Nem falta de água pára escola potiguar
Natal — Mesmo sem água potável há cerca de um mês, a decisão da direção da escola estadual Santos Dumont, da Base Aérea de Natal, em Parnamirim, a 12 quilômetros da capital, foi de não interromper as aulas. O lençol freático da região está contaminado por excesso de nitrato. Com isso, a água que abasteceria a escola não pode ser utilizada. Com as torneiras dos bebedouros lacradas, o diretor José Albino Sobrinho e os professores resolveram incluir o assunto na pauta de reuniões com os pais para tentar encontrar uma alternativa.
Ficou decidido que a melhor solução seria furar um poço artesiano na própria escola, mas falta dinheiro. Enquanto a água não chega, os alunos decidiram se mobilizar. “Eles fizeram uma vaquinha para comprar água mineral e deixar nas salas”, revelou a professora de história Maria de Fátima de Araújo. “Ninguém quer parar as aulas.”
Há 14 anos na escola Santos Dumont, a professora também não quer interromper as aulas, embora esteja de licença médica desde abril, conseqüência de problemas nas cordas vocais. “Eu não consegui deixar os meninos porque o semestre já tinha começado”, disse.
“Aqui não tem greve ou paralisação. A gente não pára as aulas nem por falta de água”, enfatizou o diretor. Na sua opinião, em caso de greve, é o aluno que mais sai perdendo. “Enquanto o pai está no trabalho, é nosso dever educar o filho e garantir um futuro promissor a ele”, destacou. Formado em engenharia e letras, ele foi voluntário da escola antes de assumir o cargo, em 1999. Quando falta algum professor, José Albino é o substituto. Tudo para evitar que os alunos fiquem sem aula.
A escola, que atende mil alunos matriculados nos ensinos fundamental e médio, conta com a ajuda da Base Aérea de Natal, que cede mão-de-obra qualificada. Em caso de falta prolongada de mais de um professor, recorre a militares licenciados.
Além da falta de água, a escola enfrenta problemas de estrutura física. Infiltrações nas paredes causam umidade excessiva e mofo. A biblioteca é improvisada. O pequeno acervo, de cerca de 200 livros, está defasado. Mesmo com os problemas, alunos e professores estão organizando o tradicional arraial de junho, com direito a barraquinhas de comidas típicas e concurso de forró. “A escola não pára”, resumiu o diretor.
Maria Clara Machado