Programa apóia pesquisa de 19 alunos indígenas na Bahia e Tocantins
Os 19 estudantes indígenas que ingressaram nas universidades federais da Bahia (UFBA) e do Tocantins (UFTO), em 2005, iniciaram este mês as atividades de pesquisa nas suas aldeias. Como beneficiários do Programa de Apoio à Implantação e Desenvolvimento de Cursos de Licenciatura para a Formação de Professores Indígenas (Prolind), eles recebem uma bolsa de estudo mensal do Ministério da Educação para vincular a atividade de formação acadêmica com as demandas de seus povos.
Para desenvolver o projeto de reforço da permanência dos alunos indígenas na graduação, as universidades receberam um recurso financeiro do ministério em novembro de 2005. A Secretaria de Educação Superior (SESu/MEC) repassou à UFBA R$ 46.716,00 para custeio do projeto e para bolsas de estudo. A universidade ainda receberá uma verba complementar da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC) para compra de equipamentos. Cada um dos três alunos indígenas recebe bolsas mensais no valor de R$ 500,00.
Para a UFTO, a SESu liberou R$ 57.400,00 para custeio e a Secad repassará uma verba para aquisição de computador, gravador e vídeo. Na Federal do Tocantins, os alunos que estão em cursos com horário integral recebem uma bolsa mensal de R$ 380,00 e os que estão em cursos de meio período, bolsa de R$ 200,00.
Bahia – Em 2005, ingressaram na UFBA os três primeiros estudantes indígenas das etnias Pataxó e Pataxó-Hãhãhãe. Eles estão nos cursos de letras, artes plásticas e agronomia e são exemplo de dedicação aos estudos, segundo a coordenadora do Prolind na instituição, Maria Hilda Paraíso. “A menor nota da aluna de artes nos dois semestres foi nove, da de letras, 7,5 e do aluno de agronomia, 8,5”, disse.
Com os recursos do Prolind, os alunos indígenas estão desenvolvendo pesquisas de interesse de suas aldeias. A estudante de letras, que é professora em Barra Velha, começou um trabalho sobre a origem da língua Pataxó e resgate de palavras para compor o vocabulário perdido nas primeiras décadas após 1500. Em 2006, ela fará oficinas de leitura e redação com alunos e professores em duas aldeias, a montagem de uma minibiblioteca e a preparação para a publicação de livros escritos por estudantes e professores.
A aluna de artes plásticas, professora em Coroa Vermelha, está realizando uma série de oficinas de qualificação do artesanato indígena Pataxó: pesquisa sobre pigmentos naturais, pintura, confecção de cerâmica e de caixas para embalagem. Já o estudante de agronomia, que é da nação Pataxó-Hãhãhãe, de Coroa Vermelha, pesquisa o resgate das ervas curativas usadas atualmente e as perdidas no tempo. Seu objetivo é criar um erbário nas aldeias e treinar pessoas do seu povo para o reconhecimento, coleta e secagem das ervas de uso medicinal. Outro projeto é o de identificação de plantas de condimentos e odoríferas da tradição cultural Pataxó-Hãhãhãe que podem resultar em atividade econômica e de sustentação das aldeias.
Tocantins – Na UFTO, o Prolind atende os 16 estudantes que ingressam no vestibular de 2005 na sede, em Palmas, e nos campi em Araguaína, Miracema, Gurupi, Tocantinópolis. Eles são dos povos Xerente, Apinajé, Carajá, Javaé, e Carajá-Xambioá e estão nos cursos de pedagogia, ciências e economia, direito, ciências contábeis, comunicação social, engenharia ambiental, administração de empresas, zootecnia, matemática, geografia, veterinária, história e agronomia.
De acordo com a coordenadora do Prolind na UFTO, Paulete Maria Cunha dos Santos, os estudantes indígenas estão trabalhando em dois projetos escolhidos pelas comunidades: um de revitalização cultural da língua Carajá-Xambioá e outro de educação ambiental. Ao final do projeto, que vai durar 14 meses, eles vão produzir um vídeo para registrar a experiência. No caso da revitalização cultural, as atividades de pesquisa são desenvolvidas em três aldeias e compreendem uma forte vinculação com os velhos, que ainda têm a memória da língua Carajá e com a escola, onde essa mesma língua será ensinada.
O resgate ocorrerá por meio da memória dos rituais das tribos e do artesanato, pois os integrantes do povo Carajá-Xambioá foram, no passado, grandes ceramistas da região do Tocantins. Para resgatar a língua, que hoje ocupa o segundo lugar nas falas das aldeias – a primeira é o português –, as mulheres que dominam o idioma original decidiram se expressar somente nesta língua quando estiverem fazendo cerâmica. O objetivo é transmitir e fixar o Carajá-Xambioá.
A pesquisa sobre educação ambiental também está centrada na escola. Os alunos, informa a professora Paulete dos Santos, estão trabalhando com a comunidade sobre problemas como as queimadas, o desmatamento e os resíduos sólidos, especialmente garrafas e sacos plásticos, que constituem lixo de difícil degradação. Uma parte dos estudantes também vai se envolver na pesquisa sobre o capim dourado para conscientizar a comunidade sobre a importância e a necessidade do replantio. O capim dourado, nativo na área habitada pelos indígenas da nação Xerente, é matéria-prima para o artesanato feito pelas mulheres.
Repórter: Ionice Lorenzoni