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  • Na escola catarinense, a produção de cataventos por estudantes do oitavo ano faz parte de projeto sobre o resgate de brincadeiras antigas (foto: arquivo da escola)Cata-ventos para brincar na hora do recreio, telhas floridas de cerâmica, maquetes inspiradas em Di Cavalcanti, mosaicos que destacam a geometria de Escher, máscaras de diferentes culturas, e impressionismo na tela pintada com cotonete. A criatividade, o improviso e a riqueza de informações sobre a arte no decorrer na história da humanidade empolgam alunos, professores, pais e a comunidade vizinha à Escola de Educação Básica Municipal Professor Curt Brandes, em Pomerode, município de 27,7 mil habitantes, no nordeste de Santa Catarina.

    “Eu não entendo nada de artes, mas tenho professores que abraçam a causa e vejo que os alunos aprendem de fato”, diz a diretora Eliana Koch Schimitt. “Eles sabem não só a história da arte, quem são os grandes artistas, como têm noção prática das técnicas usadas.”

    Para o próximo ano letivo, os alunos terão sala própria para as atividades. “Será uma sala-ambiente, adaptada, com mobiliário adequado”, adianta a diretora.

    A professora Moara Gustmann dá aulas de arte a turmas do primeiro ao sexto ano; Gláucia Maria Erbs, do quinto ao oitavo. Elas seguem apostila adotada pela prefeitura — o conteúdo é seguido a cada ano letivo —, mas recorrem à criatividade e ao improviso para dar vida aos trabalhos dos alunos. No projeto sobre impressionismo, por exemplo, Gláucia recorreu às técnicas de canetinha e canetão; guache na ponta arredondada do pincel e cotonete.

    “Todas as telas ficaram lindas porque cada criança tem habilidade de trabalhar com técnicas diferentes”, empolga-se a professora, que tem descoberto talentos em suas aulas semanais, de duas horas. Roger Maas, 13 anos, que concluiu o sétimo ano, é um deles. Ele pinta paisagens e flores em telhas de cerâmica e aprendeu a desenhar retratos com giz pastel seco em papel canson. O talento do adolescente já é reconhecido na cidade. Tanto que ele passou a receber encomendas. Roger pretende fazer faculdade de artes plásticas. “Meu sonho é ser artista”, afirma. O pai, artesão, está orgulhoso com o aprimoramento do talento do filho. “Ele já desenhava muito bem desde pequeno, e nas aulas de artes aprendeu mais e se destacou”, diz Gerson Maas. “Fico feliz porque é um dom e ele gosta do que faz.”

    As aulas de artes não ficam restritas à sala de aula. No turno oposto ao das aulas (contraturno), os estudantes podem fazer cursos extras, também abertos à comunidade. O projeto Arte e Educação na Escola recebe também alunos hiperativos e com transtornos. “Meu filho melhorou a concentração, a coordenação motora e está mais tranquilo”, conta Simone Jeger, mãe de Lucas Jeger, 13 anos, portador da síndrome de Tourette, que se caracteriza por tiques, reações e movimentos bruscos e vocalização repetida.

    Entre os cursos abertos à comunidade estão pintura em tecido, crochê, decupagem em MDF (medium density fiberboard — fibra de média densidade), vidros e telhas, pinturas em parede (texturização), pátinas e até da técnica chinesa feng shui. “É um público diferente, que quer aprender a fazer arte para ganhar dinheiro e complementar a renda familiar”, explica a professora Gláucia, que levou as aulas também para as turmas da educação de jovens e adultos.

    Arte moderna — No ano passado, nas aulas da professora Moara, a inspiração foi a Semana de Arte Moderna de 1922, na qual se destacaram artistas como Di Cavalcanti (1897-1976) e Tarsila do Amaral (1886-1973). As crianças ainda aprenderam sobre o estilo abstrato da japonesa naturalizada brasileira Tomie Ohtake e a obra do artista plástico brasileiro Juarez Machado. “Levei a música A Bicicleta, do Toquinho, para complementar o trabalho sobre Juarez Machado”, diz Moara. “Eles produziram uma bicicleta em arte tridimensional, usando papel, depois a colaram em bidimensional e desenharam um cenário.”

    Nascido em Joinville, Santa Catarina, em 1941, Juarez Machado elegeu a bicicleta como tema da primeira exposição, aos 19 anos. “Passei toda a minha infância e adolescência em cima de uma bicicleta”, destaca. “Foi e ainda é o grande tema de meus desenhos, pinturas e esculturas.”

    Se a bicicleta empolga a criançada nas aulas de artes, por que não brincar de cata-vento na hora do recreio? A professora de educação física Sorinéia Goede teve a ideia como forma de resgatar antigas brincadeiras. “A produção faz parte de projeto que estou elaborando sobre o resgate das brincadeiras antigas da comunidade de Pomerode”, explica. Alunos do oitavo ano ajudaram na confecção dos cata-ventos, oferecidos às turmas do primeiro ao terceiro ano.


    Rovênia Amorim


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  • Estudantes que participam do projeto Fazendo Arte, desenvolvido em escolas públicas de Tremembé, aprendem musicalização e prática de instrumentos e sonham em tocar numa orquestra (foto: junjiabe blogspot com)As aulas são gratuitas e ocorrem duas vezes por semana, durante uma hora, em prédio próprio. Pode participar qualquer aluno a partir do primeiro ano do ensino fundamental, matriculado em escolas públicas municipais de Tremembé, município paulista de 50 mil habitantes, a 150 quilômetros da capital. “No início do ano, a procura é grande, mas os que ficam mesmo são os que se identificam com a arte e querem seguir carreira artística. Temos descoberto talentos”, explica a gestora do projeto Fazendo Arte, Conceição Fenille Molinaro, professora de artes plásticas e cênicas formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    Nascido há nove anos, o projeto hoje oferece aulas de diferentes expressões artísticas, como hip-hop, dança flamenca, balé clássico, quadrinhos, artes plásticas (desenho, gravura e pintura), teatro e vários instrumentos musicais, com o apoio da Secretaria de Educação do município.

    Atualmente, 620 alunos estão matriculados e participam de aulas coletivas. Eles aprendem musicalização, fazem prática de instrumento e leem partitura. “Todos querem participar das nossas duas orquestras”, afirma Conceição. “Fazemos apresentações em Tremembé e cidades vizinhas.”

    Bruno Amaral toca, no violão, músicas do Metallica, grupo norte-americano de rock (heavy metal). O estudante busca o sucesso com sua própria banda.

    Gustavo Nigoto, apaixonado pelo trombone, ouve solos do mestre Gilberto Gagliardi. Ele diz gostar do instrumento por ser mais cheio de notas brancas (notas naturais, que não sofrem alteração no som) e por completar a harmonia da orquestra. Os dois jovens, que moram em Tremembé, tiveram a chance de descobrir a música graças ao projeto Fazendo Arte, da Secretaria de Educação.

    Aluno do segundo ano do ensino médio, Gustavo Nigoto, 16 anos, faz o curso regular em escola pública, à noite. À tarde, é aluno do curso técnico de músico, em escola particular. De manhã, trabalha como estagiário e ajuda um professor nas aulas de fanfarra em Taubaté, município vizinho. Aos sábados, volta para ensaiar na orquestra do projeto. “Nossos ex-alunos não saem daqui”, comenta Conceição. “O núcleo do projeto virou um ponto de encontro de jovens. Para essa juventude, isso é muito saudável.”

    Bruno Amaral, 19 anos, já terminou o ensino médio e faz curso técnico de eletricista e manutenção de bicicletas. Ele continua frequentando o projeto, onde aprendeu a tocar violão, guitarra e contrabaixo. Atualmente, faz parte da Camerata de Violões e da banda de rock Sinopse. Quando necessário, substitui os professores de violão, viola caipira e guitarra. “Quando cheguei, gostava da ideia de aprender música, mas não sabia tocar nada”, diz.

    As aulas de música do projeto já resultaram em grupos, como a banda Lady Rock, que segue carreira independente. Bruno faz parte da banda. “Estamos atrás do sucesso”, diz, animado. De diferente, o grupo usa violão, em vez de guitarra. “O Slash, do Guns N’ Roses, faz isso”, compara.

    Quadrinhos— O curso de história em quadrinhos, em estilo mangá, é outra atividade do projeto bastante procurada. “Toda criança sabe desenhar, mas depois dos 10 anos vai perdendo o estímulo para a criatividade porque a família e a sociedade não acham importante, que não é algo de futuro”, afirma o professor Douglas Henrique Marques. De origem japonesa, o mangá tornou-se conhecido no Ocidente ao ser elogiado pelo desenhista norte-americano Frank Miller.

    Nas aulas, cada aluno usa habilidade e criatividade para inventar personagens. “Quem mais procura o curso são adolescentes de 13 a 15 anos, o que é muito bom porque os jovens começam a ler, a se informar sobre a origem e a história do mangá, seus diferentes estilos e sua relação com outros movimentos artísticos, como a art nouveau e a pop art”, diz o professor. “Esses jovens passam a ter, na técnica do desenho, do mangá, uma alternativa de trabalho no futuro.”

    O projeto de artes da cidade paulista ganha simpatia e parcerias importantes. Em junho de 2011, sediou o evento Quitutes e Batuques, uma caravana de artistas nacionais e internacionais. Na ocasião, um grupo de 12 artistas holandeses promoveu oficinas de cordas, percussão, sopro, teatro, hip-hop e brinquedos sonoros.

    Rovênia Amorim

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