Professoras participam da vida escolar do aluno como se fossem pai e mãe em casa
A professora Rosalinde de Almeida achou que seus alunos estavam desmotivados e sugeriu à direção da escola que organizasse uma gincana do conhecimento. Pró Rosa, como é chamada, é uma das oito professoras que compõem a equipe da escola municipal Primeiro de Maio, que fica numa das regiões mais carentes de Salvador. A idéia da professora foi tão bem acolhida que a direção resolveu incluir na competição todos os alunos, do pré à 4ª série.
Chamadas de mães pelos pais dos estudantes, metade das pró —diminutivo usado no tratamento diário das professoras —, trabalha vinte horas, enquanto a outra metade dá aula nos turnos matutino e vespertino. Quatro professoras têm nível superior e outra está cursando letras na Universidade Estadual da Bahia. Pró Rosa dá aula para a 3ª série pela tarde, tem nível superior e duas especializações, uma em psicopedagogia e outra em psicomotricidade. “O estudo ajuda muito na hora de planejar as aulas” atesta a professora.
Além de propor a competição, Rosalinde decidiu dar um estímulo a mais aos próprios alunos: gastou 5% do próprio salário — ela recebe R$ 600,00 por mês — ao comprar brindes educativos para os alunos, que estão se esforçando para participar da gincana. “Um dos brinquedos é um joguinho para formar palavras e o outro ajuda na coordenação. O aluno tem que acertar a bolinha no buraco. Comprei 31 brindes”, calcula Rosa.
Dentro da gincana do conhecimento, os alunos da pró Rosa fizeram um campeonato de trava-língua e, para incrementar a elaboração de questões sobre as regiões do país, meninos e meninas construirão mapas, com papelão e lápis de cor. Com o incentivo da pró, eles vão desenhar as regiões, recortar os mapas e levar para casa, para ajudar nos estudos. Tudo é feito em grupos. “A gente sempre faz trabalho com equipes, que é bem animado”, entusiasma-se Rosa.
A professora Creusa de Oliveira, que ensina as crianças da 3ª série à tarde, também incentiva o trabalho em equipe. Como alguns alunos têm mais dificuldades em aprender e a escola não tem sala nem pessoal disponível para dar aulas de reforço no contraturno, a pró Creusa conta com a ajuda dos alunos mais avançados. “Estou acertando com duas coleguinhas que moram próximas de uma aluna que está com dificuldades na leitura para dar um apoio a ela em casa. Como elas são vizinhas, fica mais fácil. Aí, eu contribuo com um presentinho para incentivar”, relata Creusa.
A professora lembra ainda que deu aula aos mesmos alunos no ano passado. Quando estavam na 2ª série, eles elegeram um anjo, que ajudava os alunos mais fracos. “Busco o apoio do colega que sabe mais, porque é um grupo grande e as condições são muito precárias”, completa a professora, que precisa sair da sala várias vezes por causa do calor. As salas são pouco ventiladas e muito pequenas para comportar os alunos, que se espremem. Cada uma das cinco salas da escola tem entre 30 e 35 estudantes.
É comum as professoras se cruzarem com alunos e pais no caminho da escola. Todos moram próximos. “Demora meia hora de casa até aqui, porque sempre encontro algum pai querendo conversar sobre o filho, ou então a gente é que pergunta sobre o aluno”, explica a diretora Simone. Os pais mais ligados à escola partilham com as professoras a tarefa de educar os filhos. “Eu digo a meu filho que em casa eu sou a mãe e, na escola, a mãe é a professora. Minha mãe me ensinou assim. O mesmo respeito que ele tem comigo, deve ter com a professora”, ensina Clotilde Santana, mãe de Silas, de 9 anos.
Para a pró Rosa, o professor precisa assumir a responsabilidade junto com os pais na formação dos meninos e meninas. “A gente tem que tomar essa responsabilidade e fazer alguma coisa, porque senão a própria sociedade se torna vítima — quando deixa de intervir no momento correto. É aí que se criam os bandidos da vida. A gente não pode pensar que a responsabilidade não é nossa. Eu não vou deixar para amanhã ou depois para ajudar meu aluno a encontrar um futuro melhor.”
Maria Clara Machado