Indígenas fazem vestibular exclusivo
Estudantes indígenas de todo o país, que tenham concluído o ensino médio em escola pública, podem se inscrever no vestibular indígena da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). As inscrições estão abertas até 20 de dezembro e as provas serão realizadas nos dias 4 e 5 de fevereiro de 2009. A universidade oferece 57 vagas, uma em cada curso de graduação presencial.
A UFSCar criou um modelo de vestibular exclusivo para cidadãos indígenas, com vagas adicionais na graduação, onde eles concorrem entre si. O modelo foi testado no início deste ano com a abertura de vagas em 27 cursos. Dos 34 alunos que fizeram o vestibular, 16 foram aprovados e 14 deles continuam na universidade.
Para concorrer às vagas, o candidato indígena deve ter feito todo o ensino médio em escola pública, preencher um questionário sócio-econômico e apresentar no ato da inscrição uma carta da liderança da sua aldeia, certificada pela Fundação Nacional do Índio (Funai), declarando a etnia a que pertence e vínculo com a comunidade.
De acordo com Danilo Moraes, da assessoria do grupo gestor do Programa de Ações Afirmativas da UFSCar, a exigência da carta é para provar que o estudante tem relação direta com sua comunidade e que é membro de um povo. O objetivo da universidade, explica, é abrir espaço de formação e promover a diversidade étnica, nunca retirar o aluno da aldeia, da prática de suas tradições ou da cultura a que pertence.
As provas da UFSCar para os indígenas abordam os mesmos conhecimentos exigidos dos outros estudantes; a diferença é que eles têm uma prova oral sobre temas da atualidade e conteúdos de ciências e humanidades. Para a UFSCar, a oralidade é forte entre os povos indígenas e, em muitos casos, a única forma de transmitir conhecimentos.
A Universidade Federal de São Carlos abre vagas e também oferece apoio à permanência do aluno indígena no curso e na instituição. São seis ações de apoio: uma bolsa atividade de R$ 150 mensais, moradia na universidade, bolsa alimentação que custeia o almoço e o jantar de segunda-feira a sábado, serviço de tutoria por prazo de até um ano, apoio psicológico no departamento de serviço social e aulas de português como segunda língua. Na bolsa atividade, a contrapartida do aluno é dedicar oito horas de trabalho semanal na sua área de estudo e, quando isso não é possível, na biblioteca ou em um departamento.
Danilo Moraes explica que a assistência da universidade aos alunos indígenas contribui para o aproveitamento escolar. Um indicativo disso foi o resultado da seleção para 20 bolsas de iniciação científica (R$ 330 mensais) que a UFSCar ofereceu este ano aos alunos atendidos pelo programa de reserva de vagas (cotas raciais, alunos da rede pública e indígenas). Das 20 bolsas, seis ficaram com alunos indígenas que entraram na instituição em 2008.
UFSCar – A Universidade Federal de São Carlos, com sede em São Carlos (SP) e campi em Araras e Sorocaba, tem 57 cursos de graduação e oito mil alunos. Pelo programa de reserva de vagas ingressaram na instituição este ano 369 alunos, sendo 16 indígenas. As informações sobre o processo seletivo de estudantes indígenas estão na página da UFSCar.
Ionice Lorenzoni