Boaventura defende reforma universitária
"Se eu tivesse o privilégio de ser brasileiro, seria totalmente a favor da reforma universitária que está em curso, pois é uma das mais progressistas e equilibradas que eu conheço". A afirmação é do sociólogo português Boaventura de Souza Santos, para quem a reforma universitária proposta pelo Ministério da Educação é progressista, equilibrada e ocorre num momento propício para mudanças. De acordo com ele, o debate colocado pelo governo brasileiro é oportuno porque está em curso no mundo o fenômeno da globalização neoliberal da universidade, que é a criação de um mercado transnacional de bens universitários.
“É toda aquela idéia de transformar a universidade em um mercado. Não num mercado nacional, como são as universidades privadas aqui, mas num mercado global, em que todas as universidades vendam serviços universitários para todo mundo”, explicou em entrevista ao jornal O Estado de Minas. “Esta reforma, está, no meu entender, a criar um clima bom de pensar o futuro da universidade”, elogiou.
Boaventura é autor do livro Pelas mãos de Alice, em que discute as três crises vividas pelo sistema universitário: hegemonia, legitimidade e institucional. A primeira se caracteriza pela perda da exclusividade do monopólio do saber; a segunda, pela excessiva especialização que levou a universidade a elitizar o ensino e o acesso; e a terceira se refere à tendência das instituições seguirem padrões para atender as pressões do mercado.
Para reverter esses problemas, Boaventura aponta cinco frentes de trabalho: acesso, extensão, pesquisa-ação, ecologia do saber e uma interação maior entre universidade e a educação básica.
O pensador esteve no Brasil pela primeira vez no começo da década de 70, quando pesquisou uma favela do Rio de Janeiro para a sua tese de doutorado. Recentemente, Boaventura voltou ao País para lançar dois livros: A Universidade no século XXI e Fórum Social Mundial: manual de uso.
Para ele, o sistema de cotas não é a solução definitiva para a inclusão social, mas permite o acesso à educação superior de uma geração inteira de negros. “Cotas não vão resolver o problema da dívida colonial brasileira, mas é um passo importante para saldar uma parte dela. Depois, deve-se alterar o conteúdo das matérias ensinadas na universidade”, diz.
Mercantilização – Bovaentura não vê com bons olhos a situação atual em que a universidade passou a ser vista como um mercado de serviços universitários, com cursos oferecidos on line e consumo de estudos estrangeiros, como franquias universitárias. Para ele, a universidade deve ser um espaço público para a sociedade pensar, em médio e longo prazos. “As relações mercantis não se estabelecem dessa forma: precisam de retorno, obter lucro no final do ano. Se prevalecer uma lógica mercantil, haverá meia dúzia de universidades dominando o mercado estudantil mundial”, resume.
(ACS/MEC com informações do O Estado de Minas)