Escola do Rio é a primeira do país
Todo mês de fevereiro, o diretor Elielton Riguetti, do Ciep 279 Professora Guiomar Gonçalves Neves, em Trajano de Moraes (RJ), reúne todos os seus professores, do ensino fundamental e médio, em volta da grande mesa da sala dos docentes. Nenhum fica de fora. Durante uma semana, antes que as aulas comecem, eles têm a tarefa de rever e adequar todo o projeto político-pedagógico – ou, a espinha dorsal da escola, como diz o diretor.
“A espinha dorsal do corpo humano tem a função de dar sustento ao tronco, mas também, precisa ser flexível para que o corpo passa se movimentar. Assim é o nosso projeto político-pedagógico”, compara Riguetti. Segundo o diretor, esse é um dos fatores que levaram a escola a se destacar na Prova Brasil de 2005 e alcançar um índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb) exemplar: 8,5 – o maior entre as escolas públicas brasileiras. “Trabalho coletivo, comprometimento, seriedade e, claro, amor pela profissão são palavras de ordem”, aponta.
Na chamada Semana de Integração e Planejamento, os professores, a coordenadora e o diretor estudam toda a proposta pedagógica para o ano. Reforçam conceitos, relembram a filosofia da escola, estabelecem diretrizes sobre avaliações e atribuições de cada funcionário da escola. Assim, pouco a pouco, reconstroem o projeto político-pedagógico do Ciep 279. “Fazemos mudanças necessárias, propostas pela própria equipe e até por pais de alunos”, afirma Riguetti. Para ele, toda sugestão é bem-vinda. “São pequenos passos que levam a grandes resultados”, avalia. E, a cada ano, o processo se repete.
Reuniões de pais a cada dois meses, reuniões pedagógicas mensais e conselhos de classe semanais ocorrem durante todo o ano letivo e facilitam o trabalho quando chega a época da Semana de Integração e Planejamento. São nesses encontros que a equipe docente consegue sugestões para a melhoria do ensino. “Muitas vezes, nem precisamos esperar chegar fevereiro para fazer mudanças. Discutimos a viabilidade e já implantamos imediatamente”, relata o diretor. Por isso, Riguetti avalia que o processo de reconstrução do projeto político-pedagógico é constante. “Nosso objetivo é pensar no melhor para o aluno”.
Vanessa Amaral tem sete anos de idade e está terminando o primeiro ano do ensino fundamental – que, no Ciep 279, já é de nove anos. Ela já aprendeu a ler e escrever. Durante todo o ano, ela visitou a sala de leitura da escola pelo menos duas vezes por semana, junto com seus colegas de turma. Lá, ouviu histórias contadas pela professora, viu pequenas peças de teatro que ensinavam sobre as palavras e descobriu o mundo dos livros. Assim como Vanessa, todos os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental visitam a sala de leitura duas horas por semana. O que muitos deles não imaginam é que todo o trabalho realizado pelos professores é fruto de várias horas de elaboração. “O que mais gosto aqui na escola é da hora de ler e escrever. E do dever de casa”, diz a pequena menina.
Todos os professores do Ciep 279 são concursados e a maioria começou a trabalhar na escola na época da inauguração, em 1994. Os que lecionam nas séries iniciais do ensino fundamental trabalham 40 horas semanais. Cumprem 30 horas em sala de aula e duas de planejamento todos os dias. A maioria tem nível superior; os que não têm, já estão cursando Pedagogia. Já todos os professores das séries finais e do ensino médios são graduados e alguns tem pós-graduação. A média salarial é de R$ 862, fora gratificações.
Envolver todos os professores na discussão e elaboração do projeto político-pedagógico, respeitadas as especificidades de cada escola, é uma das diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, que norteia o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). No Ciep 279, em Trajano de Moraes, essa diretriz já é uma realidade.
Letícia Tancredi