Natal —Aprender flauta doce, malabarismo, capoeira, computação, pintura, desenho e até futebol de salão de graça. Nos fins de semana, a população que mora perto da Escola Municipal Monsenhor José Alves Landim, na zona norte de Natal, tem essas opções desde janeiro de 2007. Na época, a prefeitura municipal firmou parceria com o Ministério da Educação para integrar o programa federal Escola Aberta.
“A idéia é trazer a escola para dentro da comunidade e levar a comunidade para a escola”, conta a coordenadora e interlocutora do projeto em Natal, Jaiane Dantas da Silva. O programa permite que a população de baixa renda tenha acesso a opções de lazer e cultura, além de cursos de iniciação profissional, por meio da escola.
“Toda escola que participa do projeto tem um coordenador da própria comunidade que dirige as atividades nos fins de semana. A proposta é dividir as responsabilidades com os moradores, para que eles se sintam parte do programa”, explica Jaiane. São 12 coordenadores escolares, um para cada escola participante. Além deles, outros 12 professores comunitários ajudam a divulgar as oficinas e atividades do fim de semana à comunidade escolar e seis supervisores visitam as instituições para acompanhar o funcionamento das oficinas.
As aulas são ministradas por profissionais, que assinam um termo de voluntariado, comprometendo-se a participar do programa nos dias e horários fixados de acordo com a disponibilidade de cada professor e de acordo com a demanda da comunidade, mas sempre nos finais de semana. A maioria recebe uma ajuda de custo do MEC de R$100,00. Outros doam tempo e conhecimento, como as fonoaudiólogas Ramaiana Ferreira do Valle e Rosien Grace.
Elas atendem crianças todo o sábado na escola Monsenhor José Alves Landim. “A maior parte têm problemas de troca de fonemas decorrente da respiração inadequada”, explicam. Para ensinar as crianças a respirar melhor, as duas recorrem a figuras, músicas e historinhas infantis. A presença dos pais também é fundamental. “São eles que vão fazer exercícios com os filhos em casa para colocar em prática o que aprenderam aqui”, ressaltam as fonoaudiólogas.
Já o professor Fliper Chaves recebe bolsa para ensinar às crianças técnicas circenses, como malabarismo, ginástica e a andar com perna de pau. Ele não tem carro, mora longe e usa o dinheiro da bolsa para transporte e alimentação nos fins de semana. Para Fliper, o mais interessante do trabalho não é a ajuda financeira. “É uma forma de introduzir o circo na educação e fazer despertar o potencial artístico de cada criança”, acredita.
Em outra sala, no primeiro dia de oficina de flauta doce, cerca de oito alunos aprendem a identificar as notas musicais e arriscam a tocar Asa Branca, música de Luiz Gonzaga. Um dos alunos leva as mãos aos ouvidos: não agüenta o resultado da tentativa que ainda não resulta em música. Mas o professor, animado, ensina mais uma vez. As 40 flautas usadas nas aulas dos sábados foram doadas pela prefeitura.
No pátio, a roda de capoeira reúne pais e filhos. Mãe de duas meninas e membro do Conselho Escolar, Erinar Bezerra, de 41 anos, matriculou-se na aula e levou com ela as meninas. Hoje, todas jogam juntas. “Minhas filhas também aprendem boas maneiras e disciplina. Todo mundo precisa esperar sua vez para jogar e tem que pedir licença para entrar na roda”, ressalta. Além da capoeira, as filhas Aliane, de nove anos, e Alescia, de 11, estão matriculadas nas oficinas de artesanato e computação, junto com a mãe.
Maria Clara Machado
Confira outras notícias da Caravana da Educação