Jardim da UnB receberá nome de aluna assassinada em laboratório
O Instituto de Ciências Biológicas (IB) da Universidade de Brasília (UnB) é conhecido por ser um dos melhores do país e por ter sido palco de um crime chocante. Em 10 de março do ano passado, a estudante de biologia Louise Ribeiro foi assassinada dentro de um laboratório do instituto pelo seu colega e ex-namorado Vinícius Neres. À entrada do bloco de salas de aula do instituto, uma placa homenageia Louise, e em breve ela será nome de um jardim com plantas nativas do cerrado, que, além de ornamentais, servirão de matéria prima para pesquisas.
O IB detém prêmios importantes, concedidos por organismos nacionais e do exterior a trabalhos de pesquisa realizados por alunos e docentes, em áreas como ecologia e conservação, fitopatologia e genética.
O Jardim Louise Ribeiro é uma realização coletiva, envolvendo dezenas de professores e alunos do IB, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e do Departamento de Agronomia. Também participaram funcionários da prefeitura da UnB e colaboradores externos – Jardim Botânico de Brasília, Projeto Jardins do Cerrado, Embrapa e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A proposta será dividida em duas partes. A primeira delas, estará mais voltada ao paisagismo, composta especialmente de gramíneas, ervas e arbustos, e ficará em torno de um ipê rosa plantado pouco depois do homicídio.
“Isso é inovador, uma vez que plantas do cerrado praticamente não são utilizadas em jardins”, informou a professora Isabel Schmidt, especializada em ecologia aplicada a conservação e uma das idealizadoras do projeto. “Atualmente existem poucas variedades usadas em ornamentação, e quase todas elas são árvores, como os ipês e as copaíbas. É uma pena, já que 80% (quase 10 mil espécies) da flora desse bioma são herbáceas e arbustivas e têm sido ignoradas no paisagismo brasileiro.”
Experimentos – A outra parte do Jardim Louise Ribeiro será dedicada a experimentos científicos, como testes nas formas de semeadura e a combinação entre espécies, a fim de buscar aprimorar formas de cultivo de plantas nativas não-arbóreas. Em todo o trabalho, A FAU contribuirá com o design da área de uso pelos visitantes, com o mobiliário e a conceituação (linguagem técnica) de um jardim de memória. As sementes serão compradas de coletores envolvidos em projetos de restauração ecológica.
A ideia de representar a mulher em um pequeno espaço físico por plantas de um bioma aparentemente frágil, mas com capacidade surpreendente de superação em meio às adversidades, é mais que uma homenagem, no entender de Carolina Amaro, doutoranda do Núcleo de Medicina Tropical, que muitas vezes frequentou os mesmos laboratórios que Louise Ribeiro. “Seremos todos levados a uma constante reflexão acerca do feminicídio e do respeito ao próximo. Que o primeiro nunca se repita e que o último nunca nos falte”, disse.
Assessoria de Comunicação Social