Propor a mudança de perspectiva das crianças sobre o território em que vivem, rompendo estigmas e fortalecendo a autoestima, é o objetivo de um projeto desenvolvido na escola municipal Anne Frank, em Minas Gerais. Com a ação, a escola localizada no bairro de Confisco, entre Belo Horizonte e Contagem, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos deste ano, na categoria Educação Formal.
Com o título Entre o diário e a história em quadrinhos: construindo a história de um bairro, o trabalho foi realizado por estudantes, que entrevistaram moradores para resgatar a memória e valorizar a história da cidade. O material final foi transformado em quadrinhos.
“Esse projeto nasceu a partir de três pilares. Um deles é o sonho antigo de uma líder comunitária de contar a história do bairro por meio de quadrinhos. O outro foi a motivação e o incentivo que a gente teve da direção. Outro desencadeador foi uma constatação em sala de aula: sou professor de história da escola Anne Frank há dez anos e percebi que a maioria dos conflitos em sala vinham muito em referência ao local de moradia e uma forte rejeição ao bairro Confisco”, conta o professor Moacir Fagundes.
Ao entender que não poderia ficar indiferente com a situação, Moacir começou a pensar em formas de trabalhar os problemas enfrentados pelos estudantes. “É um bairro pobre, de periferia, tem muita gente do comércio, muito trabalhador da construção. A maioria é de gente trabalhadora, e a imagem propagada pela mídia sobre o bairro não é nada positiva, ao contrário. Então, o projeto que realizamos com os estudantes da escola Anne Frank também dá atenção para esse dado”, detalha.
Um formulário com perguntas foi criado em conjunto com os estudantes. De posse desse material, o professor e os alunos percorreram as ruas do bairro coletando informações. O ponto principal era descobrir que imagem os moradores do bairro tinham do local onde moram. Entre as perguntas, havia uma que tratava justamente do que tinha sido debatido em sala de aula: alguma vez tiveram que esconder que moravam no bairro?

“Transcrevi todas as entrevistas e fui selecionando as falas por tema. Por exemplo, as que falavam o porquê de [o bairro] se chamar Confisco. Então, peguei a resposta de todos que falavam nesse assunto e selecionei. Fui fazendo um apanhado, que foram transformados em balões de história em quadrinhos. Fizemos um painel na sala e fomos debatendo com os meninos”, relembra o professor.
Moacir conta que, com algumas parcerias, foi possível realizar oficinas de histórias em quadrinhos, para os estudantes aprenderem técnicas básicas de desenho. O desdobramento da ação foi o lançamento da revistinha e uma exposição fotográfica.
O professor destaca que o resultado positivo da atividade em relação aos alunos é perceptível. “A autoestima melhorou bastante. Deu para ver que se criou mais o sentimento de pertencer ao local. Tanto é que hoje diminuíram bastante as brigas por causa do nome do bairro. E sempre que eles veem alguém falando do bairro na mídia, falando bem, se sentem orgulhosos”, ressalta. Para Moacir, dar ao estudante a oportunidade de ser protagonista faz aumentar a participação e o interesse em sala de aula.
Assessoria de Comunicação Social