Parcerias fazem a diferença na escola em Dourados
Dourados – Brincar de bola e ao mesmo tempo aprender a multiplicar, dividir e somar. Essa novidade foi idéia do estagiário Marcelo Alvares. Ele é estudante do quarto semestre de educação física de uma universidade particular em Dourados (MS), cidade distante 225 quilômetros de Campo Grande. Marcelo e outros sete estudantes universitários estagiam na Escola Municipal Professora Efantina de Quadros.
A brincadeira de Marcelo foi levada da teoria estudada na faculdade à quadra de esportes da escola. Funciona assim: os alunos formam duas colunas, uma de frente para a outra. Então, o estagiário elabora um problema que precisa ser resolvido a partir das contas matemáticas. “Por exemplo, pergunto quem é o aluno cuja posição na fila é igual ao resultado da soma de três mais dois, ou da multiplicação de um vezes cinco”, explica. Esse aluno, que representa o resultado da conta, pode propor uma brincadeira com a bola, mas antes os colegas precisam identificá-lo.
A direção da escola resolveu apostar nas parcerias com a comunidade para melhorar a qualidade do ensino e enriquecer os processos de aprendizado. Para os sete estagiários, a parceria é uma via de mão dupla e proporciona aprendizado mais eficaz, inclusive para eles. “Muitos universitários se formam sem saber se têm vocação para dar aula”, acredita Marcelo.
Os alunos de biologia Matheus Santos e Priscila Ribas também estão descobrindo as salas de aulas pela perspectiva do professor. Eles estudam na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e dão aulas de ciências – biologia, química e física – a estudantes de 5ª a 8ª série do ensino fundamental.
O estágio deles tem duração de três meses e inclui planejamento de aulas, observação dos professores da escola e regência, que é a prática como professor. “A gente observa os professores e vê o que poderia ser mudado. Aí, a gente tenta aplicar as mudanças quando damos aula para ver se dá certo”, explica Priscila. Segunda ela, a idéia é aprender e fazer críticas construtivas à equipe escolar a um só tempo.
Priscila e Matheus se deram conta de que há um ponto em comum entre turmas de diferentes faixas etárias. “Durante a explicação, vimos que interagir com os alunos desperta a atenção deles”, conta Priscila. Então, para ensinar conceitos de física, ela e o colega dão como exemplo aspectos ligados ao universo dos estudantes. “Com o jogo de futebol, por exemplo, dá para ensinar conceitos de força, trabalho e velocidade. Daí, eles percebem que o ensino está presente no dia-a-dia e não é só teoria.”
Já Marcelo aprendeu na disciplina recreção, na faculdade, que alunos de 1ª a 4ª série ainda precisam desenvolver o equilíbrio e a coordenação motora e que o ideal para esse segmento é atrelar exercícios físicos a brincadeiras. Para estimular o equilíbrio, Marcelo usa algumas atividades lúdicas. “Em uma delas, os meninos se sentam em fila e vão passando a bola para trás, de um para o outro”, exemplifica. O estagiário explica que essa brincadeira prioriza não só o equilíbrio, mas o espírito de grupo e garante que os alunos se divertem.
As parcerias com duas universidades particulares, uma estadual e com a UFGD começou há dois anos. A diretora da escola, Marli Viegas Machado, acha que o colégio só ganha ao receber os estagiários. “O tema da nossa gestão é a gestão democrática. A gente quer o envolvimento com universidade e com vários setores da comunidade”, diz.
A boa iniciativa coloca em prática uma das ações previstas no plano de metas do Compromisso Todos pela Educação, em que a escola precisa firmar parcerias externas à comunidade escolar, visando à melhoria da infra-estrutura ou à promoção de projetos socioculturais e ações educativas. Ao assumir o compromisso com o Ministério da Educação de melhorar a qualidade do ensino, os governantes se comprometem a seguir as 28 metas previstas no plano. Na escola Efantina de Quadros, as parcerias ajudam a elevar a qualidade do ensino, que hoje é exemplar. O desempenho da escola no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é 4,1 – a média brasileira é 3,8.
Outras parcerias – Além das universidades, outras instituições ajudam a escola na tarefa de formar e ensinar alunos e até os pais. A seção estadual da Ordem dos Advogados do Brasil promove palestras semanais sobre temas como direitos do consumidor, cidadania, gravidez na adolescência e o Estatuto da Criança e do Adolescente. O instituto municipal do meio ambiente explica sobre reciclagem do lixo, arborização, como fazer uma horta e sobre a recuperação de nascentes. Já a igreja adventista organiza acampamentos nos finais de semana para discutir boas maneiras e bons princípios. E a guarda municipal vai à escola para esclarecer dúvidas sobre o sistema de trânsito.
Maria Clara Machado