Aos 71 anos, mulher vence analfabetismo
Por machismo, dona Francisca dos Santos foi impedida de estudar. O pai não queria que ela escrevesse cartas para o namorado e achava que a alfabetização era desnecessária para as mulheres. Depois veio o marido e, mais uma vez, ela não pôde aprender a ler e escrever. “Ele achava que estudar era coisa de mulher sem-vergonha”, conta.
Ela precisou esperar mais de 60 anos para realizar o sonho de compreender o mundo. “Eu me sentia cega, sem entender os nomes das ruas, sem saber contar o meu próprio dinheiro”, relata. Hoje, aos 71 anos, ela é alfabetizada graças à ação do programa Brasil Alfabetizado em Macapá, capital do Amapá.
A história de dona Francisca se repete outras 27 mil vezes no Amapá. Esse é o total de adultos analfabetos do estado, o que corresponde a 7,23% da população adulta. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE), referente a 2005.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, está no Amapá para garantir a adesão do estado e dos municípios ao Plano de Metas do Compromisso todos pela Educação. Uma das diretrizes do compromisso é que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade. Se essa meta tivesse sido instituída antes, dona Francisca não precisaria ter esperado tanto para ter o direito de aprender a ler e escrever.
Antes de realizar seu sonho, ela teve que trabalhar para criar os seis filhos. O marido a deixou e ela criou os filhos trabalhando como empregada doméstica. Para ela, a maior felicidade que existia era acompanhar o desenvolvimento dos filhos nos estudos. Os seis são alfabetizados e quatro completaram o ensino fundamental. Um já está na faculdade. “Eu só tinha alegria quando via que meus filhos não teriam a mesma sorte que eu”, garante.
Ana Guimarães