Escola valoriza cultura indígena
Boa Vista - Mais da metade das escolas de Roraima são indígenas. Das 391 escolas do estado, 203 são indígenas, sendo 113 localizadas em área urbana e 75 na zona rural. A comunidade de índios que fica mais próxima da capital do estado, Boa Vista, chama-se Tabalascada e está a apenas 16 quilômetros da capital. Lá estudam 193 alunos que cursam desde a educação infantil até o último ano do ensino médio.
O povo indígena de Tabalascada é Uapixana, a segunda maior comunidade indígena do estado. A escola que atende a comunidade é pequena, tem quatro salas de aula, onde os alunos se revezam em três turnos. Na escola, a educação é bilíngüe. As crianças são alfabetizadas em língua uapixana e depois da 2ª série do ensino fundamental elas começam a aprender português. Assim, o povo garante a sobrevivência da língua e a manutenção dos costumes. A preocupação com a preservação da cultura uapixana não veio por acaso. A proximidade com a capital fez com que a comunidade de Tabalascada recebesse grande influência da cultura branca. Não existem mais pajés na comunidade e os religiosos se dividem entre católicos e protestantes. O líder da comunidade é o tuchaua César Cruz. Ele conta que no aspecto religioso, não há como resgatar as práticas da comunidade. “Os próprios índios já têm preconceito e não admitem o resgate das práticas religiosas. Muitos são pastores ou catequistas”, relata.
Resgate – Nesse contexto, a escola surge como elemento fundamental para a preservação da cultura da comunidade. Para o tuchaua, que exerce um cargo semelhante ao do cacique, a escola é o lugar onde as crianças são ensinadas a respeitar suas raízes. “Aqui elas aprendem arte indígena, antropologia e também temos um projeto de auto-sustentação que as ensina a plantar e criar animais”, conta.
Às sextas-feiras, não há aula convencional. Os alunos aprendem artesanato, fazem brincos, colares e anéis, tecem redes de pesca e vão para a horta da escola. De acordo com a diretora Cleide Cruz Ambrósio, a intenção é estabelecer práticas interdisciplinares que possam conjugar a cultura branca com as tradições indígenas. “Queremos juntar as áreas de conhecimento de ambas as culturas como, por exemplo, comunicação e arte indígena”, explica.
A escola segue o currículo de educação escolar indígena e também ensina as disciplinas tradicionais como física e química. “Aqui nós ensinamos os alunos a plantar e pescar, mas também lecionamos conteúdos do ensino regular como física e química”, esclarece o tuchaua. Antes de adotar o modelo atual, a comunidade tinha aderido ao currículo escolar tradicional. “Não deu certo porque as disciplinas tradicionais, embora sejam muito ricas, não têm aplicação aqui na nossa comunidade”, explica a diretora. Ela é uma das testemunhas de como a educação tradicional precisou ser modificada para se adequar à realidade dos índios brasileiros. “Eu não domino a língua uapixana. Nasci e cresci aqui, mas fui alfabetizada só em português. Hoje as novas gerações têm acesso à língua materna”, comemora.
Ana Guimarães