Professores de universidades aprovam sistema de cotas
Mais de 50% dos professores de quatro universidades públicas aprovam o sistema de cotas raciais e sociais para ingresso de alunos nas instituições. Entre aqueles que já deram aula para cotistas, o índice sobe para 66%. Os dados são da pesquisa Três Anos de Cotas realizada pelo Programa Políticas da Cor, do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), entre outubro de 2005 e fevereiro de 2006.
A pesquisa envolveu 558 professores dos cursos de direito, engenharia civil, medicina, história e pedagogia das universidades federais de Alagoas (Ufal) e de Brasília (UnB), além das estaduais da Bahia (Uneb) e do Rio de Janeiro (Uerj). Os professores responderam questionários sobre nove pontos, desde a avaliação do sistema de cotas, convívio inter-racial na universidade, posição quanto às cotas raciais e sociais até o desempenho dos alunos. As instituições que participaram da pesquisa têm o sistema de cotas há três anos. Dados da Secretaria de Educação Superior do MEC (SESu), relativos a abril deste ano, indicam que 22 universidades federais e estaduais trabalham com percentuais de cotas em seus vestibulares.
Mais da metade dos entrevistados, 52%, se declarou a favor das cotas, mas os índices são diferentes entre os professores das instituições. Na Uneb, 73% são favoráveis e na Ufal apenas 35%. Entre os professores que já deram aula para cotistas – 45% dos entrevistados –, o percentual a favor aumenta para 66%. Em relação à pergunta sobre racismo na universidade, 46% dizem que existe. O percentual sobe para 53% na UnB e cai a 35% na Uerj.
Para o secretário de Educação Superior e ministro da Educação interino, Nelson Maculan Filho, ao dar pontos à reserva de vagas nas universidades públicas e ao avaliar positivamente o desempenho dos alunos, os professores confirmam que o governo federal agiu corretamente ao abrir a discussão sobre a política de cotas raciais e sociais. A divulgação da pesquisa, diz, recoloca o debate nas ruas sobre a importância da aprovação do projeto de lei das cotas (PL 73/99) que tramita no Congresso Nacional.
Desempenho – Os melhores índices da pesquisa nas quatro universidades estão no desempenho dos cotistas. Dos 251 professores da mostra que já deram aula para cotistas, 74% disseram que o desempenho dos alunos é bom ou muito bom. Mas a pesquisa constatou variações destes conceitos: na UnB e Uneb é de 75%; na Uerj, 65%; e na Ufal, 50%. O desempenho ruim obteve 6% e o regular, 19%. Quando a pergunta dizia respeito à cor dos estudantes, 87% dos professores disseram que o aproveitamento bom ou muito bom é comum a alunos negros e brancos.
Na avaliação do sistema de cotas, 80% dos professores responderam que o nível acadêmico da instituição continuou igual, 10% disseram que melhorou e os outros 10%, que piorou. Em relação à possibilidade de adoção, pelas universidades, de um sistema de cotas raciais e sociais na graduação nos próximos anos, 37% dos professores se manifestaram favoráveis a que todas devem adotá-lo; 27% que apenas as instituições que desejarem; e menos de 37% se opuseram. Já as cotas na pós-graduação têm menos apoio: 28% são favoráveis, 56% são contra e 16% não têm posição. Neste quesito, o maior percentual de apoio vem dos professores da Uneb (42%).
Dos professores que participaram da pesquisa, 57% são homens e 47% mulheres, 71% são brancos, 20% pardos, 6% pretos e apenas oito indígenas e quatro da raça amarela. Quanto à titulação, 47% são doutores, 9% estão em cursos de doutorado, 26% são mestres, 8% cursam mestrado e 10% não têm e não cursam mestrado. Na distribuição dos cursos, 109 lecionam na área de direito, 92 engenharia civil, 104 história, 98 medicina e 155 pedagogia.
Repórter: Ionice Lorenzoni