Dissertação identifica problemas na alfabetização
A dissertação de mestrado O ABC sem o ABC: fonemas e grafemas na alfabetização, do pesquisador Ricardo Hecker Luz, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), identificou problemas na alfabetização do 1º ano do ensino fundamental. Um deles, diz o pesquisador, é o ensino simultâneo da leitura e escrita, que teriam processos diferentes e que não podem ser tratados da mesma maneira. O pesquisador defende uma alfabetização com letramento, por meio da qualificação teórica e prática dos professores e valorização profissional da categoria.
“Iniciei a pesquisa em 2003 e levei um choque. Cada professor ensinava de um jeito. Não imaginava que houvesse tantos métodos de alfabetização”, conta Ricardo Luz, que fez sua pesquisa em Garopaba (SC). Ele conta que demorou para aprender a ler e que não lhe parecia lógico que a letra M se chamasse eme, e que a pronúncia com a vogal A seguinte não fosse emea e sim ma. “Era impossível ler. A leitura é pré-requisito para a escrita com entendimento e muitos professores não levam isso em conta, exigindo de crianças que não aprenderam a ler, cópias de textos”, questiona.
Segundo ele, a atividade não desvenda o mistério que transforma letras em sons e vice-versa. “A escola não está preparada para trabalhar com dificuldades de aprendizagem dos alunos”, diz. Ricardo Luz afirma que problemas surgem nas primeiras semanas de aula e que não há estratégias para enfrentá-los. “As crianças deveriam receber ajuda a partir das primeiras semanas, aumentando as chances de ingresso no mundo da leitura. Muitas repetem vezes o 1º ano e, mesmo assim, não aprendem a ler”, argumentou.
A dissertação foi apresentada no Programa de Pós-Graduação em Lingüística da UFSC. Ricardo Luz diz que o ensino do alfabeto com o nome das letras dificulta o entendimento do sistema. “Muitas crianças ao verem a palavra bolo, lêem bê-o-éle-o. O ensino do valor (o som) que as letras podem representar elucida o enigma que transforma letras em sons e sons em letras. Isso pode ser feito com figuras e seus respectivos nomes.”
Conhecimento – Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), Ricardo Luz avaliou a influência do conhecimento lingüístico e psicolingüístico do professor no sucesso da alfabetização. O trabalho evidenciou a necessidade de práticas pedagógicas para o reconhecimento dos traços gráficos que distinguem as letras e de alternativas para enfrentar a alfabetização com analfabetismo funcional.
O pesquisador afirma que a alfabetização deve ser vista como um jogo, com princípios e regras. “Uma prática pedagógica que se fundamente neste princípio tende a tornar fácil o acesso ao mundo da leitura, relacionando as novas informações com o conhecimento de mundo. Resumindo: alfabetização com letramento”, conclui.
Repórter: Sonia Jacinto