Alfabetizada pelo método Paulo Freire é professora em Angicos (RN)
O município de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, vive dias movimentados à espera da formatura de três mil alfabetizandos com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do ministro da Educação, Fernando Haddad, marcada para este sábado, 3, às 9 horas, no campo de futebol local. Os formandos representam 20 municípios do estado e fazem parte das turmas do Mova Brasil, programa mantido pela Petrobras.
Entre os que esperam a festa está a pedagoga Eneide Pires. Alfabetizada em turma de jovens e adultos aos sete anos, ela participou da histórica ação do educador Paulo Freire, em Angicos, em 1963. Seus pais, à época com 30 anos, se alfabetizaram. “Meu pai queria melhorar de vida”, conta Eneide. Dona Francisca e o marido Severino, porém, não continuaram os estudos. A filha Eneide começou a freqüentar a escola. Tomou gosto, e não só concluiu o ensino médio como resolveu estudar para ser professora.
Eneide formou-se e trabalha nas redes municipal e estadual, dando aulas para crianças na educação infantil e para adolescentes no ensino médio. Não satisfeita, a professora, hoje, usa o modelo de Paulo Freire para alfabetizar jovens e adultos. “O analfabetismo aqui é muito grande”, afirma.
Formada em pedagogia e com especialização em educação inclusiva, Eneide espera falar com Lula. Em 1963, recém-alfabetizada, ela conheceu o então presidente, João Goulart. “Quero ver se o Lula me pergunta o que eu quero”, afirma a professora. A resposta é um segredo muito bem guardado, mas ela dá uma pista: “Não é uma coisa para mim, é para a educação”.
Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, Ricardo Henriques, exemplos como o de Eneide mostram como a educação pode ser determinante na vida de uma família. “A alfabetização dos pais trouxe a família para a escola e para a cidadania”, disse.
Brasil Alfabetizado – A formatura em Angicos marca a abertura do Programa Brasil Alfabetizado, cujas aulas começam este mês. Mais de quatro mil municípios e 2,2 milhões de pessoas serão atendidos pelo programa. De acordo com dados do censo 2000 do IBGE, o Brasil tem 16 milhões de jovens e adultos analfabetos. No Rio Grande do Norte, 23% da população com 15 anos ou mais não sabe ler e escrever. Entre 2003 e 2004, o MEC financiou o atendimento a mais de 120 mil pessoas nessa situação, no estado. Este ano, outras 76 mil serão alfabetizadas.
Repórter: Iara Bentes