Entrevista: Jorge Werthein
Em visita ao Ministério da Educação nesta quinta-feira, 7, o diretor da Rede de Informação Latino-Americana (Ritla) e ex-representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, concedeu a seguinte entrevista:
O que o senhor acha da posição do MEC em priorizar a formação de professores?
É absolutamente fundamental. É a única maneira de caminhar em direção a uma educação de qualidade. Se você não trabalha a formação de professores como prioridade, como agente principal do processo educativo, dificilmente alcança educação de qualidade para todos.
Qual a sua posição em relação à supervisão de cursos de pedagogia e normal superior?
Eu acho que a medida é necessária para se conseguir uma formação eficiente de professores. Há hoje no Brasil muitas universidades privadas que não alcançam uma qualidade em seu ensino e que, por isso, precisam melhorar significativamente. Essas universidades estão formando professores que não estarão capacitados para enfrentar o desafio de uma educação de qualidade no ensino básico. Sem supervisão, acho que um curso de formação de professores não funciona adequadamente.
Como a inclusão digital pode ajudar a melhorar a qualidade da educação?
Pode ajudar muito. No mundo globalizado, onde o acesso ao conhecimento é o capital mais importante de uma sociedade, é preciso ter acesso à informação e à produção de conhecimento. E para ter acesso, é preciso saber usar essas novas tecnologias. As políticas de inclusão digital, que incluem alunos e professores no processo, não significam apenas permitir acesso, mas também permitir que alunos e professores aprendam a utilizar essa ferramenta tão importante. Saber informática é fundamental para o avanço da educação. Eu acho que, no Brasil, a política de inclusão digital é muito acertada. O MEC vê a política de educação digital não só como a instalação de computadores, mas como a necessidade de colocar computadores nas escolas e de formar professores para que sejam alfabetizados digitais. No Brasil, 50% dos professores da rede pública não têm computador. O MEC está preocupado com isso e está pensando em, simultaneamente, capacitar professores e oferecer acesso à tecnologia. Pensar somente na conectividade é limitar a utilização da tecnologia como ferramenta pedagógica de acesso à informação. O MEC está redefinindo a inclusão digital, se preocupando com a capacitação em informática como parte da inclusão digital. Esse tipo de iniciativa sempre foi experiência bem-sucedida em países desenvolvidos.
Uma das metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) é a alfabetização de todas as crianças, com idade até oito anos. O senhor acha que, dentro de 15 anos, essa meta estará concretizada?
É possível, porque agora a criança entra na escola aos seis anos de idade, ou antes disso, com a expansão da educação infantil. Isso significa que a criança está em contato com o conhecimento, com a alfabetização, com o letramento, muito antes do habitual. Ou seja, é uma meta absolutamente razoável. Obviamente, num país como o Brasil, onde há muita desigualdade, com grandes bolsões de pobreza e limitações de acesso à leitura e à escrita e com tanto analfabetismo, é uma tarefa difícil. Eu acho que o ministério faz muito bem quando coloca essa meta ambiciosa porque se compromete e envolve estados e municípios nesse compromisso.
Perfil — Jorge Werthein é doutor em educação pela Universidade de Stanford (1974), onde também obteve os graus de mestre em comunicação e de mestre em educação. Graduou-se em sociologia pela Universidade de Berkeley. Nas Nações Unidas foi diretor do Escritório da Unesco em Nova York/Washington e diretor do escritório da Unesco no Brasil entre 1996 e 2005. Em 2006, exerceu o cargo de assessor especial do secretário-geral da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Publicou 15 livros e diversos artigos.
Repórter: Maria Clara Machado
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