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Magistério

Ensinar é missão para moradora de região quilombola na Bahia

  • Sexta-feira, 23 de outubro de 2015, 09h09
  • Última atualização em Sexta-feira, 23 de outubro de 2015, 09h09

Para a professora Jailde, o magistério, além de vocação, é missão: “Ensinar aos filhos dessa terra é um compromisso com meu povo”Moradora do Quilombo Jiboia, no município baiano de Antonio Gonçalves (11 mil habitantes), a professora Jailde Lima da Silva tem a oportunidade de lecionar na Escola Municipal Araguacy Gonçalves, na própria comunidade. “Sou filha desse quilombo”, diz. “Sinto estar realizada como professora de uma comunidade que retrata minha identidade.”

Para Jailde, ser professora, além de vocação, é missão. “Ensinar aos filhos dessa terra é um compromisso com meu povo, que teve seus direitos negados ao longo de sua vida”, diz. “Sinto na pele o que é ser filha de pais analfabetos, que não tiveram a oportunidade de frequentar uma escola, não por escolha, mas por ter esse direito negado durante muitos anos.”

Além da escola Araguacy Gonçalves, que tem 85 alunos matriculados no ensino fundamental e na educação de jovens e adultos, além de outros 32 no Projovem Campo – Saberes da Terra, o quilombo conta com uma escolinha de educação infantil e uma extensão do Centro Territorial Piemonte Norte do Itapicuru (Cetep), que oferece cursos profissionalizantes. O Projovem Campo é um programa nacional de fortalecimento e ampliação do acesso e da permanência de estudantes no sistema formal de ensino. São atendidos, basicamente, jovens agricultores familiares na faixa etária de 18 a 29 anos.

De acordo com a professora, a escola quilombola inclui em sua proposta político-pedagógica a valorização da cultura local, o que a torna diferente. “Ela trabalha de fato com a identidade do povo quilombola, respeita a cultura, a religiosidade, os saberes e fazeres da comunidade, e trata as relações étnicas e raciais como folclore apenas nas datas comemorativas”, analisa.

Oportunidades — Segundo Jailde, é possível perceber um avanço significativo na comunidade. “A educação abriu vários caminhos e oportunidades; eu sou prova real dessa mudança”, afirma a professora, que tem graduação em pedagogia e especialização em gestão escolar. “Quatro filhos da comunidade conseguiram cursar uma faculdade, passar em um concurso público e ser efetivados”, diz. “Ainda é muito pouco, mas são conquistas que minha mãe não teve.”

As oportunidades de acesso à escola, abertas atualmente a crianças e jovens, são destacadas pela professora baiana. Ela cita itens como o transporte escolar e o livro didático, oferecidos gratuitamente pelo Ministério da Educação. “Na minha infância, não havia escola; eu frequentava uma casa de família, onde eram reunidas crianças com idade acima de oito anos para serem alfabetizadas.”

Como a professora era a madrinha de Jailde, ela pôde participar desses encontros a partir dos dois anos, acompanhando os irmãos. “Meus pais trabalhavam na roça, e não tinha quem cuidasse de mim”, revela. O resultado é que Jailde conseguiu se alfabetizar aos cinco anos. Há 15 anos no magistério, ela leciona as disciplinas de história, geografia, sociologia e filosofia para estudantes do Projovem Campo.

Fátima Schenini

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