Praça de trabalhadores
A Praça D. Pedro II, localizada em frente à Catedral Metropolitana de Fortaleza, é palco de uma polêmica questão da cidade. É lá que funciona a Feira da Sé, um enorme agrupamento de vendedores ambulantes que já se tornou conhecido não só na capital como também no interior do Estado do Ceará. Recentemente, no dia 16 de abril, uma ordem judicial estabeleceu a remoção dos comerciantes da praça até o dia 27 de maio, uma vez que o trânsito no lugar torna-se caótico durante o funcionamento da feira.
Desde então o embate entre os ambulantes e as forças da Guarda Municipal tem sido intenso. Exemplo disso foi o que ocorreu no dia 22 de junho, com inúmeras agressões e algumas prisões de populares. O caso traz à tona uma importante pergunta: “O que é mais importante, o fator humano ou a organização da cidade?”.
A Feira da Sé reúne milhares de trabalhadores, pessoas que têm famílias para alimentar e sustentar. Acredito que retirar o meio de sobrevivência dessa gente é, no mínimo, desumano. “Estou na feira há quatro anos e nunca houve tanta perseguição quanto agora. Tiramos nosso sustento da feira”, afirma o feirante Franklin Freire de Freitas, de 59 anos.
É possível que surjam argumentos propondo que, por se tratarem de trabalhadores da economia informal, devem ser removidos do lugar, já que não possuem autorização para ocupar o espaço. Porém, é aí que a questão toma proporções maiores e retrata um problema nacional: o constante crescimento da economia informal.
A propósito, o Brasil possui uma carga tributária e uma burocracia que chegam a impor medo à população. O ingresso na chamada economia formal é uma árdua (e cara) prova de resistência, impelindo milhares de brasileiros a essa área clandestina do mercado. Desse modo, o comércio informal na Praça da Sé demonstra um dilema nacional.
Retomando a questão, é inevitável admitir que a feira castiga o trânsito das redondezas; entretanto, o modo como está sendo efetivada a propalada “solução” para o problema é inaceitável. Simplesmente retirar à força os ambulantes do local, como, aliás, tem sido feito, apenas transformará o caos do trânsito em caos social. Os trabalhadores que serão expulsos podem não ser absorvidos pelo mercado de trabalho, aumentando o desemprego e a pobreza na cidade.
É bem verdade que a Prefeitura de Fortaleza apresenta um projeto de transferência dos ambulantes para a Rua José Avelino, onde já estão estabelecidos centenas de varejistas do setor de confecções. O titular da Secretaria do Centro, José Nunes Passos, acredita ser esse o lugar ideal para esses trabalhadores. Os feirantes, contudo, afirmam que esse não é o lugar adequado, pois sofrerão perda de clientela e concorrência com os vendedores que já estão no local.
Vale lembrar que não defendo, no presente artigo, práticas como a economia informal ou a instalação desordenada de pontos comerciais pela cidade. Entretanto, é necessária uma análise mais profunda do caso, a fim de entender o problema e desenvolverem-se políticas públicas que venham a solucioná-lo.
Em suma, a resolução desse impasse não é simples nem tampouco pode ser alcançada por medidas violentas e isoladas. É necessário planejamento e organização, a fim de remanejar os ambulantes para um lugar apropriado e regulamentá-los, resolvendo, dessa forma, dois problemas que afligem o povo fortalezense.
Escola Colégio Militar de Fortaleza
Cidade: Fortaleza – CE
Professor: Hildenize Andrade Laurindo
Aluno: Francisco Eugênio de Vasconcelos Filho