Escola Aberta: inovação em Belo Horizonte
Cursos de produção de salgadinhos, na cozinha da escola, e de materiais de limpeza, no laboratório de química e biologia, são exemplos de iniciativas da Escola Municipal Israel Pinheiro, no Alto Vera Cruz, na região leste de Belo Horizonte. Para ajudar pedreiros, pintores e carpinteiros da comunidade a arrumar trabalho, a escola montou um cadastro de referência profissional que abriu portas fora do bairro.
Situada em uma área de alta vulnerabilidade social, a escola e a comunidade criaram uma cooperativa que desenvolve projetos de interesse local. Além de ampliar os espaços de convivência escola-comunidade, a iniciativa permite a qualificação profissional e a geração de renda, diz Ismayr Sérgio Cláudio, coordenador de projetos especiais da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. O começo de tudo foi o programa Escola Aberta, do Ministério da Educação e da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), desenvolvido em parceria com municípios e estados.
Programa que transfere recursos do MEC para que as escolas sejam abertas à comunidade aos sábados e domingos, a Escola Aberta já está presente em 1.786 instituições públicas de ensino das redes estaduais e municipais de 22 estados, especialmente nas regiões metropolitanas e áreas de risco social. A partir de agosto, o número subirá para 1.937, com o ingresso de 151 escolas de Sergipe (14), Acre (20), Amapá (20), São Paulo (72) e Paraná (25), que aderiram ao programa no primeiro semestre deste ano.
Em 2007, o investimento do governo federal na Escola Aberta é de R$ 30,1 milhões — R$ 19,9 milhões para a rede municipal, R$ 9,5 milhões para a estadual e R$ 661.532 para o Distrito Federal. Dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC), responsável pela transferência dos recursos para as escolas, indicam que dois milhões de pessoas participam do programa em cada fim de semana.
União — O exemplo da Escola Municipal Israel Pinheiro, de Belo Horizonte, é uma amostra do que podem fazer escola e comunidade, unidas. Com os cursos de produção de salgados, além de formar mão-de-obra na comunidade, a Israel Pinheiro atende encomendas de empresas e da prefeitura. O dinheiro é revertido para a escola.
Com a produção de água sanitária, sabão, sabonete e detergente, no laboratório de química e biologia, os alunos não só praticam nas aulas, como aprendem a comercializar. Com o valor arrecadado, são adquiridos equipamentos e produtos para o laboratório. A escola tem 1,3 mil alunos da educação infantil, ensino fundamental e educação de jovens e adultos.
O cadastro de referência de profissionais do bairro é outra iniciativa. Ao perceber que profissionais da construção civil e de reparos domésticos tinham dificuldade de encontrar trabalho em razão da fama da área, de envolvimento com tráfico de drogas, a diretora da escola, Geralda Magela Martins, saiu em busca de uma solução. O trabalho começou com visitas a pais de alunos. Desse contato surgiu um cadastro da mão-de-obra do bairro, e a escola passou a ser a garantia de bom serviço profissional dos pais em outras comunidades. A escola é consultada pelas pessoas interessadas em contratar um profissional. “É fonte de referência”, diz Ismayr Cláudio.
Artesanato — Com 166 escolas participantes do programa Escola Aberta, Belo Horizonte e os dez municípios da região metropolitana ampliaram de tal forma a produção de artesanato que as secretaria municipais de educação já abriram lojas em dois shoppings da cidade para comercializar a produção. A partir de agosto, duas novas lojas serão abertas — uma na rodoviária de Belo Horizonte e outra em um shopping.
O sucesso da escola é reconhecido por empresas da região metropolitana da capital mineira. Segundo Ismayr, é comum essas empresas solicitarem à Secretaria Municipal de Educação a indicação de profissionais formados em cursos de telemarketing, de informática e de cabeleireiro oferecidos pelo programa Escola Aberta.
Ionice Lorenzoni