Educação Especial chega a Cabo Verde
Até setembro do ano passado, Cabo Verde não tinha professores especializados em crianças e adolescentes com deficiência. A partir daí, uma parceria com o Brasil resultou em seis cursos ministrados por especialistas brasileiros. Para discutir a possibilidade de ampliar o programa de cooperação entre os dois países, membros do MEC e do Ministério das Relações Exteriores visitaram Cabo Verde agora em março. O país é formado por dez ilhas na costa ocidental da África, a cerca de 300 quilômetros da costa do Senegal.
“O governo de Cabo Verde manifestou interesse em continuar a parceria. Por causa da qualidade do trabalho dos instrutores brasileiros, eles querem receber vários outros cursos”, informou a coordenadora-geral de Desenvolvimento da Educação Especial (Seesp/MEC), Kátia Marangon.
Os cursos ministrados tiveram duração de 80 horas cada e formaram 130 professores cabo-verdianos, em três áreas: orientação e mobilidade, ensino do sistema braille, e língua portuguesa como segunda língua para surdos. Todos os cursos são focados no ensino de alunos com deficiência auditiva ou visual.
Orientação e mobilidade — O curso de orientação e mobilidade mostrou a professores como ajudar o aluno a se direcionar. “Os estudantes vão aprender a usar a bengala e a se locomover com ela, a atravessar ruas ou a localizar o banheiro na escola, para que tenham independência no dia-a-dia”, explicou Kátia. Segundo a coordenadora, os especialistas brasileiros tiveram de adaptar o conteúdo das aulas à realidade local. “Lá não há muitos elevadores e não vimos escadas rolantes, então o professor precisa ensinar o aluno a lidar com mais obstáculos”, completou.
Braille — O sistema braille também foi novidade para os docentes de Cabo Verde. Kátia contou que só dois professores sabiam utilizar o sistema. “E como o número de professores é muito pequeno, aqueles que tiveram curso de orientação e mobilidade também aprenderam a utilizar o sistema braille, para lidar com alunos cegos”, adiantou Katia.
Palavras e imagens — Já em relação à deficiência auditiva, os instrutores brasileiros ensinaram como se trabalha a língua portuguesa como segunda língua, na modalidade escrita. Os professores perceberam a importância da utilização de recursos visuais para criar uma correlação entre as palavras escritas e as imagens. Os especialistas brasileiros optaram por não ministrar curso da Língua Brasileira de Sinais, que é específica dos surdos brasileiros. Eles ofereceram apoio técnico para que os cabo-verdianos desenvolvam a sua própria língua. Assim, poderão manifestar traços típicos do crioulo, que é a língua falada nos lares de Cabo Verde.
A segunda fase da parceria prevê seis outros cursos e ainda está em fase de discussão. A nova etapa deve incluir cursos de estatística para gestores, formação continuada de professores a distância, um seminário de educação inclusiva, cursos de atendimento especializado a pessoas com necessidades especiais e a participação de professores de Cabo Verde em cursos de formação no Brasil. A segunda fase do acordo deve ser fechada até abril.
Maria Clara Machado