Inovação nas aulas de química atrai estudantes em Rondônia
O projeto, Qualidade da Água: Sinônimo de Vida Saudável, elaborado pelo professor Geremias Dourado da Cunha, 26 anos, foi distinguido na sexta edição do Prêmio Professores do Brasil, promovido pelo Ministério da Educação. Os alunos do primeiro e do segundo anos do ensino médio foram instigados a pesquisar a qualidade da água nos poços artesianos da comunidade rural de Nova Londrina, com dois mil habitantes, a 20 quilômetros de Ji-Paraná.
O resultado inédito da análise surpreendeu professor e estudantes. Antes de a turma iniciar os testes químicos, havia a suspeita de que a qualidade da água dos poços seria superior à da rede de abastecimento. “Antes da pesquisa, acreditava-se que a água fornecida pela unidade distribuidora era ruim e responsável por problemas de saúde, como disenteria”, explica o professor. “Mas, por conta do cloro, é a mais apropriada para beber.”
Para chegar ao resultado final, os alunos coletaram dados dos 87 poços, usados por 122 casas da comunidade. De acordo com a análise básica, feita pelos estudantes com material fornecido pela Universidade Federal de Rondônia, verificou-se a acidez da água e a quantidade de ferro. Paralelamente, outra pesquisa da universidade avaliou o índice de coliformes, considerado alto na água dos poços.
Composição — “Os alunos do ensino médio estudaram a composição química da água e aprenderam que o pH deve estar entre 6 e 8 para não prejudicar a saúde”, esclarece o professor. “A água dos poços indicou 9, inapropriado, que pode causar disenteria.” Em química, pH é o símbolo para a grandeza físico-química potencial hidrogeniônico, que indica a acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma solução aquosa.
“Esse resultado surpreendeu, pois achávamos que a água dos poços fosse mais satisfatória que a da unidade abastecedora”, revela Cunha.
O problema de saúde só não é maior porque em alguns poços é alta a concentração de ferro, que resulta, porém, em sabor ruim. “A água dos poços com alta concentração de ferro não é usada para beber, mas para irrigação e lavagem de roupa”, ressalta.
Cunha é formado em ciências biológicas, com especialidade em educação e gestão ambiental. Ele cursa o quinto semestre de química no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia.
O grande mérito do projeto, para Cunha, é mostrar a química no dia a dia. Os alunos se entusiasmam e aprendem mais facilmente. “Essa parte da matéria — para o que serve o pH e como ele pode ser identificado —, passou a ter interesse maior porque os estudantes puderam relacionar a teoria à prática”, destaca. “A química ficou menos chata porque perdeu a abstração de quando a gente está na sala de aula.”
Empolgado com o projeto, que conquistou o primeiro lugar também no Prêmio Construindo a Nação 2011-2012, em Rondônia, o professor já deu início ao próximo, na área de química e biologia para o ano letivo de 2013. “Vamos catalogar as plantas medicinais que a população de Nova Londrina usa, pesquisar as propriedades químicas e contrapor a crença com a ciência”, explica.
Uma dessas plantas é a noni (Morinda citrifolia), de origem asiática, que tem fama de propriedades anticancerígenas e de combater vários tipos de doenças. Além de fazer chá, os moradores de Nova Londrina usam a planta no preparo das chamadas garrafadas.
“Trabalhamos muito com projetos na escola, e todos os alunos se dedicam”, afirma a diretora da instituição, Nair Fraga Pontes.
Rovênia Amorim