Professor do campo precisa de formação
De acordo com o Censo Escolar 2005, o Brasil possui 205 mil educadores que atuam na área rural. Do total, cerca de seis mil têm apenas o ensino fundamental, 154 mil concluíram o ensino médio e somente 44 mil cursaram o ensino superior. A falta de formação motivou o anúncio, na última quinta-feira, 24, de edital de chamada pública, que convoca as universidades públicas a abrirem cursos para estes professores.
“As universidades públicas devem ajudar a formar professores que estejam prontos para a realidade do campo”, explica André Lázaro, secretário da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. O edital está no âmbito do Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (Procampo).
Método – André Lázaro explica que os cursos de formação de docentes para o campo devem englobar duas premissas: o regime de alternância e a divisão entre áreas de conhecimento. O regime de alternância prevê aulas teóricas e práticas para os professores. Primeiro, eles recebem formação geral sobre os princípios da educação, entre outros. Depois, optam por uma área específica e desenvolvem pesquisas sobre as necessidades das comunidades onde eles irão lecionar. Assim, a preparação dos professores fica dividida entre a escola e a comunidade e eles já saem preparados para enfrentar desafios específicos de suas zonas rurais.
Já a divisão em áreas de conhecimento impede que ocorra um problema comum na educação básica brasileira: a falta de professores para áreas como química, física e biologia. A licenciatura incentivada pelo Procampo é inovadora e multidisciplinar, com abordagens em quatro áreas. A primeira é chamada de linguagens e códigos e forma docentes em português, artes e literatura. A segunda, ciências da natureza e matemática, capacita para lecionar matemática química, física e biologia. A terceira, ciências humanas e sociais, forma professores em filosofia, sociologia, história e geografia. A quarta, ciências agrárias, traz conteúdos específicos para o campo.
Além disso, os cursos de formação para docentes do campo também trazem um resgate da identidade dos moradores da região. “É comum a associação dos moradores da zona rural com pessoas com pouco conhecimento e isso é ignorar a riqueza cultural presente no interior do país”, explica André Lázaro. Assim, os professores aprendem a citar exemplos em sala de aula que façam parte da realidade dos estudantes do campo. Parece ser simples, mas a medida é fundamental para que os estudantes graduados do campo valorizem sua cultura e permaneçam em suas cidades depois de formados. “Queremos manter as pessoas capacitadas na zona rural e não fazer com que elas migrem para a cidade”, destaca.
Ana Guimarães e Ionice Lorenzoni