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  • Um grupo de nove servidores do campus Sertão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul visitou, na quinta-feira, 7, a comunidade do Quilombo Mormaça, no interior do município. Início de um projeto de revitalização e afirmação da comunidade, esse trabalho visa à elaboração de um diagnóstico que apoiará as ações do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) - em formação no campus.

    Servidores do campus Sertão visitam comunidade quilombola no Rio Grande do Sul Por meio da educação, a comunidade terá mais oportunidades de crescimento e geração de renda, além de obter notoriedade na região, tendo em vista seu valor histórico e social. Durante a visita, foram feitas diversas sugestões: para cursos na área de artesanato, criação de uma horta comunitária, criação de vacas e manejo de leite. Com base nessas idéias, os servidores devem elaborar um projeto para a realização destas atividades no quilombo.

    O projeto é baseado no trabalho do professor Heron Lisboa de Oliveira, desenvolvido na comunidade no ano passado. Segundo ele, o campus Sertão estudará a possibilidade de reservar vagas para moradores da comunidade nos processos de seleção para os cursos.

    Diagnóstico – O diagnóstico que será feito pelos integrantes do Neab levantará informações sobre o número de moradores do quilombo, e pessoais, como sexo, idade, escolaridade e renda. A partir daí, o núcleo identificará o que o campus pode fazer de concreto pela comunidade na busca de artifícios para a geração de renda. No próximo encontro com os moradores, eles deverão responder a um questionário e dar exemplos que retratem seu modo de vida e as tradições que foram passadas de geração para geração.

    Renda – Antes mesmo da elaboração do diagnóstico, foi constatado que o mais urgente na comunidade é a geração de renda. Os moradores vivem uma disputa judicial por terra com os agricultores que moram nos arredores do quilombo. Enquanto permanecer o impasse, conforme o procurador João Mallmann, a maioria das famílias não tem onde plantar. Desta forma, não há possibilidade do campus desenvolver atividades na área da agricultura. Por isso, na opinião do professor Roberto Sander, o ideal seria iniciar uma atividade que não necessite da compra de materiais. “Por exemplo eles poderiam fazer bijuterias de materiais naturais, como cascas”, indicou.

    Para sobreviver os homens precisam ir para longe em busca de emprego, principalmente na colheita de maçã. Somente as mulheres permanecem na comunidade cuidando da casa e dos filhos. “Aqui nós não temos oportunidade, ninguém nos dá emprego”, revela Laídes. Os jovens, segundo ela, deixam a escola muito cedo por não ter condições de comprar roupas e calçados para estudar. “Nós recebemos recursos do governo para construir uma horta comunitária e uma estrebaria, mas a horta não ficava nas nossas terras e as vacas que recebemos logo adoeceram”, relatou Laídes.

    Quilombo – Indícios apontam que a comunidade foi formada por negros escravos fugidos das fazendas e charqueadas do sul do estado, próximo a 1870. Hoje, cerca de 60 famílias descendentes de escravos vivem no local.

    Assessoria de Comunicação IFRS - Campus Sertão
  • Para a professora Jailde, o magistério, além de vocação, é missão: “Ensinar aos filhos dessa terra é um compromisso com meu povo”Moradora do Quilombo Jiboia, no município baiano de Antonio Gonçalves (11 mil habitantes), a professora Jailde Lima da Silva tem a oportunidade de lecionar na Escola Municipal Araguacy Gonçalves, na própria comunidade. “Sou filha desse quilombo”, diz. “Sinto estar realizada como professora de uma comunidade que retrata minha identidade.”

    Para Jailde, ser professora, além de vocação, é missão. “Ensinar aos filhos dessa terra é um compromisso com meu povo, que teve seus direitos negados ao longo de sua vida”, diz. “Sinto na pele o que é ser filha de pais analfabetos, que não tiveram a oportunidade de frequentar uma escola, não por escolha, mas por ter esse direito negado durante muitos anos.”

    Além da escola Araguacy Gonçalves, que tem 85 alunos matriculados no ensino fundamental e na educação de jovens e adultos, além de outros 32 no Projovem Campo – Saberes da Terra, o quilombo conta com uma escolinha de educação infantil e uma extensão do Centro Territorial Piemonte Norte do Itapicuru (Cetep), que oferece cursos profissionalizantes. O Projovem Campo é um programa nacional de fortalecimento e ampliação do acesso e da permanência de estudantes no sistema formal de ensino. São atendidos, basicamente, jovens agricultores familiares na faixa etária de 18 a 29 anos.

    De acordo com a professora, a escola quilombola inclui em sua proposta político-pedagógica a valorização da cultura local, o que a torna diferente. “Ela trabalha de fato com a identidade do povo quilombola, respeita a cultura, a religiosidade, os saberes e fazeres da comunidade, e trata as relações étnicas e raciais como folclore apenas nas datas comemorativas”, analisa.

    Oportunidades — Segundo Jailde, é possível perceber um avanço significativo na comunidade. “A educação abriu vários caminhos e oportunidades; eu sou prova real dessa mudança”, afirma a professora, que tem graduação em pedagogia e especialização em gestão escolar. “Quatro filhos da comunidade conseguiram cursar uma faculdade, passar em um concurso público e ser efetivados”, diz. “Ainda é muito pouco, mas são conquistas que minha mãe não teve.”

    As oportunidades de acesso à escola, abertas atualmente a crianças e jovens, são destacadas pela professora baiana. Ela cita itens como o transporte escolar e o livro didático, oferecidos gratuitamente pelo Ministério da Educação. “Na minha infância, não havia escola; eu frequentava uma casa de família, onde eram reunidas crianças com idade acima de oito anos para serem alfabetizadas.”

    Como a professora era a madrinha de Jailde, ela pôde participar desses encontros a partir dos dois anos, acompanhando os irmãos. “Meus pais trabalhavam na roça, e não tinha quem cuidasse de mim”, revela. O resultado é que Jailde conseguiu se alfabetizar aos cinco anos. Há 15 anos no magistério, ela leciona as disciplinas de história, geografia, sociologia e filosofia para estudantes do Projovem Campo.

    Fátima Schenini

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