome de Down aprendem a reparar livros. A universidade cede o espaço, a capacitação técnica referente à higienização, conservação e reparo dos livros, além da alimentação dos aprendizes. A Apae seleciona os alunos cujas deficiências permitam a execução do trabalho de restauração.
“Fiquei impressionado com a evolução que demonstraram. Muitos desenvolveram um senso de independência e responsabilidade incríveis”, conta o responsável pelo projeto na UnB, Eloi Evelim. Rafael Viana, 30 anos, tem deficiência mental leve adquirida. Ele levou um tiro na cabeça há sete anos e passou dois anos sem sair de casa, traumatizado. “Eu era nervoso e tinha medo de sair. Com a oficina, pude voltar a trabalhar e estudar”, conta.
Juliana Ramos, 28 anos, tem síndrome de Down e acha que o aprendizado a deixou menos estressada. “Vivia respondendo meus pais. Agora só penso no trabalho e quero arrumar um emprego bom”, disse. Segundo Eloi Evelim, o trabalho dos aprendizes é tão eficiente que a UnB quer criar uma cooperativa, com grupos móveis e fixos. Os grupos móveis deverão reparar acervos fora da UnB e o fixo fará o conserto de obras raras.
A oficina encerrará a primeira etapa nesta sexta-feira, 27, mas a parceria entre a Apae-DF e a universidade irá se estender por um ano, com perspectivas de renovação.
Outras iniciativas – A Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec/MEC) irá discutir os rumos da educação técnica na 1ª Conferência Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, entre 5 e 8 de novembro, em Brasília. Segundo Franclin Costa, assessor da Setec, a conferência servirá, também, para debater a inclusão social de pessoas com deficiência por meio da educação profissionalizante.
A Setec, em parceria com a Secretaria de Educação Especial (Seesp/MEC), criou o programa Educação, Tecnologia e Profissionalização para Pessoas com Necessidades Especiais (TecNep). Pelo programa, pessoas com deficiência e sem deficiência recebem qualificação profissional de acordo com as demandas do local onde vivem.
Maria Clara Machado