UFRJ faz radiografia da origem dos seus estudantes
Os estudantes universitários de origem popular estão presentes nas instituições federais de ensino superior (Ifes)? Quantos são? Em quais cursos estão? Em quais turnos? Para responder a estas perguntas, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou pesquisa com 25.266 alunos de 155 cursos de seis centros da universidade. A pesquisa constatou que dos 25.266 entrevistados, 2.004 têm origem popular e, destes, 636 estudam à noite. Mais de 90% dos alunos da universidade são das classes média ou alta.
A pesquisa indica também que há um aumento do ingresso dos estudantes de classes populares na UFRJ, no período 1997 a 2005, mesmo que não tenha dados longitudinais, ano a ano. “Embora, a cada ano, o número de universitários dos espaços populares tenda a aumentar, a universidade brasileira é, ainda hoje, um espaço ocupado, em sua maior parte, pelas classes sociais média e alta, de cor branca. Só recentemente tem se aberto – não sem polêmica – à presença das classes populares e de populações de diferentes pertencimentos culturais, tanto no seu quadro docente, mas, principalmente, no seu quadro discente”, diz texto de análise da pesquisa.
A pesquisa Perfil Social Básico dos Estudantes da UFRJ é uma ação do Projeto Conexões de Saberes: Diálogos entre a Universidade e as Comunidades Populares, executado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC). “Fizemos esse levantamento para saber quem são os estudantes de origem popular, porque entendemos que é importante não só propiciar o acesso desses estudantes no ensino superior, mas a sua permanência”, explica a professora Carmen Teresa Gabriel, coordenadora da pesquisa.
Carmen destaca que o mapeamento foi feito utilizando-se variáveis como renda, moradia, trajetória escolar, escolaridade dos pais e etnia/cor para saber quem são os estudantes de origem popular. Na sua opinião, o debate sobre o assunto está cada vez mais visível na UFRJ e que há uma tendência crescente de maior acesso dos jovens de baixa renda ao ensino superior. “Esse aumento faz repensar a cultura universitária, a participação desses estudantes na universidade como protagonistas, as dificuldades que têm para se manter e a necessidade de não abrir mão da qualidade do conhecimento”, diz a professora.
O questionário da pesquisa foi apresentado a todos os 34.182 universitários ativos (em sala de aula) durante o período de escolha de suas disciplinas para estudo do semestre de 2005, entre 4 de julho e 29 de agosto do ano passado. Foi respondido por 25.702 alunos, dos quais 25.266 questionários foram aproveitados na pesquisa, com delimitação da faixa etária de 15 a 69 anos.
Resultados – A maioria dos 25.266 estudantes, 53,4%, disse morar em bairro de classe média e 30,6% em bairro de periferia ou subúrbio. O número de universitários residentes no morro ou favela, 3,6%, é maior do que os que habitam bairro de classe alta, 3,4%. Entretanto, a maior parte dos universitários, 55,3%, cursou o ensino médio em escola particular. Dos 25.266 alunos, 69,2% são de cor branca; 5.638, ou 22,3%, são pardos; 6,2% pretos; e 1,1% de cor amarela.
Os Estudantes Universitários de Origem Popular (EUOP) têm maior representatividade em cursos de humanas, como História, 15,9%, ou 141 dos 886 estudantes; e menor em cursos como Medicina, apenas 1%, ou seis de um total de 577 entrevistados desse curso; 42, ou 3,7%, de um total de 131 alunos do curso de Arquitetura; e 5,1%, ou 108, de um total de 2.136 estudantes de Direito.
Dos 25.266 entrevistados, 49,5% têm pai com ensino superior completo ou pós-graduação; 32,9% com escolaridade de até o ensino médio, completo ou incompleto; e 15,7% com escolaridade de até o ensino fundamental completo. As mães dos universitários em geral apresentam escolaridade menor. Contudo, quase metade de todas elas, 11.173, ou 44,2% de todo o universo pesquisado, possuem nível superior completo e destas, 1.293, ou 5,1%, são mestras ou doutoras.
Conexão de Saberes –Dos 41 bolsistas que trabalharam na pesquisa, 25 foram pagos pelo MEC por meio do programa Conexão de Saberes, que oferece apoio financeiro e metodológico aos jovens universitários de origem popular para que produzam conhecimentos científicos e ampliem sua capacidade de intervenção em seu território de origem e nas universidades. Os bolsistas foram divididos em equipes de aplicação e equipes de digitação. “Estamos oferecendo aos bolsistas uma formação acadêmica. Não foram só tarefeiros. Estão sendo sujeitos da pesquisa, trabalham nas análises”, explicou a professora Carmen Teresa Gabriel. Na sua opinião, o Conexão de Saberes é um projeto extremamente inovador, que tem uma proposta de repensar a cultura universitária, de propiciar o diálogo entre os espaços populares e as universidades.
A próxima etapa do trabalho será analisar com maior detalhamento os dados e realizar uma pesquisa qualitativa. O projeto é ponto de partida para novas pesquisas na UFRJ sobre os EUOP, como base para futuras comparações de dados e análises. Informações sobre o Conexões de Saberes estão no sítio da Secad e sobre a pesquisa da UFRJ podem ser obtidas pelo telefone 21-2598-9602 ou 9261.
Repórter: Susan Faria