Gestão de escola é exemplo de flexibilidade
Balneário Camboriú — Nathália Wolff Vieira sempre foi boa aluna. Aos 15 anos, engravidou. Como não tinha com quem deixar a criança, viu-se diante da possibilidade de abandonar os estudos, mas recorreu à diretoria da Escola Estadual Professora Maria da Glória Pereira, onde estuda. A solução encontrada modificou a rotina da escola, em Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
Nathália leva a filha Nicole Eduarda, agora com cinco meses, para a sala de aula. Os colegas de classe da jovem mãe aprovaram a novidade e adotaram o bebê como mascote da turma. Com menos de um mês, Nicole já ia à escola todos os dias. “Ela adora vir para cá. Não chora em hora nenhuma. Fica até mais contente aqui do que em casa”, garante a mãe.
Em 2006, em todo o país, 560 mil jovens com menos de 20 anos foram mães. É o que diz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na pesquisa Estatísticas de Registro Civil, de 2006. O estudo mostra que jovens como Nathália são responsáveis pelo nascimento de uma a cada cinco crianças no Brasil.
Na escola Professora Maria da Glória Pereira, a presença da criança não interferiu no desempenho escolar da mãe. “Hoje, sou até mais dedicada porque sei que minha filha depende de mim. Acho que todo adolescente deve saber que não há como prosperar sem educação”, diz a estudante, agora com 16 anos.
A escola conviveu com outros casos de gravidez precoce, mas Nathália é a primeira estudante que não teve com quem deixar o bebê. “Essa não é a política da escola, mas tivemos de abrir exceção para que ela continuasse estudando”, revela a diretora Andréa Luiza Fronza.
Flexibilidade — Quando a educação está em jogo, a política da escola é a flexibilidade. Como grande parte da renda de Balneário Camboriú depende da temporada de férias, muitos pais só vão ao município em determinados períodos. São ambulantes, donos de residências para aluguel em temporada de férias e outros profissionais.
Apesar da população de apenas cem mil habitantes, a cidade tem uma estrutura de edifícios que comporta quase um milhão de pessoas na alta temporada. Com tanta rotatividade, a escola enfrenta outro desafio. Muitos alunos são filhos de profissionais que só chegam ao município no verão. Eles se deparam com um dilema. Começam o ano letivo em Camboriú, vão para outra cidade no meio do ano e retornam quando os turistas começam a chegar.Para garantir que os estudantes não sejam prejudicados, a escola aceita os transferidos e ainda oferece aulas de reforço àqueles que não conseguem acompanhar as matérias. “Fazemos de tudo para que eles tenham o direito à educação preservado”, conta a diretora.
O resultado de tanto esforço é que a escola teve índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb) de 5,4 nas séries iniciais do ensino fundamental. A média do Brasil é de 3,8 e, pelas previsões, chegará a 2015 com 5,2. Ou seja, inferior à da Escola Estadual Professora Maria da Glória Pereira.
Ana Guimarães