Haddad visita oficina de Brennand
Recife — “A âncora da educação é a cultura”, diz o ministro da Educação, Fernando Haddad, que na quinta-feira, 5, fez visita à oficina Brennand, no bairro da Várzea, em Recife. A oficina-ateliê-museu abriga as obras do artista plástico e escultor pernambucano Francisco Brennand, autor das estátuas do Marco Zero da capital pernambucana.
Num passeio pelo conjunto arquitetônico, composto por esculturas de barro e pinturas em cerâmica que revestem tanto paredes quanto o piso das diversas alas do museu, Haddad e Brennand conversaram sobre a ligação entre educação e cultura. Na visão do ministro, descolada da cultura, a educação não se fixa. Muito visitada por alunos da educação básica, a oficina tem espaço para aulas e palestras e um auditório com capacidade para 130 pessoas.
Contador de histórias, que misturam acontecimentos de sua vida com a própria história de Pernambuco, Brennand manifestou ao ministro o interesse em convênios entre o museu e instituições públicas de ensino. “O contato com a arte desperta nos alunos que nos visitam diariamente o desejo de seguir em determinadas carreiras, como a arquitetura, por exemplo”, conta o artista.
No espaço que abriga o museu funcionava uma olaria do pai de Brennand, fundada em 1917. Quando a fábrica de tijolos e telhas foi abandonada, o artista resolveu transformá-la em museu, sem, no entanto, modificar a estrutura original. O antigo forno de queimar tijolos é, hoje, uma das saletas do museu. “Resolvi começar a reforma pelo forno, pois era o coração da fábrica, onde tudo se transformava”, explica Brennand.
Há 36 anos, o artista vem acrescentando peças ao museu. Atualmente, são 1,8 mil, dispostas no interior, nos murais e no jardim.
A pintura em cerâmica é um aspecto marcante na obra de Brennand. Ele conta que relutou em se iniciar nessa modalidade, pois havia um preconceito em relação às artes aplicadas. Para ele, a cerâmica era simples arte decorativa. Até o dia em que o também artista pernambucano Cícero Dias o levou a uma exposição de pintura em cerâmica em Paris, sem informá-lo quem era o autor. Depois de visitar a exposição e se encantar, Brennand descobriu que aquele trabalho era simplesmente de Pablo Picasso.
O fascínio pela arte é tão grande que o artista pernambucano resolveu, recentemente, criar um espaço no museu para a realização de uma bienal de cerâmica no Brasil. “Em todo o lugar, há ceramistas que se desconhecem. Seria uma boa oportunidade de juntá-los”, sonha.
No museu há também uma ala de quadros pintados por Brennand, chamada Accademia. As obras tendem ao expressionismo. Curiosamente, todas as esculturas produzidas por ele são previamente desenhadas e também acabam virando quadros. “Toda arte começa por um desenho”, explica.
Aos 80 anos, Brennand diz que a oficina é sua vida. Sua casa, aliás, é muito próxima. “Não saio daqui por nada. Nem viagens de turismo eu faço”, afirma o artista. Não só o próprio criador, mas também os visitantes parecem não ter vontade de sair de lá. O espaço, que já tem até uma cafeteria, é usado por muitos que gostam de passar o dia aproveitando as belezas naturais do lugar e as obras de arte de Brennand.
Letícia Tancredi
Republicada com acréscimo de informações