Parceria muda vida de escola
Prudentópolis (PR) — Em 1896, 1,5 mil famílias ucranianas migraram para o interior do Paraná. Com uma população inicial de oito mil pessoas, nasceu Prudentópolis, município que hoje tem 48 mil habitantes e 80% da população formada por descendentes dos imigrantes.
No município, às margens da BR-373, os efeitos do tradicionalismo europeu podem ser sentidos na educação. Na Escola Estadual Padre Cristóforo Myskiv, os alunos rezam diariamente antes de começar a estudar. Os hinos do município, do Paraná e do Brasil estão na ponta da língua dos 310 alunos, que os cantam, uma vez por semana, antes de entrar nas salas de aula. Lá, os sobrenomes comuns não são Silva, Costa ou Souza. Nomes quase impronunciáveis como Opuchkevitch, Zavorotuik e Leszazuk são mais corriqueiros entre os alunos, que cursam da quinta à oitava série do ensino fundamental.
As portas ficam abertas para a entrada dos pais, que participam das atividades escolares. Angelita Michalszeszen Devolatka é presidente da Associação de Pais e Mestres. Recentemente, houve reunião para planejar o uso dos recursos de R$ 2,8 mil recebidos do Programa Dinheiro Direto na Escola. “Compramos três ventiladores de teto, uma impressora e uma mesa de pingue-pongue”, conta Angelita.
Na pacata cidade, os pais têm tempo e disposição para freqüentar a escola dos filhos. Os próprios educadores reconhecem que a parceria foi fundamental para que a instituição tivesse índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb) de 4,2 nos anos finais do ensino fundamental. A nota é superior à média nacional, de 3,5, numa escala que vai de zero a dez. “Eu considero essa escola uma extensão da minha casa. Conheço os professores, os funcionários e os alunos. Venho aqui sempre que posso”, relata Clóvis Schwab, pai de duas alunas.
Ambiente — Com a participação ativa de todos os envolvidos no processo de educação, o ambiente é uma mistura de descontração e alegria. Pais, funcionários e alunos circulam pelo pátio do colégio. Árvores frondosas fazem sombra para aqueles que procuram a escola para passar seu tempo livre. Josiane Tkaczuk, 11 anos, estuda de manhã, mas vai “ao Cristóforo” também no período da tarde. “Adoro este lugar. Venho aqui para ler e para renovar meus livros na biblioteca”, conta a estudante, que costuma ler dois livros por semana.
A leitura, aliás, é uma verdadeira febre entre os alunos. Cecília Ito Staciu, professora de português e de artes, acredita que o sucesso do ambiente escolar é fruto da união. “Nosso diferencial aqui é que trabalhamos coletivamente. A comunidade, os pais, os alunos e os funcionários, todos participam”, garante. Teresinha de Fátima Galvão trabalha na secretaria, mas acredita que a educação está também fora das salas de aula. “Aqui eu sou uma educadora como todos que participam da escola. Também sou responsável pela educação desses alunos”, reflete.
A união de pais, funcionários e professores levou a pequena escola de Prudentópolis a ser citada como exemplo de boa educação pelo estudo Aprova, Brasil, parceria entre o Ministério da Educação e o Fundo nas Nações Unidas para a Infância (Unicef). O estudo levou em consideração sete elementos que contribuem para a melhoria da qualidade do ensino — ambiente educativo, prática pedagógica, avaliação, gestão democrática, formação e condições de trabalho para os profissionais, ambiente físico e acesso, sucesso e permanência na escola. A Escola Estadual Padre Cristóforo Myskiv é uma das 33 que o Aprova, Brasil elegeu como exemplo a ser difundido em todo o país.
Ana Guimarães