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  • Projeto pedagógico desenvolvido no interior baiano visa à preservação da caatinga no Semiárido e a geração de renda nas comunidades (arte: ACS/MEC)Estudantes da Escola Família Agrícola (EFA) e pequenos agricultores de 13 comunidades rurais próximas a Riacho de Santana, município de 36 mil habitantes no sudoeste da Bahia e a 720 quilômetros da capital, Salvador, são parceiros em processo de aprendizagem. Nessa troca, os dois lados ganham, uma vez que as atividades desenvolvidas pelos 175 alunos do ensino médio em sala de aula, com orientação dos professores, são definidas de acordo com as demandas e necessidades dos agricultores locais. “Essa aproximação é de fundamental importância, pois a parceria, além de enriquecer o trabalho, fortalece o vínculo entre escola, família e comunidade”, explica a coordenadora pedagógica da escola, Isabel Xavier de Oliveira.

    Um dos projetos pedagógicos atuais visa à preservação do bioma caatinga no Semiárido baiano e a geração de renda nas comunidades. A meta é plantar 34 mil mudas de maracujá-do-mato e distribuir, anualmente, 3,5 mil mudas de umbu-gigante. Dois viveiros cobertos foram construídos na escola, no início do ano letivo de 2015, para abrigar as mudas. Assim, os agricultores terão como aumentar a renda familiar, com a comercialização dos frutos in natura — bastante resistentes à seca —, e ao mesmo tempo contribuir para preservar a espécie e recuperar áreas desmatadas. Na primeira fase do projeto, a tarefa dos alunos é cuidar do desenvolvimento das mudas.

    Mateus Alves da Costa, 56 anos, é um dos monitores que acompanham o aprendizado prático dos alunos nos viveiros. Assim que as mudas estiverem prontas para serem transplantadas, os alunos ajudarão a distribuí-las aos lavradores da região. “Os umbuzeiros daqui quase foram extintos, devido ao desmatamento para pastagem e produção de carvão”, conta Mateus, que é técnico em agropecuária e passou a infância na pequena propriedade rural da família, na divisa de Riacho de Santana com Bom Jesus da Lapa. Dos tempos de menino, ele se lembra de subir nos umbuzeiros para comer as frutas. Hoje, lamenta a impossibilidade de as crianças fazerem o mesmo porque os umbus viraram raridade. “O umbuzeiro mais antigo da nossa região, e que dá os frutos mais doces, foi descoberto pelo meu avô João Antônio da Costa, que morreu em 1958”, conta.

    Fruticultura — Os alunos da escola planejam criar uma fruticultura no Semiárido como solução de inclusão produtiva da juventude rural em sua própria região. Embora a Escola Família Agrícola esteja situada na periferia de Riacho de Santana, os alunos que a frequentam são filhos de lavradores e pequenos proprietários de terra. “Há 40 anos, a escola ficava na zona rural, mas a cidade foi crescendo e chegou até a escola”, explica Isabel. A unidade de ensino é mantida pela Associação Beneficente e Promocional Agrícola de Riacho de Santana, instituição filantrópica sem fins lucrativos criada por religiosos e lideranças comunitárias, em 1977, para ampliar oportunidades de educação de qualidade aos filhos dos agricultores das comunidades próximas.

    Pais de alunos, ex-alunos e agricultores compõem voluntariamente a associação, que tem também a finalidade de formar lideranças e contribuir para o desenvolvimento produtivo local. A filosofia da escola, desde o início, é a de uma educação que associe teoria e prática. Por isso, oferece educação profissional técnica em meio ambiente integrada ao ensino médio. A linha educacional adotada é a da pedagogia da alternância, ou seja, os estudantes intercalam um período de atividades em sala de aula com outro, semanal, que deve ser cumprido em casa e junto à comunidade. Nessa pedagogia, diz Isabel, a família e os integrantes da comunidade debatem e ajudam a responder questões de pesquisa levantadas em sala de aula. Os alunos são estimulados também a realizar palestras nas comunidades para repassar o que aprenderam com os professores.

    “Dessa forma, a escola é levada para a vida e a vida é trazida para dentro da escola, fazendo com que, de fato, a contextualização do ensino aconteça”, explica a coordenadora pedagógica. Assim, o projeto educativo integra o ambiente escolar com o meio social do educando, numa afinada sintonia de troca. “A família e os membros da comunidade ajudam muito com os seus saberes experienciais, pois eles têm o conhecimento prático da realidade”, afirma. “Esse conhecimento empírico, confrontado com o científico, que é trabalhado na nossa escola, gera um novo saber, que acreditamos ser mais significativo.”

    Comunidades — Além de Riacho de Santana, a escola recebe alunos de comunidades dos municípios de Anagé, Bom Jesus da Lapa, Botuporã, Caetité, Carinhanha, Ibotirama, Igaporã, Iuiú, Matina, Palmas de Monte Alto, Paratinga, Serra do Ramalho e Tanque Novo. “São todas comunidades tradicionais, muitas delas quilombolas, já reconhecidas pelo governo, que se ocupam da agricultura familiar”, explica a coordenadora. Muitos dos agricultores familiares dessas comunidades, que cultivam feijão, milho, frutas e hortaliças, e criadores de animais de pequeno porte vendem seus produtos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), mantido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) do Ministério da Educação.

    A escola funciona no sistema de internato e atende, alternadamente, a 175 alunos de ensino médio, que ficam na escola de segunda a sábado. Enquanto uma parte da turma está na escola, a outra desenvolve em casa e junto à comunidade as atividades definidas pelos professores. “Além de recrutar adolescentes para estudar na escola, as comunidades são coeducadoras porque tomam conhecimento e debatem temáticas diversas com os alunos”, diz Isabel. Segundo ela, a escola também vai às comunidades, em encontros zonais, para falar da convivência com o semiárido, dando destaque, por exemplo, a assuntos que envolvam plantas e animais adaptáveis à região, formas de captação e armazenamento adequado de água e preservação de sementes nativas, como o quase extinto umbu.

    Rovênia Amorim

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  • A recuperação de um parquinho, que faz a alegria dos estudantes, é uma das realizações do projeto comunitário desenvolvido em Cavalcante (foto: divulgação)Cercado por cachoeiras e belezas naturais e históricas da Chapada dos Veadeiros, o município goiano de Cavalcante exibe a realidade das desigualdades sociais no Brasil ao apresentar um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) do país. De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, de 2010, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o município, a 320 quilômetros de Brasília, ocupa a 4.540ª posição entre os 5.565 do ranking.

    Essa situação de vulnerabilidade despertou a atenção de voluntários de uma instituição religiosa de Brasília, que atua em parceria com uma organização de desenvolvimento social. Decidiu-se, então, incluir a comunidade de Cavalcante em projeto comunitário que envolve escola e famílias. A Escola Municipal Morro Encantado, em um dos bairros mais carentes de Cavalcante, foi escolhida para o início do projeto.

    As atividades são programadas para os fins de semana. Desde o ano passado, as 300 crianças, do pré-escolar ao quinto ano do ensino fundamental, participam de oficinas de artesanato e de música, gincanas e práticas esportivas. As famílias dos alunos recebem doações de roupas e alimentos e são convidadas para palestras sobre temas como valores humanos e a importância de apoiar e acompanhar os estudos dos filhos.

    A diretora da escola, Delma Gonçalves Maia, apoia a iniciativa. “As crianças adoram as atividades porque na cidade não há muita opção de atividades culturais para elas”, explica.

    A parceria tem resultado em melhorias também na estrutura física do prédio escolar. Com recursos próprios e com a contribuição de uma loja de tintas de Brasília, a escola ganhou pintura nova. “Também fizemos a limpeza do terreno, com roçagem do mato, e a recuperação de um parquinho, que é a alegria dos estudantes atualmente”, conta Herbert Borges Paes de Barros, coordenador do Projeto Cavalcante. Pequenos reparos também são feitos, como o conserto da torneira que pingava e desperdiçava água, a substituição do bebedouro e o reforma da rede wi-fi.

    Apesar dos poucos encontros, as crianças já se mostram mais receptivas ao projeto. “Antes, elas ficavam retraídas, havia agressividade e dificuldades de obediência às regras combinadas”, lembra Herbert. Segundo o coordenador, o comportamento dos alunos começou a melhorar a partir da terceira atividade, com a conquista da confiança. “Passamos a vivenciar a afeição, o carinho e o respeito pelos voluntários.”

    Zelo — De acordo com Herbert, o maior desafio do projeto é fazer os próprios moradores da Vila Morro Encantado, onde fica a escola, entenderem a unidade de ensino como parte da comunidade. “A comunidade deve zelar por ela e contribuir com o que puder para que a escola se torne um ambiente cada vez melhor, tanto em relação à estrutura física quanto à educação, à qualidade de vida de estudantes, professores e funcionários”, pondera.

    Segundo a diretora Delma, os pais dos alunos precisam de ajuda para perceber a necessidade e a importância do envolvimento deles na rotina escolar dos filhos. É o caso de uma aluna de 11 anos, do quinto ano. Adotada por uma tia, a menina fica com a avó quando não está escola porque a nova mãe trabalha como doméstica o dia todo. “À tarde, ela ajuda a cuidar do irmão menor e de outros primos também menores”, explica a mãe adotiva, de 58 anos, que mora no Morro Encantado. “São importantes essas atividades da escola no fim de semana porque as crianças não ficam à toa e aprendem coisas boas”, diz a mãe.

    A diretora da escola lamenta o fato de as crianças mal contarem com acompanhamento escolar por parte dos pais, que em geral têm pouco estudo e um histórico de violência e alcoolismo. “Os irmãos mais velhos é que ficam responsáveis e costumam levar os mais novos para a escola”, diz. “É muito difícil mudarmos uma tradição, mas aos poucos estamos tentando. Por isso, esse projeto é muito bem-vindo.”

    Rovênia Amorim

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