Estudantes afrodescendentes apóiam a reforma universitária
Professores, voluntários e cerca de 30 alunos da organização não- governamental Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes) entregaram hoje, 10, ao ministro da Educação, Tarso Genro, duas cartas de apoio e de sugestões à reforma do ensino superior e ao Programa Universidade para Todos (ProUni).
"Nós, da comunidade negra, e os pré-vestibulares organizados, queremos dar ao MEC sustentação popular, para que o ministério mantenha todas as conquistas já conseguidas por meio do sistema de cotas, no ProUni e nas universidades federais, para os negros, os indígenas e os pobres. Estamos muito preocupados com o crescimento dos protestos da elite e da classe dominante. Nós queremos dizer para o MEC que ele está certo e não pode ter medo nem recuar frente à pressão", frisou Frei David Santos, diretor executivo da Educafro.
Ao agradecer a solidariedade recebida, o ministro admitiu que está enfrentando um debate estratégico na sociedade brasileira com relação ao acesso ao ensino superior. "Tudo isso causou um desconforto nas elites brasileiras. Um a um dos argumentos que eles colocaram foram derrotados e nós estamos tendo muito cuidado para não transformar este momento num debate sobre se há ou não discriminação racial no Brasil", afirmou o ministro.
Para Tarso, o debate político que se travou sobre o assunto desmascarou a visão de que a política do MEC era populista ou protecionista. "Se houver uma análise mais a fundo sobre isso, vamos perceber que é um debate sobre a questão da hegemonia na sociedade. Hegemonia de valores éticos, políticos, de projetos para o País, e que ações dessa natureza criam uma instabilidade na tranqüilidade da estrutura de dominação que sempre esteve por dentro da democracia brasileira", disse.
Dentre as sugestões apresentadas pela Educafro, para a reforma universitária, estão a reserva de 50% das vagas de cada curso nas universidades, aos alunos oriundos da rede pública, além de um percentual reservado aos afrodescendentes e indígenas; a instituição de um plano de desenvolvimento institucional vinculado ao desenvolvimento regional, econômico, social e cultural; e gestão pluralista e democrática da universidade, a partir de um conselho comunitário social, garantindo a participação da sociedade civil organizada.
Para o diretor da Educafro, a reforma universitária deve ser democrática. "A gente percebe, no MEC, uma postura muito corajosa, em deixar claro para a sociedade brasileira que a reforma universitária pertence a todo Brasil e não somente a um segmento. E nós estamos aqui para confirmar que queremos uma reforma universitária que não deixe de fora os negros e os pobres. Queremos deixar claro que ela precisa ter a marca do povo", concluiu Frei David.
Os representantes da Educafro receberam de Tarso Genro a garantia de que a reforma universitária irá até o fim. "Nós temos excelentes argumentos do nosso lado, a ampla maioria da sociedade brasileira e, sobretudo nós, o povo brasileiro, temos a capacidade política de agregar valor nesse processo de afirmação de um projeto estratégico para o País", disse o ministro.
Educafro - A Educafro possui 255 núcleos próprios de pré-vestibular no eixo Rio de Janeiro/São Paulo, e mais de 2 mil cursos pré-vestibulares comunitários espalhados pelo País, com cerca de 100 mil alunos. Mais de 50% dos estudantes, de cada núcleo, entraram neste ano em uma universidade pública ou particular, por meio do ProUni ou do Programa de Financiamento Estudantil (Fies)".
Repórter: Sonia Jacinto
Foto: Tereza Sobreira