Enade mostra desempenho semelhante entre ingressantes e concluintes
Em termos de conhecimento geral, a diferença é pequena entre quem entra e quem sai de cursos de graduação, em 13 áreas avaliadas
Os resultados do primeiro Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), instrumento do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), mostram que, nas 13 áreas do conhecimento submetidas ao exame em 7 de novembro de 2004, há uma diferença muito pequena de desempenho dos estudantes ingressantes e concluintes na parte de Formação Geral (a prova teve 10 questões de Formação Geral e 30 de Componentes Específicos da área).
O Enade foi aplicado em todo o País em cursos das áreas de Agronomia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Zootecnia. Participaram grupos de estudantes desses cursos, selecionados por amostragem, em momentos distintos de sua formação. Um grupo, de ingressantes, era composto de alunos no final do primeiro ano. Outro, de concluintes, contava com estudantes do último ano cursado. Os dois grupos foram submetidos à mesma prova, possibilitando, pela primeira vez, avaliar o desempenho como um todo, desde a entrada até a saída do estudante do curso de graduação, diferentemente de como ocorria no Exame Nacional de Cursos (ENC), que aplicava somente um teste aos concluintes.
A região Sudeste concentrou a maioria dos cursos avaliados em 2004, em todas as 13 áreas e a maioria absoluta em dez delas - um total de 51,8% dos 2.184 cursos. O Sul contabilizou 20,5%; o Nordeste, 14%; o Centro-Oeste, 8,7%; e o Norte, 5%. A grande maioria desses cursos (73,8%) é de instituições privadas. As federais somaram 13,5%; as estaduais 10%; e as municipais 2,7%. As universidades oferecem o maior número de cursos (58,2%), seguidas das faculdades (16,7%) e dos centros universitários (15,2%).
Dos 2.184 cursos, 1.427 receberam conceitos, isso porque muitos cursos ainda não tinham concluintes ou por outros motivos. Os conceitos, divididos de 1 a 5, de acordo com as notas, foram calculados com base em três termos: o desempenho dos concluintes no componente específico da área, dos ingressantes no componente específico e o de ingressantes e concluintes na Formação Geral. O componente específico teve 75% do peso na composição do conceito e o de formação geral, 25%. Ainda, no componente específico, o desempenho dos ingressantes teve peso de 15% e o dos concluintes, de 60%.
A maioria dos 1.427 cursos conceituados se concentrou nos conceitos intermediários, 3 (565 cursos) e 4 (564 cursos), perfazendo 39,5% do total, cada um desses. No conceito mais baixo, o 1, ficaram 33 cursos (2,6% do total). No 2, 115 cursos (8%) e, no 5, 150 (10,5%). Um percentual de 10,6% dos cursos ficou com conceitos 1 e 2; 39,5% com 3; e 50% com 4 e 5. As instituições privadas concentraram o maior número de cursos com os conceitos mais baixos. Foram 104 dos 148 de todo o País (70,3%). Entre os cursos com os melhores conceitos (4 e 5), 203 dos 714 cursos são de instituições federais (28,4%) e 373, da rede privada (52,2%). As federais lideram no conceito mais alto (o 5), com 57% dos cursos. As instituições privadas têm apenas 18%.
Em termos de distribuição dos conceitos por área, Odontologia e Medicina são as que possuem o menor número de cursos com conceitos baixos. Estão no 1 e, no 2, 0,8% dos cursos de Odontologia e 1,1% dos de Medicina. Já em Serviço Social, esse percentual chega a 29% e em Zootecnia alcança 34,3%, as mais altas concentrações de cursos com os menores conceitos. A média nacional é de 10,6% dos cursos nessa faixa. As áreas de Terapia Ocupacional (88,9%) e Odontologia (89,8%) têm, respectivamente, as maiores concentrações de cursos nos conceitos altos (4 e 5). Fonoaudiologia (21,1%) e Fisioterapia (21,4%) têm os menores índices de conceitos 4 e 5.
Estão localizados no Nordeste 45,7% dos cursos que obtiveram conceito 4 e 13,6% dos que têm o 5. Ao mesmo tempo, essa é a região com o maior percentual de conceitos baixos: 5,4 no 1 e 11,4% no 2, o que demonstra uma grande polaridade. A região Sul tem o segundo maior percentual de cursos com conceitos 4 (37,7%) e 5 (10,3%). O mais baixo desempenho é o do Centro-Oeste. A região tem 5,2% de seus cursos com conceito 1, 13,8% com conceito 2 e apenas 7,8 com conceito 5. Por organização acadêmica, as universidades concentram 13,8% dos conceitos 5 e os centros universitários 1,8%.
A distribuição dos conceitos por categoria administrativa mostra que as instituições públicas não só têm os maiores percentuais de conceitos altos (4 e 5), como têm percentuais muito superiores aos das privadas. Nas IES estaduais e federais os percentuais de conceitos altos chegam a cerca de 78,0%, enquanto nas instituições privadas este percentual fica em torno de 38,0%, menos da metade. O Relatório de Conceitos (a tabela com os conceitos de todos os cursos), estará disponível na Internet (www.inep.gov.br), por ordem alfabética de instituições. O Relatório do Aluno está sendo enviado ao aluno. Além desses, há ainda um Relatório de Área, para pesquisadores que queiram se aprofundar sobre o desempenho de cada área, o Técnico-científico e o Relatório do Curso (que vai para o coordenador do curso).
Desempenho na Formação Geral
O Relatório Técnico, elaborado pela Diretoria de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior (Deaes), traz dados surpreendentes no que se refere à parte de Formação Geral, da prova. Os 140.340 estudantes (83.661 ingressantes e 56.679 concluintes) tiveram desempenho bastante próximo, mostrando pouca alteração em sua trajetória dentro da graduação. Isso significa que a universidade não trouxe uma grande ampliação do conhecimento geral a esses alunos, acrescentando apenas na parte específica de cada área.
Em Medicina e Terapia Ocupacional, o desempenho de ingressantes e concluintes em Formação Geral é praticamente o mesmo. Mais surpreendente ainda, conforme o diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior, Dilvo Ristoff, é constatar que, em 17% dos cursos, os ingressantes tiveram desempenho igual ou superior à média de desempenho dos concluintes. "Em Medicina, este foi o caso em 40 dos 89 cursos avaliados, ou seja, em 44,9% do total dos cursos a área", comenta o professor. Os resultados do exame podem ser considerados bastante próximos da realidade, afinal, os 143.170 estudantes selecionados no processo de amostragem realizado pelo Inep representam 250.287 estudantes habilitados a participarem do Exame, mais da metade do universo total.
"O que podemos constatar é que, nesses casos, a educação superior brasileira está formando mais o sentido técnico, específico do que o cidadão, imprescindível para uma vida preocupada com as questões humanas e sociais. Em segundo lugar, se demonstra com esses resultados, obtidos pela primeira vez, a enorme superioridade do Sinaes com relação ao ENC", avalia o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Eliezer Pacheco. É a primeira vez que se inclui este tipo de questão em uma avaliação da educação superior no Brasil.
As mais altas médias de desempenho na Formação Geral estão tanto no Sul (38,2) e no Nordeste (37,1). Ambas as regiões ficam acima da média nacional, que é de 36,5 pontos. O Norte teve média 33,6, o Sudeste 36,9 e o Centro-Oeste, 36,0. O Sul também mostra o melhor desempenho em oito das 13 áreas avaliadas, o Nordeste em duas, o Sudeste em uma e o Centro-Oeste em duas.
As Ifes superam a média nacional em todas as 13 áreas, as estaduais em dez, municipais em duas e as privadas em apenas uma. Para se ter uma idéia dessa diferença, o desempenho médio dos estudantes das federais ficou em 45,9 pontos; nas estaduais, 40,5; nas municipais, 34,8; enquanto que nas privadas foi de 35,1, abaixo da média geral (36,5) e mais de dez pontos percentuais menor que nas federais. Os números demonstram uma significativa diferença na Formação Geral nas instituições federais, muito superiores, por exemplo, às instituições privadas.
Desempenho em Formação geral | ||
Área | Ingressantes | Concluintes |
Agronomia | 33,6 | 40,8 |
Educação Física | 29,4 | 34,8 |
Enfermagem | 33,5 | 39,7 |
Farmácia | 35,4 | 42,5 |
Fisioterapia | 37,8 | 44,6 |
Fonoaudiologia | 37,3 | 43,4 |
Medicina | 53,5 | 56,3 |
M. Veterinária | 36,0 | 42,7 |
Nutrição | 32,8 | 39,7 |
Odontologia | 39,8 | 46,0 |
Serviço Social | 24,7 | 28,1 |
Ter. Ocup. | 37,4 | 40,6 |
Zootecnia | 37,7 | 43,2 |
Fonte: MEC/Inep |
Desempenho na parte específica
Nas questões específicas das áreas, o desempenho médio também não foi muito alto e apresentou, em alguns casos, semelhanças entre ingressantes e concluintes. No curso de Serviço Social, por exemplo, a média dos que estão entrando foi de 17,5 pontos. Os concluintes ficaram em 26,6. Estudantes ingressantes na Educação Física tiraram em média 23,8, enquanto que os que acabaram de fazer a faculdade somaram 33,8. A Odontologia é o curso que mostra o maior aumento de desempenho no componente específico: de 21,4 entre os ingressantes para 55,2 pontos, 162%.
Das 13 áreas de conhecimento, as federais foram melhor em 10, as estaduais, municipais e privadas em uma cada. Entre os tipos de instituições de ensino superior, o destaque é para as universidades, melhores em sete áreas, seguidas pelas faculdades integradas (superiores em cinco áreas) e os Centros de Educação Tecnológica (uma área). Os centros universitários, faculdades isoladas e escolas não tiveram desempenho médio superior em nenhuma área. Assim como ocorreu na parte de Formação Geral, a região Sul teve melhor desempenho em oito áreas. O Nordeste e Sudeste em duas cada, o Centro-Oeste em 1 e o Norte em nenhuma.
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Área | Ingressantes | Concluintes |
Agronomia | 28,7 | 51,0 |
Educação Física | 23,8 | 33,8 |
Enfermagem | 27,3 | 42,0 |
Farmácia | 22,3 | 33,2 |
Fisioterapia | 27,1 | 43,9 |
Fonoaudiologia | 41,9 | 66,8 |
Medicina | 19,6 | 47,2 |
M. Veterinária | 17,6 | 41,9 |
Nutrição | 20,3 | 42,2 |
Odontologia | 21,4 | 55,2 |
Serviço Social | 17,5 | 26,6 |
Ter. Ocup. | 43,8 | 53,3 |
Zootecnia | 30,8 | 49,6 |
Fonte: MEC/Inep |