Desafios da educação infantil no campo
A educação infantil nas áreas rurais do país carece de professores com formação adequada, de infra-estrutura, de uma política que respeite a diversidade do campo. E precisa ser mais pesquisada nas universidades. Esses desafios foram apresentados nesta quarta-feira, 30, no seminário Políticas Públicas de Educação Infantil no Campo, por Roseana Mendes, técnica da Coordenação de Educação Infantil da Secretaria de Educação Básica (SEB).
Roseana lembrou que a Constituição de 1988 diz que a educação infantil – abrange a faixa etária até seis anos – é um direito da criança, dever do Estado, opção da família, mas sua oferta só começou a ganhar consistência a partir da criação do Fundo da Educação Básica (Fundeb), em 2007. No campo, ela explica, a educação infantil sofre maiores limitações porque as crianças geralmente estão em classes multisseriadas com alunos de dez a 12 anos, os professores não têm formação apropriada, e o parâmetro de referência é a educação infantil urbana.
Mesmo com essas dificuldades reconhecidas pelo poder público, a Roseana diz que a educação infantil vive um momento importante, porque as famílias e os movimentos sociais procuram e exigem a oferta de creches e de pré-escolas e os sistemas estão se organizando para atender as demandas.
Para a educadora Ana Paula Soares, do Centro de Educação Infantil da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, a educação infantil começou a se consolidar a partir de 1980, mas ainda hoje é “o grande nó” na área urbana e mais ainda no campo. Entre os “nós” estão os ambientes precários para educação infantil, a falta de formação dos profissionais e de currículo referencial. Sobre a ausência de pesquisa, Ana Paula dá um exemplo: dos 157 trabalhos produzidos em 2007 pela Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (Anped), apenas um tratou da educação do campo.
A educação infantil em tempo integral também está distante da realidade nos bairros e no campo. Em Ribeirão Preto, relata, as mães da periferia colocam as crianças meio período na creche, meio período com a mãe crecheira (que é paga) e têm que arrumar uma faxina para fazer aos sábados para pagar o segundo turno da creche.
Entre as possibilidades de mudanças, Ana Paula sugere a elaboração de um banco de experiências sobre educação no campo de ribeirinhos, indígenas e quilombolas; a abertura de uma frente de pesquisas sobre como a política de educação infantil se articula com a educação no campo. Já os educadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sugerem mudanças no currículo dos cursos de pedagogia para que a visão da educação no campo seja considerada, além de oferta de estágios aos professores em escolas rurais.
Ionice Lorenzoni
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