Educar para transformar foi tema da Conferência de Intelectuais da África
A 2ª Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora (Ciad), realizada em Salvador (BA), entre os dias 12 e 15 deste mês, foi encerrada com a Declaração de Salvador, que indica diretrizes de uma política internacional capaz de tornar prioritário o desenvolvimento social e econômico de africanos e de afrodescendentes.
Os pontos principais do documento, produzido após cinco dias de debates, são: o crescimento da consciência de uma cidadania africana, com suas repercussões políticas, econômicas e culturais, é essencial para o renascimento africano; a diáspora africana é parte fundamental do patrimônio cultural e político do continente; ao valorizar a consciência africana, governos e sociedade civil estarão apoiando a superação das dificuldades das comunidades de afrodescendentes; e o desenvolvimento do continente africano será dinamizado por meio da contribuição da diáspora.
Entre as propostas ficou destacado o papel da União Africana na relação entre países da África e da diáspora e a criação do Centro Internacional da África e da Diáspora para ampliar a cooperação entre organizações e instituições acadêmicas, intelectuais e artísticas africanas e da diáspora para encorajar um pensamento africano mundial. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) foi convidada a incluir no seu programa e orçamento o apoio às propostas da Declaração de Salvador.
Diáspora – Pela primeira vez um país da diáspora africana – países com descendência de povos originários da África – organiza a Ciad. O Brasil foi o segundo anfitrião. Em 2004, a Ciad foi em Dacar, Senegal. A conferência no Brasil ocorre no momento de debate sobre a aprovação da lei que institui reserva de vagas em universidades para alunos de escolas públicas, negros e índios e a aprovação do Estatuto de Igualdade Racial. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, declarou apoio às propostas do congresso.
A 2ª Ciad reuniu mais de mil participantes. Intelectuais, autoridades e a sociedade civil debateram e discutiram parcerias e trocas de experiências em busca de soluções para problemas comuns. A conferência teve a participação de sete chefes de Estado e de figuras reconhecidas pelo trabalho em prol da paz e igualdade, como Stevie Wonder, um dos maiores nomes da música internacional e ativista da causa negra. Wonder cantou uma música feita para o evento e disse que aquele era um momento especial em sua vida. “Graças à música posso levar uma mensagem de paz às pessoas”, disse. Outra presença marcante foi a da queniana Wangari Maathai, primeira mulher africana a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 2004. Ativista ambiental, ela recebeu o prêmio pela luta em defesa do desenvolvimento sustentável, democracia e paz. O ex-senador, professor e fundador do Teatro Negro, Abdias do Nascimento, foi homenageado pelo presidente da República com a Ordem do Rio Branco, no grau de comendador, honraria dada por serviços prestados ou méritos excepcionais.
Um dos grupos debateu o tema Perspectiva da Juventude na África e na Diáspora com os expositores Elaine Cavalleiro, coordenadora-geral de Diversidade e Inclusão Educacional da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC); Vilma Reis, coordenadora executiva do Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceafro) da Universidade Federal da Bahia; Joe Jakes, da Universidade de Westminster, no Reino Unido; Bosco Prince Kanani, coordenador do Programa HIV-Aids na Caritas; Ibrahima Abdulla, do Furah Bay College, de Serra Leoa; e Nwaboku C. Nwabuno, da Universidade Federal de Lagos, na Nigéria.
Experiências – Foram relatadas experiências, pesquisas e sugestões na formação da identidade, educação e inclusão social dos jovens africanos e afrodescendentes. Houve um consenso para entender a juventude como liderança de hoje e não só do futuro. Joe Jakes falou da necessidade da escola ajudar na formação da identidade dos jovens incluindo a história da África na sua formação básica.
Eliane Cavalleiro revelou que no Brasil há a Lei nº 10.639/03 que incluiu a história e cultura da África e do afro-brasileiro no currículo escolar. O mesmo destaque foi dado ao acesso e permanência dos jovens afrodescendentes nas universidades. Também foram discutidos temas como globalização, arte e religião, produção de conhecimentos, ação afirmativa, economia, saúde, ciência e tecnologia, mídia, racismo, xenofobia e o poder do conhecimento.
Ivonne Ferreira