Quase metade dos jovens com HIV não usaram preservativos
O ministro da Saúde, Agenor Álvares, disse que 45% dos jovens, entre 13 e 24 anos, portadores do vírus HIV foram contaminados por meio de relações sexuais sem preservativo. A declaração foi feita na cerimônia de apresentação da pesquisa Saúde e Educação: cenários para a cultura de prevenção nas escolas, nesta terça-feira, 6, no Ministério da Saúde.
A pesquisa avaliou os resultados do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas, resultado de parceria entre os ministérios da Saúde e da Educação, com a colaboração de pesquisadores da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Criado em 2003, o projeto integra medidas de saúde e educação em escolas de educação básica da rede pública de todo o país com o intuito de despertar a atenção dos estudantes para a importância da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez indesejada.
“O objetivo foi verificar o acesso e a satisfação dos estudantes em relação ao projeto, a logística de distribuição de preservativos e a reação da comunidade e identificar pontos positivos e desafios da expansão do programa”, disse a coordenadora do projeto na Unesco, Lorena Bernadete da Silva.
Realizada em 14 estados, a pesquisa analisou jovens entre 13 e 24 anos, da 7ª série do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio, além de aplicar questionários e fazer entrevistas com pais, professores e gestores públicos. O estudo revelou que 44,7% dos estudantes — 102 mil entrevistados— têm vida sexual ativa. Destes, 42,7% declararam não usar preservativo por não tê-lo na hora H e 9,7% disseram não ter dinheiro para comprá-lo.
A pesquisa avaliou escolas que já participam do projeto e outras que não apresentam ações regulares de educação sexual e reprodutiva. No primeiro grupo, os pesquisadores relataram que pais e filhos passaram a discutir a temática em casa e que houve diminuição de preconceitos dos alunos em relação a portadores de HIV/Aids e a pessoas com orientações sexuais diversas.
Distribuição — Outro dado destacado foi a satisfação quanto à distribuição de preservativos nas escolas — cerca de nove mil escolas participantes do projeto recebem preservativos. “A partir do momento em que conhecem o programa com detalhes e a situação epidemiológica do HIV/Aids, passam a ser aliados do projeto”, diz Lorena Bernadete. A maioria dos pais aprovam a distribuição de preservativos, desde que aliada à orientação. A pesquisa mostrou que 85% dos professores e 60% dos alunos acham que é função de todos, inclusive da escola, realizar medidas de educação com foco na prevenção.
Dentre as dificuldades de implementação do projeto, Bernadete apontou a pouca iniciativa das escolas em envolver pais e familiares nas atividades escolares e na discussão de projetos de prevenção. O principal aspecto positivo foi o sucesso da integração entre as áreas de educação e saúde e o fato de a escola reconhecer seu papel como local privilegiado para ações de prevenção.
“A parceria entre educação e saúde é estratégica não só por garantir o acesso à informação, mas por possibilitar que jovens, pais e a comunidade repensem sua relação com temas considerados tabus, de maneira a privilegiar a reflexão crítica”, afirmou o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, Ricardo Henriques.
O estudante Fernando Alves, 21 anos, elogia a iniciativa. Ele passou por oficinas de capacitação e se tornou um multiplicador do projeto nas escolas do Distrito Federal, ao promover palestras e debates em atividades extraclasse. Para ele, os jovens não costumam ir a postos de saúde ou farmácias ou têm acesso dificultado ao preservativo. “O projeto permite que o aluno reflita e seja protagonista da própria vida e de políticas públicas”, disse.
Maria Clara Machado