Tecnologia realiza sonhos no Amazonas
Manaus — Cursar o ensino médio na zona rural do Amazonas foi um desafio para Aldenor Oliveira, que ficou afastado dos estudos por 18 anos. Ele mora na comunidade de Terra Preta, no município de Parintins, a cinco horas da escola mais próxima. “Eu trabalhava o dia inteiro e, depois, tinha de pegar o barco por cinco horas até a escola. A dificuldade era grande. Acabei desistindo de estudar”, conta.
Desde julho deste ano, Aldenor cursa a primeira série do ensino médio em sua própria localidade, graças ao Projeto de Ensino Médio Presencial com Interação Tecnológica. A distância entre as escolas era um obstáculo para os estudantes. “Sei de alunos que tinham de viajar até sete dias para chegar à escola mais próxima”, conta o coordenador do projeto, José Augusto Melo Neto. A iniciativa, agora, possibilita o acesso ao ensino médio a cerca de dez mil alunos da zona rural do estado por meio de videoconferências, transmitidas via satélite, em tempo real. O sinal bidirecional permite a interação entre professores e alunos. Mais de R$ 15 milhões foram investidos para garantir que a zona rural amazonense atenda os estudantes. “Aqui, a geografia é diferente. É impossível levar um cabo de internet ao interior da Amazônia”, salienta. “E também não temos professores suficientes. A solução encontrada foi a transmissão de aulas por satélite.”
Ao todo, 334 comunidades de 42 municípios são atendidas pelo sistema. Em 2008, o projeto atenderá também os alunos da segunda série do ensino médio e, em 2009, os da terceira série.
Proximidade — Quem imagina que as aulas transmitidas por videoconferência são frias ou impessoais precisa ver de perto a iniciativa de ensino médio presencial com interação tecnológica do Amazonas. A aula do professor Flávio Vieira começa com a música Tocando em Frente, de Almir Sater e Renato Teixeira. Dez mil alunos ouvem, simultaneamente, os versos da canção, enquanto o editor de textos destaca os advérbios, tema de uma das aulas: “(...) Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe / Só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei”
Depois da aula expositiva, o professor que acompanha os alunos em cada sala de aula inicia o debate sobre os advérbios. As dúvidas são respondidas imediatamente pelos professores que estão no centro de mídias da Secretaria de Educação do estado. O centro funciona desde 9 de julho, mas foi oficialmente inaugurado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, em 20 de agosto.
As aulas transmitidas pelo projeto têm a mesma carga horária do ensino regular das capitais. São 203 antenas parabólicas e 260 aparelhos de tevê de 37 polegadas que tornam possível o sonho de Aldenor Oliveira, que não pretende mais abandonar os estudos. “Agora, vou até o fim”, garante.
Ana Guimarães