Matemática ajuda aprendizado no DF
A professora Erondina Barbosa da Silva é famosa dentro e fora do Centrão, escola pública do Distrito Federal, na qual leciona matemática há dois anos. Ela diz que isso é resultado do trabalho e do prazer de ensinar, mas os alunos garantem que é pelo “jeitinho” dela.
Pelos corredores do Centro Educacional nº 3, na cidade do Guará II, Distrito Federal, circulam muitos elogios de alunos que aprenderam matemática. “Até na hora de brigar, ela é divertida”, diz um estudante, correndo para a aula. Os resultados da escola aparecem na Prova Brasil, avaliação do Ministério da Educação que mede o aprendizado de alunos da quarta e da oitava séries, nas disciplinas de português e matemática.
A média da escola em matemática é 274,71 — a nacional, de 241,17. Por isso, o Centrão foi uma das 33 escolas escolhidas pelo Fundo das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unicef) no estudo Aprova Brasil, que identificou boas práticas educacionais nas escolas públicas.
A professora Erondina relaciona o sucesso da escola à mudança de estratégia no ensino e na comunicação com os alunos. ”Percebi que eles precisam enxergar a aplicabilidade da matemática no cotidiano”, diz. E a tradição do Centrão ajudou a concretizar o conceito. A escola desenvolve projetos que aprofundam os conhecimentos sobre um determinado tema. Durante todo este ano, os 1.480 alunos da sétima e oitava séries e do ensino médio estudaram as causas e soluções possíveis para o aquecimento global.
O projeto de pesquisa se transformou em ação. Enquanto os estudantes do ensino fundamental montaram uma horta com plantas medicinais e verduras, os do ensino médio construíram uma sala ecológica, que será transformada em laboratório de ciências. “Para construir uma casa ou uma horta, os alunos aplicam a matemática em um projeto palpável”, explica Erondina. E foi assim em todas as disciplinas. Dentro da sala de aula, no estudo da língua portuguesa, foram analisados textos sobre o tema, enquanto nas aulas de história os alunos estudaram as causas do aquecimento.
Equilíbrio — Erondina procura se atualizar sobre os interesses dos alunos fora da escola. “Tenho preocupação em envelhecer como professora, ficar chata para os alunos. Mas aprendi que é possível equilibrar autoridade com jovialidade”, explica.
Os alunos, segundo a professora, recebem muitas informações ao mesmo tempo. Por isso, é preciso estar atenta e próxima da linguagem dos jovens. “Tenho uma página em um site de relacionamentos e converso on-line com meus alunos”, diz. A recepção é imediata. Na página eletrônica de Erondina aparecem muitos depoimentos de alunos e ex-alunos. Declarações de admiração são corriqueiras, mas o que mais aparece é o reconhecimento da função de professora.
Carolina Rodrigues, aluna do ensino fundamental, despediu-se do ano e da professora. Em 2008, não será aluna de Erondina. No recado, fez um balanço do ano, baseado nos conselhos que recebeu: “Eu pensei e percebi que poderia ter sido melhor este ano. E tudo o que ela me disse, desde os puxões de orelha quando não estudo, é mais um tijolinho para construir meu futuro”.
Matemática — Erondina sempre soube que seria professora de matemática. Entrou na escola já fazendo contas. “Aprendi as quatro operações em casa”, conta. Ela foi alfabetizada pelo pai, dono de mercearia. A paixão dele pela matemática a encantou. “Já na quinta série, eu sabia que ia ser professora de matemática.”
Agora, com mestrado em educação matemática e pensando no doutorado, Erondina confirma o que sempre sonhou. “É a atividade da docência que me encanta. Adoro estar em sala de aula.”
Manoela Frade