Professor espanhol dá sugestões para mudanças na educação brasileira
Leitura de uma hora diária nas escolas, para começar, foi o que sugeriu o professor das universidades Autônoma de Madri, La Laguna e Salamanca, da Espanha, Álvaro Marchesi, em palestra nesta segunda-feira, 30, no Ministério da Educação, em Brasília. Marchesi foi um dos responsáveis pela reforma educacional na Espanha, entre 1990 e 2000, no governo de Felipe González, onde foi vice-primeiro-ministro. Convidado para falar sobre Qualidade do Ensino e Mudanças na Educação, ele considera a promoção da leitura entre professores, pais e alunos uma das ações mais urgentes e possíveis de se realizar para diminuir as diferenças entre escolas públicas e privadas. “A estrutura narrativa para o ensino é essencial. É importante que os pais leiam com os filhos. Para isso, o programa de alfabetização de adultos é fundamental”, afirmou.
O educador sugeriu aos secretários do MEC, diretores e coordenadores a elaboração de um documento com estratégias para a educação básica ao longo de 10, 15 ou 20 anos. “A reforma pode ser parcelada, mas não parcial. Não dá para mudar tudo ao mesmo tempo, mas dá para planejar o que mudar a cada ano. A escola pública deve ter como objetivo competir com a escola privada, para as diferenças não aumentarem ainda mais.” Segundo Marchesi, ao se priorizar uma etapa da educação, as primeiras séries do ensino fundamental deveriam ser as escolhidas. “O mais importante é a educação primária. Se o aluno termina bem essa etapa, pode terminar o ensino médio. Mas para terminar bem a educação primária, ele precisa da educação infantil.”
A avaliação pedagógica das escolas do país, o aumento do tempo de permanência dos alunos em sala de aula, o trabalho do professor em dedicação exclusiva e o ensino em ciclos só para as primeiras séries foram as principais sugestões para a reforma do ensino básico. “A primeira coisa é a avaliação das escolas. É preciso avaliar as estratégias de aprendizagem, o que pensam os pais, alunos e professores. Se avaliarmos só matemática e línguas, estaremos valorizando só matemática e línguas. Isso também acontece na Europa”, comparou.
Ciclos – Segundo ele, o sistema de ciclos não funciona nas séries finais do ensino fundamental, com mudança freqüente de professores. “Na Espanha, a partir dos 11, 12 anos não funcionou. O professor deve ser o mesmo para avaliar o aluno ao final do período. Não acredito em ciclos de mais de dois anos”, disse. O ensino médio também foi tema do debate. Para Marchesi, “o currículo do ensino médio no Brasil é bonito, mas é uma utopia. Só um país muito igual socialmente resiste a um ensino médio igual para todos. Num país como o Brasil é complicado. Corre-se o risco de perder alunos que não podem estudar matemática, biologia. Deveria ser flexível”.
Segundo o titular da Secretaria de Educação Básica do MEC, Francisco das Chagas, várias sugestões já são trabalhadas no Brasil. Entre elas, a formulação de um programa de formação de professores e alunos leitores, a valorização dos professores, a ampliação do ensino – com a inclusão de crianças a partir dos seis anos no ensino fundamental –, a ênfase na educação infantil e mudanças no ensino médio.
Chagas entende que a realização de mudanças na educação está condicionada à aprovação do Fundo da Educação Básica (Fundeb). “O Fundeb é a reforma da educação básica. Com ele, vamos ter condições de fazer política de educação e formar professores.” Ele considerou importante a interação com um profissional que fez reforma educacional em outro país. “Não que devamos seguir o exemplo da Espanha, porque temos nossas realidades. Mas eles têm propostas e desafios que precisamos abrir para discussão”, concluiu.
Repórter: Heloisa d’Arcanchy